A
Via Sacra de Areosa
( Conforme Publicado na A Aurora do Lima, edição de 22 de Fevereiro de 2018)
Este texto não se
propõe desmerecer a memória de
Figueiredo da Guerra (F.G.) nem a desmerecer as memórias que F.G. ajudou a
preservar com o seu persistente trabalho de investigador e guardador de
documentos ( … grande memorialista… no conceito de Rosa Araújo ). Apenas e só,
comentar as consequências de uma imprecisão já demonstrada por França
Amaral no FALAR DE VIANA de 2015 pgs. 311 a 313 e nos CADERNOS VIANENSES de 2017 pgs. 171 a
232.
Tudo começou com um
texto publicado pelo Tenente Coronel Cunha Brandão, de Paredes de Coura, publicado
na A Aurora do Lima em 14 de Agosto
de 1918 intitulado A quebra das Cruzes da Via Sacra de Areosa. Este texto, apoiado nos
documentos encontrados no Códice nº 729 da Secção de Manuscritos da Biblioteca
Nacional de Lisboa, referia-se ás cruzes de uma Via Sacra de Areosa aparecidas
quebradas na madrugada de 10 de Outubro de 1729 e logo denunciado à Inquisição
de Coimbra pelo pároco ( de Areosa) Francisco Vieira Guedes. A demanda
prolongou-se por 1732, 37 e 38. Sempre segundo Cunha Brandão.
Dez anos depois, em 18
de Agosto de 1928 e na mesma A Aurora do Lima, Figueiredo da Guerra teve o cuidado de corrigir
Cunha Brandão sem que se conheçam agora as suas motivações para tal e publicou
por sua vez um texto intitulado As
cruzes da Senhora da Agonia. Dizia Figueiredo da Guerra que o
titulo que Cunha Brandão tinha dado à noticia, A quebra das Cruzes da Via Sacra de Areosa, era inexacto. Assim
remeteu, F. G. essa tal destruição, para as Cruzes da Via Sacra que vinda de
Santo António rodeava a ermida de Nossa Senhora da Penha de França e terminava
na chamada Capela do Bom Jesus da Via Sacra
( Sra. D’Agonia) superintendida
pela Ordem Franciscana. Fazendo considerações à Casa da Via Sacra dos Figueiredo
da Guerra, à Cancela de Areosa e à Guarda Republicana.
Esta Via Sacra,
levantada no ano de 1670 por influência do Venerável Frei António das Chagas,
fundador do Mosteiro do Varatojo, encontra-se
perfeitamente identificada e lineada na carta, Planta de Vianna Barra e Castello feita em 1756 acrescentada na cerca
do Convento dos Crúzios em 1758 existente na Biblioteca Pública Municipal
do Porto que por sua vez terá sido antecedida por uma outra existente na Sociedade de Geografia de Lisboa, Planta da
Villa de Vianna e sua Barra e Castello onde também se pode observar o trajecto de tal
Via Sacra.
Acontece que Rosa Araújo
da sua Memória da Capela de Nossa Senhora da Agonia (1963) a pgs. 8 e 9 insere, no seu trabalho, esse
mesmo texto de F. G. sem qualquer outro acrescento, a não ser uma nota a pgs. 9
mas sem beliscar o escrito de F.G.
Mais tarde A Falar
de Viana em 1998, pgs. 192, viria a
republicar o texto de F.G. intitulando As
Cruzes da Senhora D’Agonia. E o mesmo A
Falar de Viana repete essa
republicação em 2005, pgs. 53, 54, e
55 com o mesmo título, mas desta vez remetendo também para José Rosa de Araújo.
Mas, mais recentemente,
França Amaral fez uma leitura cuidada desse tal Códice nº 729 onde pode
verificar que a tal via sacra era mesmo a Via
Sacra de Areosa e que Cunha Brandão não tinha publicado qualquer
imprecisão. Esse esclarecimento foi feito no A Falar De Viana de 2015 pgs 311 e 313. E já nos Cadernos Vianenses 2017 pgs. 171 a 232 França Amaral faz publicar a leitura dos
próprios documentos constantes no tal Códice 729.
Ou seja F.G., com o que
publicou em 1928, induziu em erro tanto Rosa Araújo ( cujo apreço por FG o leva a considera-lo … grande memorialista…), como
as citações posteriores.
Este equivoco, como lhe
chamou França Amaral, poderia resultar de F.G. apenas conhecer a tal Via
Sacra vinda de Santo António e suas circunstâncias, mas o que não se entende é
o período final de F. da G. em 1928:
“O douto courense Cunha Brandão, desconhecendo tais
particularidades, confundiu os factos que nós sobejamente sabemos por nascermos
neste sítio e nele morarmos, possuindo mesmo os respectivos documentos”
Que demonstra que F. G ,
ou não leu os documentos que diz possuir
ou, tendo-os lido, teve uma qualquer insondável necessidade de contraditar o
seu …erudito
amigo Tenente Coronel Cunha Brandão… passados dez anos que foram de
1918 a 1928 e já depois da morte deste, evitando assim qualquer reacção da
parte do … douto courense...!
Episódios como este
terão levado Almeida Fernandes a considerar
que F.G. … emitiu várias vezes opiniões
sem fundamento ou totalmente erradas
embora o faça em regra sem qualquer signo de dúvida… (Ver A. F. - COMO
NASCEU VIANA-1959 Capitulo V – REFUTAÇÕES A J. CALDAS. F. DA GUERRA E A. SAMPAIO a pgs. 33)
E aos citadores,
actuais e vindouros, aconselho a que exerçam um salutar criticismo mesmo quando
enfrentam Almeida Fernandes. Ele próprio, num exercício de elevação intelectual
aliás, pôs em causa algumas das suas conclusões.
E, para ter assunto na
próxima, mais não digo!
lopesdareosa