Citânia de
Santa Luzia
Padre Quintas,
... no seguimento do Marco Fascista, que a AURORA DO LIMA publicou em 24 de Outubro de 2019, ( bons velhos tempos) venho hoje com um dado novo acerca daquele local, agora entaipado, de que o Templo ao Sagrado Coração de Jesus é vizinho
– A Citânia.
Naquele tal processo a que então me referi – a questão levantada no TAB por Areosa em relação ao limite com Viana - presenciei, numa audiência, o testemunho de José da Cruz Lopes que a dada altura ouvi nas suas declarações em relação à fronteira entre Areosa, Monserrate e Santa Maria Maior: (cito de memória!)
"Que se questionava porque é que tinha sido traçado um vértice comum. E não tinha sido o topo norte da Citânia de Santa Luzia. Porque a Citânia de Santa Luzia era o berço da cidade. Era o berço da Urbe que tínhamos hoje. A citânia era um povoação antiga e era ocupada por vianenses pessoas mesmo de Viana. Quando estávamos a fazer o país vivia lá gente."
Defendia assim, Cruz Lopes, que por isso, Viana deveria confrontar com Areosa pelo Norte da Citânia dado esta ter sido o berço da Cidade e por isso pertencia ao seu “distrito”.
A pergunta que faço de imediato é se a
Citânia não terá sido o berço também da Paróquia de Vinha.
A pergunta que faço é se Viana for a
herdeira da Citânia onde colocar Vinha na linha de sucessão se a Igreja de Vinha
já levava três séculos de história quando Viana (1258) apareceu?
Ouçamos ALMEIDA FERNANDES no seu escrito “OS CULTOS OVINIENSES”, Meadela 1 de Agosto de 1962 que em relação a 1258...
“A Vila de Vinea era uma pocessão da Catedral de tuy…desde havia mais de
3 séculos pois foi em 930 que o Rei de Leão Afonso IV em escambo lhe concedeu
esta vila…”
E por isso pergunto:
- Há quantos anos já era Vinha de
(Areosa) uma identidade histórica quando em 1258 Afonso III deu foral a Viana?
- A quem pertenciam Adro, Castro e Figueiredo
antes do Foral???
– E antes de S. Salvador?
Mas já nas MEMÓRIAS PAROQUIAIS de 1758 ( e não foi Areosa que apelou a este documento no tal Processo)
– O Pároco de Vinha de
Areosa, Caetano Ventura, responde ao inquérito;
“
É (Vinha de Areosa) antiquíssima e lhe podemos dar a
mesma fundação na opinião mais provável e segura que os escritores nas suas
corografias asignan à notável Vila de Vianna pois aquela cidade célebre de
Santa Luzia onde a dita Santa tem a sua ermida a sua maior parte constituída pela Serra em que aparecem
vestígios de povoação discorrendo do sul para o Norte hé e sempre foi
distrito desta freguesia de Areoza.”
Em 1895 no ARCHIVO VIANENSE, FIGUEIREDO DA GUERRA referiu-se, no seguinte texto, à antiguidade da Igreja de Vinna em relação àquilo que um dia viria a ser Viana
“A
egreja de Vinea é sem dúvida alguma a mais antiga de todo o nosso extincto
termo de entre Âncora e Lima: a ella pertenciam as collações de Âncora e
Villate. Na sua terra ou districto estavam as Villas de Vinea ou Vinha, de
Figueiredo, da Foz e de Castro…”
Depois e em 1930, FG, no Notícias de Viana, volta ao
assunto...
“A vila da
Vinha do Séc X, a velha paróquia a que pertenciam as ruinas de Santa Luzia,
chama-se ainda hoje, Santa maria de Vinha de Areosa, e desta freguesia se
desmembraram, no tempo de D. Sancho I as terras que da Foz do Lima se estendiam
até ao ribeiro do Ameal, na Abelheira e criada então freguesia sufragânea, com
sede na Igreja velha das Almas… ( S. Salvador decerto)
“O espaço ocupado pela Cidade-Velha na parte mais elevada da montanha voltada ao Sul, atingia toda a Bouça-do-Lebre, bouça onde foi edificado o Hotel e seus anexos, todo o espaço ocupado pelo Parque, e ainda, pelos terrenos onde estão situados o depósito da água, e Restaurante Palace. (…)”
- Que Bouça era essa?
– Nada menos que a Bouça de
Santa Luzia situada em Areosa e que foi
adquirida a diversos proprietários Areosenses
pela Comissão dos Melhoramentos do Monte de Santa
Luzia na passagem dos século XIX para o Século XX.
Mais recentemente ainda podemos ler de ABEL VIANA, quase nado e muito criado em Areosa, o que no seu trabalho com MANUEL DE SOUSA OLIVEIRA, “Cidade Velha” de Santa Luzia (Viana do Castelo), in Revista de Guimarães, LXIV. Guimarães, 1954, logo a abrir diz:
“Cidade
Velha” lhe chamam os vianenses na suposição de que elas representam a origem da
actual cidade. Directa sucessora esta não o é evidentemente…”
E mais à frente escreve na pag. 18 dessa obra:
“ Decorreram dezenas de anos. O
tojo, a carrasca, o silvado, as mimosas foram invadindo as ruinas. Sobre estas
foi-se criando novamente uma camada de terra vegetal. O
terreno pertencia à freguesia de Areosa. O mato era sorteado, tinha dono
e roço periódico, não sendo raro andarem por ali, algumas cabras e gado a pasto.”
Se isto não bastasse podemos ainda ver o que ALMEIDA FERNANDES escreveu sobre o assunto nos CADERNOS VIANENSES em 1980 sobre a Cidade Velha ( Areosa) e sobre o topónimo Citânia (Areosa):
"Finalmente o topónimo Citânia, substituído, ás vezes, por Cidade Velha (de Santa Luzia) em razão de se julgar que a “Cidade” de que aí há os restos de muros e casas foi a antiga Viana” (49)
Aqui chegado AF faz esta chamada para em rodapé remetendo para um inventor do século XVII: (49) –
“Esta Viana es la vieja cuyas ruynas parecen en lo alto de uno monte al Norte” Etc. - Sandoval in Anteguedad de Tuy (1620) – Rematando AF com um rotundo
– CLARO QUE NÃO!.
( Almeida Fernandes
que em COMO NASCEU VIANA reconheceu a justeza de Figueiredo da Guerra quando
este fez a ligação de Vinha com Ovínea)
Em 1985, na CAMINIANA, já FERNANDES MOREIRA publica um trabalho sobre um documento de 1068 de Frei Ordonho Eris, sobre a fundação do Mosteiro de S. Salvador da Torre que viera substituir o de Villa Mou. Esse documento dá noticia de que...
“ As três vilas que ocupavam a maior parte do actual território de Viana e integravam a paróquia de Vinea, isto é Figueiredo , Castro e Foz”, pertenciam ao Mosteiro de Vila Mou.
Acrescentando Fernandes Moreira uma outra fala esclarecedora:
“Uma curiosidade revelada pelo mesmo documento: Viana ainda não aparece como uma unidade territorial, nem mesmo como paróquia, a seu respeito são citadas três vilas: Figueiredo, Foz e Castro.”
Ou seja Já Vinea era paróquia muito antes de Viana ser Viana!
E mais recentemente Lourenço Alves em “REFLEXÕES SOBRE A VIDA” 2003 pgn 71 e seguintes:
“Terra antiquíssima ( Talvez a mais antiga de Viana e arredores, pelo menos documentalmente) Areosa, ou Ovínia, como é conhecida através de documentos verídicos a partir do século VI…”
Mais adiante:
“…a freguesia de Areosa… …bem pode
reivindicar o título de Vila, como tem feito outras terras menos favorecidas
demograficamente. Aliás se isso tentar, não faz mais do que restaurar uma velha tradição com mais que
um milénio de existência, segundo a qual Areosa foi Vila, couto e sede de um
arcediagado, ou arciprestado da Sé de Tuy que abrangia grande parte da terra de
S. Martinho ( que compreendia todas as freguesias do Lima e quase todas as
freguesias do concelho de Ponte de Lima) e todas as freguesias da Terra de
Caminha. E adiante “Quase todos
os cronistas, que referem a fundação da vila de Viana da Foz do Lima, pretendem
encontrar as suas origens na Citânia que lhe fica a norte. Contudo esquecem-se
de que, antes das vilas que formaram este velho burgo( Átrio, Castro e
Figueiredo) existia uma vila – Ovínia – que, certamente teve início na velha
citânia, onde no tempo dos Suevos aparece uma paróquia rural (pagus Ovínia)
integrada na Sé de Tuy”
Mais recentemente, Antunes Abreu, (vejam lá!)no inicio da sua História de Viana do Castelo Pgs. 129
“A Igreja de Santa Maria de Vinha era a mais antiga da faixa litoral entre Minho e Lima e englobava as colações de Âncora e Vilar (Riba) de Ancora. Este território incluía as "Villas" de Vinea, Figueiredo, Foz e Crasto ( estas três últimas serão assento da Vila de Vianna) e outras até ao Castelo roqueiro Tarrúgio ( Sec XI -XII) no Penedo da era ( ao norte da Ermida de S. Mamede)”
Remetendo para o que Almeida Fernandes escreveu na Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, onde este, por sua vez, cita Figueiredo da Guerra, acerca de Vinha de Areosa.
Isto
para não falar que os de São Mamede são ainda hoje os últimos
descendentes da Citânia que não abandonaram o monte.
–
E onde é que eles estão???
–
Em S. Mamede - Areosa.
E
para não falar nos castrejos que nasceram em 1958/59 no sítio da Citânia, Freguesia de Areosa. E para não falar nas sortes
localizadas na Citânia, como a dos do Coutinho, que se esfumaram por milagre de
Santa Luzia. E é de perguntar se tais memórias perduram na Vila da mesma forma
que perduram em Areosa.
E Padre Manuel Correia Quintas!
– Não lhe vou dar nenhum recado que não o saiba. Decerto conhece todos estes autores citados e também FRANÇA AMARAL que recentemente escreveu sobre PAGUS OVÌNEA.
Mas se não conhecer Almeida Fernandes veja o elogio que Alberto Antunes de Abreu lhe faz no
início da MEADELA HISTÓRICA, 1994 e em
ENSAIOS I PARA A HISTÓRIA DE VIANA DO CASTELO (2004) a pg. 33.
Por último, como sabe, a figura de Cristo marcou a humanidade de tal ordem que ficou como referência para a sua História – AC (Antes de Cristo) e DC (Depois de Cristo).
A partir de
agora e ao que à Citânia, dita de Santa Luzia, diz respeito, a sua História vai ficar repartida por AJC e DJC dado que ao cessar
tudo o que os antigos professores nos contam, já as arengas dos modernos
inventores despontam.
Novembro de 2020 Lopes d’Areosa
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