Ao descimento da cruz, que se fez na freguezia da Silva em 1850.
MOTE.
No descimento da Cruz,
Com todo o desembaraço,
Na Silva dado à luz,
A vinte e move de março.
GLOSA.
Quem tal souber e cuidar,
E’ para chorar e sentir,
E tambem caso de rir,
Sentindo todo o pesar:
Eu não posso acreditar,
Que 0 corpo do meu Jesus
Pozesse certo chapuz
No regaço d'uma mulher!
Faz-me na Silva o que quer
No descimento da Cruz.
Tremo, estou admirado
Pelo que tenho ouvido,
Pilatos ainda vivo,
Star na Silva conservado . . .
Este tyranno malvado
Contra si deitou o laço,
Atou a corda ao Cachaço
Este perverso traidor,
Escreveu contra o Senhor
Com todo o desembaraço.
'Star na Silva a Mãe de Deus
Com Pilatos, ambos vivos,
Sem ter estes carcomidos
Carne e ossos, Como os meus ! . . .
Olhem que dous Pharizeus
Aquella terra produz'
De noite dança o lapuz,
De dia a Mãe do Senhor! . . .
Foi o caso aterrador
Na Silva dado à luz.
Que um padre (e pregador,
Que diz ter sabedoria)
Consentisse n'esse dia
Servir um ente peccador
De Mäe de nosso Senhor |
E ella com cara d'aço
Receber, dar um abraço
No corpo de Jesus Christo!
Só na Silva se viu isto
A vinte e nove de março.
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