Passei pela primeira vez em Gondarém em 63 ou 64, no 3 de Junho. Fui de bicicleta com o Tone Cordas, num tempo em que era o dia de uma das mais importantes feiras lá do sítio.
Ao passar em Gondarém parámos numa casa junto à estrada ( ainda hoje lá está) onde um senhor de barbas nos ofereceu cerejas de uma cerejeira que lá existia ( que às tantas já foi para o lume). Tivemos que subir à árvore por elas!
Mais tarde e já no Porto me inteirei de quem se tratava. Isto pelo meu companheiro do Instituto, o Paulo Lemos Costa.
Tinha tido o privilégio de conhecer o Tio Zé do Barraco, um matusalém que de Monção (Troviscoso, diziam) tinha vindo rio abaixo numa barcaça e se tinha fixado em Gondarém, não se sabia bem quando.
Como não seria a idade a fazê-lo, morreu atropelado por um Guarda Fiscal.
Este melhor sorte não teve. Foi-se, abalroado por um comboio. Cheguei a ter o recorte da notícia da morte do Tio Zé do Barraco!
Vestia peles de lobo, raposa e outros animais que os das argas lhe levavam quando na sua casa paravam com destino para as feiras de Cerveira como paga da aguardente que a todos o Tio Zé do Barraco
oferecia logo pela manhã.
Tinha uma charanga de bombos e chocalhos que tocava com filhos e netos pelas festas e romarias. Era peregrino constante na paisagem de São João d'Arga.
Conhecia os segredos de mezinhas com barro e outros remédios.
O Nelson de Covas contou-me que, um dia, o Tio Zé do Barraco lhe tinha retirado, com uma navalha, um quisto que lhe aparecera na cabeça, coisa que nem os médicos se tinham metido a fazer.
Pelos relatos que ouvi deste homem cheguei à conclusão que teria sido o último vestígio do druidismo da nossa ancestralidade.
Da figura do Nelson a passar em Gondarém ficou a tradição.
Ainda hoje se canta por aquelas paragens.
Ao passar em Gondarém
Num te atrases no caminho
pois sempre ouvirás dizer
Já passou o Vilarinho
Nota.
A imagem acima é de um postal editado, precisamente, em Monção
lopesdareosa
Sem comentários:
Enviar um comentário