quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Recandidaturas

Já agora aqui vai um texto publicado na A AURORA DO LIMA em 13 de Janeiro de 2006

O Grande Mistificador.

Não! Não se trata de uma qualquer obra de Dali. Se o fosse, no surreal, seria uma obra de arte. Mas como tudo se passa no real é apenas tosco. Uma coisa mais no estilo Pedro Macau.
Isto a propósito, embora assim não pareça, de três notícias vindas a público nestes últimos dias.
- Que a população portuguesa se concentra cada vez mais no litoral do país.
- Que, devido ao despovoamento, a desertificação ameaça já um terço do território nacional.
- Que o mundo rural vai receber, da União Europeia,  7 980 milhões de Euros (mil e    seiscentos    milhões de contos!) entre 2007 e 2013, para financiamento de programas de    desenvolvimento    rural e da agricultura propriamente dita.
Ora o descalabro do Ordenamento do nosso País não é de agora nem é coisa que não tivesse sido prevista e para o qual não tivessem alertado observadores e especialistas aquando da nossa adesão à CEE. Mesmo antes e durante. Basta-me citar o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles para nele personalizar todos aqueles que sempre se manifestaram para a necessidade de enquadrar os favores desta nova era, em grandes objectivos nacionais.
Mas aquando da organização territorial e para “sacar” os dinheiros da CEE – ditos fundos estruturais e de coesão – prevaleceu o velho conceito de que Portugal é Lisboa e o Resto Paisagem.
Os fundos comunitários destinavam-se a puxar pelas regiões mais atrasadas e conseguir a coesão entre todo o território. E no acesso a esse auxílio financeiro o principal critério para se considerar uma região habilitada ao objectivo n.º1 dos fundos estruturais era de que essa região não tivesse atingido o tecto de 75% da média europeia medida em termos do Produto Interno Bruto per capita.
Assim sendo a única região do país que à data já tinha atingido esse patamar era precisamente a região da Grande Lisboa o que, por si só, a deixava já de fora dos apoios referentes a esse objectivo nº.1. Lembremo-nos que estamos a falar de 1985/1986 data da nossa entrada na CEE e lembremo-nos de qual o ciclo político que se iniciou nessa mesma data.
Já então e no dia 2 de Janeiro de 1986, o DIÁRIO DE LISBOA dizia em letras garrafais: 
“CEE: ACTO DE FÉ – O barco já está a andar, falta saber para onde” 
De facto era tudo uma questão de rumo. Tínhamos timoneiro ( dizia-se!) Os fundos da CEE iriam entrar ás “pazadas” e a estabilidade política foi garantida a partir daí, com duas maiorias absolutas consecutivas.
-Então o que é que correu mal?
Voltemos a Lisboa. Dado que a região por si só já não justificava o acesso aos tais fundos de coesão os nossos exemplares estrategos tiveram uma ideia genial. Resolveram criar a Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) compreendendo o Distrito de Lisboa, o Distrito de Santarém quase todo, cerca de metade do distrito de Setúbal e cerca de um terço do Distrito de Leiria.
– Sabem porquê?
- Porque como os índices dessas regiões eram de tal forma abaixo dos tais 75%,   fizeram    baixar o da novel região na sua globalidade permitindo a Lisboa ter acesso a fundos que não teria    se considerada isolada. Ou seja meteram Lisboa com o seu avanço no mesmo saco dos    Concelhos periféricos mais carenciados. Digam lá se não foi brilhante a ideia.
– Sabem o que aconteceu??
- Nos anos subsequentes Lisboa acabou por beneficiar de um caudal de investimentos – num    escalão ao qual não deveria ter acesso -  ainda por cima canalizados de uma forma    desproporcional e em  detrimento das restantes sub-regiões.   - Sabem o que aconteceu?
- A Grande Lisboa andou de tal forma para a frente que aí o  índice do PIB per capita se afastou    dos  tais 75% e pesou de tal maneira no conjunto que o próprio índice global da RLVT subiu    acima  desses mesmos 75%. E se tudo ficasse na mesma, a Região  já não teria acesso aos tais    fundos do 1º Objectivo, nos novos quadros comunitários de apoio.  O que deixaria de fora as    sub-regiões   periféricas discriminadas e que foram ficando para trás.
– Sabem o que aconteceu???
- Os tais estrategos, em 2002, extinguiram a Região de Lisboa e Vale do Tejo e os municípios    inicialmente integrantes nesta, foram distribuídos pela Região Centro e o Alentejo, para que, os    Concelhos que dentro da tal RLVT serviram de capacho ao desenvolvimento Lisboeta,    continuassem a receber os tais apoios ao nível do 1º Objectivo.
Digam lá que não foi brilhante. Esperteza saloia elevada à condição de Estratégia de Estado diria eu! Mas tais cabeças iluminadas ainda hoje se consideram os maiores.
Alarmam-se agora com todos os desequilíbrios estruturais de que Portugal sofre como se não houvesse responsáveis. Os tais fundos de coesão foram utilizados precisa e deliberadamente em sentido contrário.  
Isto tudo a propósito da candidatura Cavaco Silva à Presidência da República em cuja campanha   este, por vezes diversas, se tem  enfadado com o avivar das memórias argumentando que o que interessa é a acção futura. Ora  ao contrário daquilo que pretende, o passado conta pois quando nos apresentamos a um cargo pedem-nos o currículo.
E o que é que Cavaco deixou depois de duas maiorias absolutas?
Um país deliberadamente desequilibrado ( repito, deliberadamente desequilibrado) em   resultado das medidas estruturais irreversíveis tomadas precisamente a partir de 1986, quando os fundos de coesão ( coesão linda palavra) entravam a rodos e quando,  precisamente, teria   sido possível conduzir os investimentos no sentido de equilibrar o País como um todo.  Mas, ao   contrário, os fundos de coesão foram utilizados para aumentar as assimetrias. O resultado está à vista.
- Quem era o timoneiro???
- Que ideia tinha do País???
- O que é que mudou de lá para cá.???
O Exmo. Sr. Prof. Aníbal Cavaco Silva já há dez anos se distanciou dos partidos ( pelo menos do seu/dele abandonando-o à derrota eleitoral depois de duas maiorias absolutas) e concorreu, com todo o seu curriculum político, à presidência da República julgando que era trigo limpo. Perdeu!
A prova de que o que o movia (move) não era (é) uma ideia para Portugal, mas apenas a necessidade pessoal de colocar a cereja em cima do bolo de uma carreira política que julga brilhante,  foi o facto de cinco anos passados não se ter recandidatado. Sabia que era para perder. Mandou para a fogueira o Ferreira do Amaral que lhe fez o frete.
Afinal, passados dez anos, o que é que mudou para, desta vez, votarmos em Cavaco? -  Nada!
A não ser a visão concreta do ponto de chegada do tal destino que, em 1986, para o DIÀRIO DE LISBOA ( e não só) era desconhecido.
 A não ser a certeza de que o que sobrou; do regabofe,  das vacas gordas, do oásis, das enxurradas dos dinheiros da CEE, dos tempos gloriosos do Cavaquismo, foi um país vergado pelo peso do betão e cimento armado, das ICs, das IPs, das Vias de cintura internas, intermédias e  externas, a resvalar para o Atlântico, com um terço do território a ficar desertificado e o resto à deriva.
Numa das suas intervenções televisivas Cavaco invocou, em seu abono, Jacques Delors.
É pena que de facto Jaques Delors não esteja presente para se aperceber o que é que se fez com o dinheirinho que disponibilizou a Portugal. Esse senhor veio a Portugal em Outubro de 1988 dar um recado exigindo equilíbrio entre o mundo rural e o Urbano. – Sabem a quem?
Precisamente ao primeiro ministro Cavaco Silva.
– Sabem o que, à data, a propagando cavaquista espalhava aos quatros ventos?  
- “Não faltará apoio para desenvolver as regiões” (sic).
E que no imediato só para no plano integrado do desenvolvimento do Norte do Alentejo os custos ultrapassariam os 24 milhões de contos. Voltando ao início deste texto é caso para perguntar qual foi o destino das verbas disponibilizadas pelo amigo Delors. Essas e as outras.
Um dia será feita a história da oportunidade perdida como o foram os tempos da pimenta da Índia, do ouro do Brasil, da exploração colonial e/ou das remessas dos emigrantes.
Até lá, saudações democráticas e se vislumbrarem razões para tal, votem em Cavaco!
Pela minha parte e não sei bem porquê, (vejam lá!) a única coisa que me vem à ideia é aquele velho aforismo Espanhol ( no mínimo Castelhano).

- Era um tipo tão pequeno, tão pequeno, que não lhe cabia a menor dúvida!

António Alves Barros Lopes
Afife – Janeiro de 2006

Qualquer semelhança com os dias de hoje não é coincidência

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Há mar e AH! O MAR

Mail enviado hoje ao Semanário  Expresso cartas@expresso.impresa.pt

Meus Senhores

Na Revista Única deste último 23 de Outubro há dois títulos deveras complementares;
"O mar: uma prioridade nacional", pag. 22, de Anibal Cavaco Silva e.
" Que grande lata", Pag.58, de Alexandra Simões de Abreu

Ora foi Saramago que melhor sintetizou Cavaco. - O rei das banalidades!

E pergunto;
- Porque é que Cavaco não se lembrou disso, do mar, enquanto Primeiro Ministro?

Sobre este mesmo assunto ver um texto de Gonçalo Fagundes Meira publicado na A AURORA DO LIMA em 22 último.

Quote
"O ABANDONO DO MAR

Cavaco Silva, o nosso Presidente, anda preocupado com a forma como desprezamos o mar e demonstramos não saber explorar os seus recursos. É uma preocupação que se compreende e aplaude. O imenso mar de que dispomos - uma superfície de cerca de 1.683.000 km2 – desde que convenientemente explorado, no domínio dos transportes, recursos alimentares e energéticos e matérias-primas, podia proporcionar-nos vantagens económicas de vulto, tanto mais que somos um país profundamente carecido de riquezas naturais.

O Senhor Presidente da República afirmou recentemente, no congresso sobre portos e transportes marítimos, organizado pela Associação Comercial de Lisboa que, de acordo com estudos efectuados pela comissão europeia, os sectores marítimos tradicionais portugueses, isto é, os transportes, portos e construção naval geram um valor que é mais de três vezes inferior ao valor gerado pela Bélgica, um país que tem apenas 98km de costa. A Espanha, outro exemplo, no seu cluster marítimo gera sete vezes mais valor do que Portugal; e a Dinamarca, um país de população inferior à nossa, produz seis vezes mais valor e três vezes mais emprego nos sectores marítimos.
Nenhum cidadão minimamente informado desconhece que, irresponsavelmente, o mar, desde há muito tempo, deixou de ser prioridade para quem nos governa. O desvario começou nos anos 1970 e nunca mais parou. E Cavaco Silva também nos governou durante 10 longos anos (1985/1995). E no seu extenso período de governação a prioridade também não foi para o mar. Com ele como primeiro-ministro o país esteve submetido à política do betão. Era ver o seu ministro das obras públicas, o senhor Ferreira do Amaral, sempre azafamado, a pagar fortunas aos empreiteiros para concluir atempadamente, ou antecipar, auto-estradas, no sentido de promover folclóricas inaugurações, que alimentavam uma falsa modernidade do país, a denominada economia de sucesso. No tempo de Cavaco Silva o mar foi tão ou mais esquecido que na vigência de outros governos. No tempo de Cavaco Silva o que estava a dar era o novo-riquismo, com a promoção desenfreada do consumismo e da aposta na bolsa, a política do betão do Senhor Ferreira do Amaral e a política da eucaliptização do Senhor Mira Amaral, o governante que nos falava do eucalipto como sendo o nosso petróleo verde.
O que alguma gente pensa é que todos temos memória curta. Em 1993, já nos estertores do cavaquismo, os trabalhadores da indústria naval, a partir de um estudo do seu grupo técnico, no qual também estive inserido, denunciavam a política suicida de completo abandono do mar, por parte dos sucessivos governos, com grande destaque para o de Cavaco Silva. Afirmava-se então que, nos últimos quinze anos, Portugal tinha perdido mais de 50% da sua frota mercante. Àquela data, Portugal dispunha apenas de 62 navios, 45 deles com mais de 10 anos e 17 com mais de 20. Por outro lado, o país tinha dispendido em fretes e afretamentos, só no período 1981/1989, cerca de 700 milhões de contos (3.500 milhões de euros). Entretanto, no período 1979/1993, a indústria naval portuguesa já tinha perdido mais de 15.000 postos de trabalho, com os estaleiros a fecharem portas, especialmente na região de Setúbal, ou a reduzir efectivos, por falta de encomendas de navios.
Mas se as políticas adoptadas em relação ao transporte marítimo e à frota mercante foram desastradas, não o foram menos para outros sectores da actividade marítima. No domínio das pescas, assistiu-se a uma capitulação vergonhosa perante as exigências da Comunidade Económica Europeia, com o abate de barcos, muitos deles em excelente estado de operacionalidade, embarcações dotadas de condições para pescar no mar durante largos dias, a troco de algum dinheiro, que foi importante para alguns pescadores em idade avançada, mas que atirou com muitos outros para situações de grande precariedade, e reduziu brutalmente as quantidades de peixe pescado. Alguns números ilustram bem esta evidência. Na década 1990/2000, já com o slogan da economia de sucesso a esboroar-se, o nosso volume de pesca passou de 319.000 toneladas para 150.000, a frota pesqueira reduziu-se de 16.000 embarcações para 10.750 e o número de pescadores matriculados diminuiu, no mesmo período, de 41.000 para 25.000. Ainda durante esta década, a indústria conserveira viu a sua capacidade de produção reduzida em mais de 60%.
O ditado é velho: contra factos não há argumentos. Basta alguma informação, não muito exaustiva, para por a nu a política funesta que foi praticada em relação ao mar em Portugal, por toda esta gente que nos governou. Indiferentes aos protestos daqueles que apenas pretendiam trabalhar e defender a economia do país, eles foram-se encarregando de, em boa medida, anular áreas económicas (o mar, a agricultura, a industria, etc.) fundamentais para a nossa independência em relação ao exterior.
O Presidente da República não foi eleito com o meu voto, nem o receberá quando de novo se candidatar. Tenho, no entanto, o conveniente respeito pela função que vem desempenhando e pelo seu trabalho, que, salvo em algumas situações pontuais, se tem pautado pelo equilíbrio e pela sobriedade. Era bom, porém, que não escamoteasse responsabilidades em relação à situação de desastre e penúria com que o país se defronta e a opções que não foram feitas. Fica-lhe bem incentivar e alertar para os prejuízos que resultam do nosso abandono do mar, tal como aconteceu com outros segmentos da nossa economia, mas, ao mesmo tempo, não deve esquecer os crimes de governação que foram cometidos, em relação aos quais não está imune.



Caixas

Nenhum cidadão minimamente informado desconhece que, irresponsavelmente, o mar, desde há muito tempo, deixou de ser prioridade para quem nos governa. O desvario começou nos anos 1970 e nunca mais parou

No tempo de Cavaco Silva o mar foi tão ou mais esquecido que na vigência de outros governos

No período 1979/1993, a indústria naval portuguesa já tinha perdido mais de 15.000 postos de trabalho

Na década 1990/2000, já com o slogan da economia de sucesso a esboroar-se, o nosso volume de pesca passou de 319.000 toneladas para 150.000, a frota pesqueira reduziu-se de 16.000 embarcações para 10.750 e o número de pescadores matriculados diminuiu, no mesmo período, de 41.000 para 25.000
Unquote

Ou seja certas intervenções mesmo vindas do Nosso Presidente da República sabem a oco desde que proferidas por  Aníbal Cavaco Silva.

Cumprimentos

António Alves Barros Lopes
Afife

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

FADO FADOS

Fado daqui e dali. Fado em cima e em baixo. Fado de dentro e de fora. Fado que foi, já não é. Fado agora é que é.
Pois é!
- Como é que o Alberto Sardinha veio cá parar? Ele era mais concertinas!
Morreu o Marceneiro, morreu a Amália!
Temos o Camané e a Marisa mas quem me levava aos fados era a Ana Moura!
Galiza minha Galiza como adoras a Dulce Pontes que por cá não desanda!
Mas no meio disto tudo, de todas as celebrações, por que raio é que não falam de Francisco Stoffel?
Perguntei isso mesmo ao João Braga em 2004, no Casino de Afife, por ocasião do centenário do nascimento do Dr. Pedro. Depois, em Lisboa, no dia do Portugal-Inglaterra, na sua casa alí à Lapa, explicou-me.
E há sempre alguêm de memória longa e o youtube também. Vão ao link de Francisco Stoffel
e compreenderão porque não falam nele.
Talvez por acanhamento!