Não nasci em Afife.
Mas cresci com os meus em Areosa a falarem de Afife como se a outro mundo pertencesse.
Depois Pedro Homem de Mello e Cabanas mítica, onde todos os anos, no inicio de Setembro, acontecia uma pândega por alturas do aniversário do Poeta.
Um dia a minha nai tinha ajudado o meu pai a vestir-se em condições para ir à festa do Poeta convidado por meu tio Zé que, guarda fiscal em Afife, era dos que acompanhava o Doutor Pedro e o rancho de Afife nas idas ao São João d'Arga.
Acabei por encontrar PHM teria eu 15 anos e no ano seguinte assistiria em Carreço a uma revista ensaiada por Manuel Enes Pereira e apresentada por Pedro Homem de Mello, com quem conversámos no fim. E digo nós pois está por aí o Berto Rego que não me deixa mentir!
E Cabanas acompanhou a minha adolescência.
No caminho para as banhadas no Pôço Azul e para a Azenha de Camilo.
Também por alturas dos santos populares e dos bailes na Armada que concorriam com os bailaricos do São João de Cabanas.
Impensava eu que algum dia fosse ter àquelas paragens.
E o certo é que vinte anos mais tarde acabei por adquirir uma propriedade que dista uns cinquenta metros dos muros da tapada do Convento. Ainda lá estou!
E nas minhas deambulações pelas redondezas vou percorrendo aqueles caminhos que conduzem à Armada, ao Alto do Cabecinho, aos Cortiços, ao Largo de Perre ao Penedo da Saudade, ás Laranjeiras...
Enfim à Gateira profunda.
Ora a modernidade deu em colocar etiquetas por todo o lado. E mesmo no muro encostado ao portão que dá entrada ao pátio da Capela do Convento encontrei a seguinte:
Acontece que esta mesma informação consta em
" A fundação primitiva do mosteiro de Cabanas data de 564, sendo atribuída a sua edificação a São Martinho de Dume. Nas centúrias seguintes, o mosteiro prosperou economicamente, tornando-se senhor de todas as terras circundantes. Segundo as Inquirições de 1258 o mosteiro de Cabanas era de padroado real, tendo sido D. Sancho I a definir os seus limites em 1187. Sucederam-se os comendatários, e cerca de 1382 o mosteiro passou para a Ordem de São Bento, tornando-se uma casa de convalescença e repouso de doentes."
Ora o que me faz vir aqui é perguntar à Direcção Geral do Património Cultural, em cima de que evidência documental é que se informa que D. Sancho I definiu os seus limites em 1187. Referindo-se ao Couto decerto!
Já Figueiredo da Guerra datara no ano de 1177 esse acontecimento.
Mas em 2015, França Amaral, no FALAR DE VIANA Volume IV Série 2 (pgs 309 a 313) demonstra que 1177 é uma data errada e nem mesmo 1187 serve, pelas mesmas razões aí encontradas. Resumidamente:
D. Sancho I, ao chancelar o Couto de Cabanas deu por confirmantes alguns dos seus filhos mais três prelados que nas datas indicadas, uns nem tinham nascido, outros ainda não o eram. França Amaral atira a data para 1207 mostrando que pelo menos não poderia ser anterior a 1201, justificando o erro de Figueiredo da Guerra pelo má interpretação de um X aspado na numeração romana do documento.
Aqui chegado já sei que muitos perguntarão para que é que me estou a incomodar com isso. Quem passa, se ler, nunca mais vai ligar ás datas. Outros dissuasores argumentarão que esse pormenor não tem importância.
Outros, porque foi o lopesdareosa a levantar a questão, dirão: - Lá está o gajo e o seu mau feitio.
Acontece que pessoalmente não me preocupa assim tanto datar o que é que o nosso D. Sancho andou a fazer.
O certo é que o fez.
O que me preocupa é que se esta informação do DGPC está errada segundo o que é do meu conhecimento:
- Como poderei acreditar em qualquer outra informação vinda desta entidade sobre a qual eu não tenha escrutínio?
Para os outros que minimizam este sucesso (ou outros) só pergunto se as coisas são assim de tão somenos importância, porque é que o que prevalece é a asneira!
Tone do Moleiro Novo
Caro António Alves Barros Lopes.
ResponderEliminarMuito obrigado por esta recordação do Convento de São João de Cabanas. Gostei de ler sobre a história do Convento, mas do que me recordei foi ter ido prós lados do Poço Azul com o Ferreira (?) e a sua irmã, filhos de um guarda fiscal de Afife, mais meia dúzia de rapazes, ao musgo para o presépio do Escola. Já foi há mais de 65 anos.
Cumprimentos e saúde da boa
Valdemar Silva