https://www.publico.pt/2017/10/08/mundo/opiniao/perigos-catalaes-1788046
o seguinte texto:
"PERIGOS CATALÃES
Os independentistas propõem a evolução constitucional da Espanha para uma
confederação hispânica, que pode estimular as correntes iberistas tanto na
Espanha, como em Portugal.
8 de Outubro
de 2017, 7:30
A
estratégia de golpe constitucional da Generalitat, que queria transformar o
referendo de autodeterminação no momento histórico que tornaria irreversível a
independência da Catalunha, falhou rotundamente.
As condições de sucesso de uma Declaração Unilateral de Independência
dependiam, por um lado, do reconhecimento da farsa eleitoral e, por outro lado,
da transição pacífica da Catalunha do estatuto de comunidade autónoma do Reino
de Espanha para o de Estado membro da União Europeia. Nenhuma das duas
condições se pôde realizar.
Por certo, as autoridades catalãs conseguiram provocar as autoridades
centrais, que impediram pela força bruta a realização do referendo
expressamente proibido pelos tribunais espanhóis. Mas ninguém, excepto os
próprios, reconheceu a validade dos resultados e, pelo contrário, todos puderam
constatar que a Generalitat desdenha igualmente a lei e os procedimentos
democráticos. Mais importante, ficou claro que nenhuma democracia europeia
estava preparada para legitimar um referendo inconstitucional: o pedido de
mediação da União
Europeia, formulado pela Generalitat, só foi secundado pelo Lendakari basco.
O domínio do movimento nacionalista na Catalunha pelas correntes
republicanas esquerdistas representa um perigo para a Espanha, para a
estabilidade peninsular e para a União Europeia.
É impossível desvalorizar a seriedade da crise na Espanha. Desde logo, a
radicalização dos nacionalistas catalães acentua as divisões internas na
Catalunha, não só entre os partidários da independência e os defensores da
unidade da Espanha, mas também nas fileiras nacionalistas, onde os partidários
da legalidade democrática têm de enfrentar os defensores da insurreição
separatista. Por outro lado, a escalada dos separatistas provoca uma
polarização que divide os partidos nacionais e paralisa as correntes moderadas.
O Partido Popular (PP), assim como o Ciudadanos, representam uma linha de
intransigência legalista que sustenta a radicalização dos independentistas
catalães apoiada pelo Podemos e torna impossivel um tratamento político das
divergências entre o Governo central e a Generalitat. Por último, o
prolongamento do impasse e a tentativa de criar duas legitimidades territoriais
opostas estão na origem de uma crise constitucional que reclama a
reconstituição dos consensos entre os principais partidos, nomeadamente entre o
PP e o Partido Socialista (PSOE), indispensáveis para restaurar a normalidade
democrática na Espanha.
A crise constitucional e a radicalização dos independentistas perturba a
estabilidade peninsular. A democracia portuguesa não é indiferente à escalada
das tensões entre as autoridades centrais e as correntes separatistas, onde
está em causa a configuração política da Península Ibérica.
Os independentistas propõem a evolução constitucional da Espanha para uma
confederação hispânica, que pode estimular as correntes iberistas tanto na
Espanha, como em Portugal, e adicionar às dinâmicas de fragmentação as
estratégias de integração peninsular. Ambas as tendências prejudicam os
interesses portugueses, que só podem ser garantidos no quadro do status
quohistórico em que assenta a dualidade peninsular.
A crise espanhola serve para demonstrar que a crise europeia ainda não
chegou ao fim. Depois do "Brexit", a revolta da Catalunha confirma a
força da ressurgência dos nacionalismos na politica europeia, no primeiro caso
para fracturar a União Europeia, no segundo para ameaçar romper a Espanha. As
tendências de fragmentação põem em causa o estatuto de dois grandes Estados
históricos indispensáveis para garantir a projecção da Europa na competição
internacional.
O Conselho Europeu tem a obrigação de intervir decisivamente para
clarificar a sua posição sobre o direito de autodeterminação nacional na União
Europeia. O consenso internacional limita o direito à independência aos casos
dos territórios não-autónomos e das comunidades cujos direitos são usurpados e violados
por regimes autoritários: a Catalunha não é nem o Timor-Leste, nem o Kosovo.
Nesse contexto, os processos de autodeterminação da Catalunha ou da Escócia têm
de se subordinar às regras constitucionais que imperam na Espanha e no Reino
Unido. No mesmo sentido, o Conselho Europeu deve reiterar que os novos Estados
têm sempre de se submeter a um processo de adesão ex novo, com
todas as suas consequências, incluindo a possibilidade da sua entrada na União
Europeia ser vetada por um Estado membro. A questão da Catalunha tem de ser resolvida pela democracia espanhola. O
impasse criado exige que se realizem eleições gerais para as instituições
legítimas poderem procurar as fórmulas indispensáveis para ultrapassar os
conflitos políticos internos e restaurar os consensos constitucionais."
unquote
Era para dedicar um pouco de tempo meu a desmontar toda a argumentação de Carlos Gaspar. Não o vou fazer pois encontrei neste mesmo PÚBLICO na edição de 10 de Outubro, um outro texto da autoria de Paulo Rangel onde está lá tudo de uma maneira séria!
No entanto o meu lado brincalhão não resiste a perguntar ao Sr. Carlos Gaspar em que rotundas de Barcelona é que o referendo de autodeterminação falhou "rotundamente". ( ver segundo parágrafo do seu texto)
- Não teria sido nas rotundas onde a guarda civil impediu, pela força, os catalães de votarem?
- E só nas rotundas???
Nos largos - largamente!
Nas ruas - arruadamente!
Nas avenidas - avenidamente!
Nos sítios - sitiadamente
E etc.
tone do moleiro novo I - O Chato
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