segunda-feira, 12 de setembro de 2022

SENHORA DA PENEDA 1972

 1972, seis para sete de Setembro.                                         Noite grande da Senhora da Peneda.

 No seguinte dia nove sai esta noticia no jornal " República" 

«PIRILAU», vida cortada…

Afife foi sobressalto na manhã de quinta-feira.

 Lúcio Amorim, mais vulgarmente «Pirilau», resolvera finalizar-se.

A sua existência talvez se lhe parecesse já comprida.

Ou a própria vida não lhe desse aquela satisfação espiritual, ideológica, intelectual ou idealista que desejaria… Porque mais nada motivara a sua última atitude, a não ser, precisamente a corajosa e comovedora conclusão de tudo feito na vida.

E nada mais da vida… O seu requinte – ou elegância? – da última cena da existência deu-lhe uma certa preocupação.

Um vigoroso e repousante banho, um vestir de roupa domingueira, compra de corda nova, colocação estudada no local seu preferido: o quintal.

Depois cartas, muitas cartas para os amigos.

O destino de utensílios pessoais. – “Quando morreres, Pirilau, não te esqueças de me deixar isto… “ E «Pirilau» não se esqueceu.

Homem de Teatro amava - o profundamente. Vivia o Teatro intensamente.

Ele era o homem de tudo.

Ensaiava, representava, escrevia, encenava… ELE ERA O TEATRO EM AFIFE.

Era o amador que sabia dignificar o Teatro. Nunca usou fantasia na linguagem… Nunca teve prosápia – tão própria dos medíocres. Era modesto. Naturalmente.

O que fazia por Afife ou pelo Teatro era tão somente porque a chama íntima o impelia. Não queria fantochadas.

Queria a verdade. A singeleza. «Pirilau» era uma figura fora do mundo.

Tão simples e tão cheio de nacos que definem o homem – por si e pela sociedade de que fazia parte e queria enaltecida.

Afife terá um dia de dizer quem foi Lúcio Amorim, «Pirilau». Porque falar em Afife, é recordar «Pirilau».

Homem digno, integro, raridade como amigo do amigo, leal e puro. Homem do Teatro, do povo pelo povo, escolheu a sua última cena no palco da vida. Que descanse em Paz! "

JAC (José Cardoso???)

Naquele ano, apanhando-me eu de 128, fui a todas. Até à Senhora da Peneda. Lembro também que lá foi a Mariana e também o Zé Avelino que no regresso ao carro, já de madrugada, tiveram que aguardar o final de uns trabalhos para entrar no mesmo. Mas esta história não é para aqui ser contada.

Pela manhã descemos o Cubalhão, passando Melgaço, parámos em Monção.

- Encontraram esta manhã o PIRILAU na pereira de São João.

 Foi a notícia que nos deu o Senhor Branco que então trabalhava no tribunal lá do   sítio. 

A esse acontecimento se referiria essa tal noticia do dia 9.

Passaram anos até que há cerca de uma dúzia voltei lá de novo com a saudosa Edna Holt. Essa ida está relatada em:

https://lopesdareosa.blogspot.com/2019/09/louvai-o-senhor.html

Não quis acreditar no que tinha ouvido no Santuário. Passados anos e lembrando-me do episódio, já em Fevereiro de 2016, proclamei: LOUVAI O SENHOR NO SEU LUGAR SANTO

https://lopesdareosa.blogspot.com/2016/02/louvai-o-senhor-no-seu-lugar-santo.html

No ano seguinte, 2017, voltei à Peneda, acompanhado pelo meu amigo José Maria Barroso assistindo embasbacado aos acontecimentos que também relato nesse texto:

https://lopesdareosa.blogspot.com/2019/09/louvai-o-senhor.html

Mas em 2017 não entrei no Templo. 

Coisa que já em 2019 não aconteceu pelas circunstâncias que também relato em

 https://lopesdareosa.blogspot.com/2019/09/louvai-o-senhor.html

E já em pleno templo descarreguei, despropositadamente, a minha raiva e disso foi testemunha o nosso Saudoso António Viana que lá fora comigo e com o Ernesto Mina.

(Tive o cuidado de transmitir a minha surpresa aos responsáveis do Santuário.)

E quando cheguei cá abaixo lembrei-me da data da Peneda e do PIRILAU. 

E tudo ficou plasmado no texto que publiquei no Outubro seguinte em 

https://lopesdareosa.blogspot.com/2019/10/os-caminhos-da-misericordia.html

e que repito hoje uma semana depois da PENEDA.

Os Caminhos da misericórdia

Dedicatória a Lúcio Amorim de Afife. 

- O Pirilau -  

Um Extraterrestre no meio do triste quotidiano 

A Tua via sacra é o meu  exemplo
Mas perdoa-me  se entro  no  Teu  templo
E não me ajoelho
Doem-me as rótulas do meu entendimento
Para acreditar já me sinto velho
- E a idade? -  Senhor, a  idade
São toneladas em cima dos ossos
E aquele corvo negro não é fatalidade

Grandes, grandes  são os pecados. Os nossos!
E os Teus? – Porquê tanto sofrimento?
Tanta mentira Senhor – e em Teu nome!!!

Perdoa-me se entro no Teu templo
Onde  o peso das pedras é enorme
Mas  não acredito no que ouço
(E não há esmolas para oferecer dentro do meu bolso)

Os  sinos deveriam dobrar só por ti. Não por mim!
Que eu não mereço

No que acredito está nas  palavras que não esqueço
Só tenho medo de não morrer ( já dizia o Lúcio Amorim)
Ser condenado a vaguear como Caím
Contar até ao fim do tempo as contas do meu terço

Mas a Tua via sacra não tem preço
Percorres os caminhos da misericórdia
Mesmo assim
Sem direito a soldo ou piedade

Acompanhar-te-ão os homens de boa vontade
e outros tantos como o Lúcio Amorim.

- Afinal quem se salva nesta selva de enganos?
- Os humanos não! E é isso que somos; apenas humanos.

AABL




Sem comentários:

Enviar um comentário