sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MAÇÃS AGRAIS

Boa noite!

Aqui, em Afife, já cai.
E pelos vistos nos arredores também!

Surpreso nessa escuridão bem portuguesa de não se saber aproveitar aquilo que é nosso, descubro alguém que se lembrou ( lembra) das Maçãs Agrais. Ver AS MAÇÃS DA NORMANDIA.
E era a Afife, à Agrichousa; que meus avós se deslocavam todos os anos, de carro de vacas, a fim de carregarem uns bons sacos dessas maçãs, também conhecidas por Maçãs de Âncora.
De regresso a Areosa eram guardadas nos palheiros, do trigo e do centeio, em madureiros.
Pelo Inverno fora, com broa, faziam muito jeito!
Serviam também para perfumar a sala de visitas dispostas na toalha da cómoda em volta do Oratório.
A sidra era elaborada da mesma forma que o vinho. Casas havia que faziam, para o ano inteiro tanto, de vinho como de sidra. Era o que se  fazia na  do Senhor Joaquim das Bourouas, segundo o testemunho vivo de seu filho Benjamim Enes Pereira.
As macieiras, produtores directos, pegam de estaca, havia-as também e principalmente pelas margens dos ribeiros.
Como na Ribeira do Pégo em Areosa não eram suficientes, no Rio de Cabanas sobravam. As maçãs não recolhidas aboiavam na corrente de águas que hoje, de Verão, não existem.
O mesmo aconteceu às macieiras. Como as maçãs são ácidas, cortaram-nas. Das que restam caem e ninguém lhes liga. As do supermercado são melhores.
No entanto, ainda hoje, o meu amigo António Paz do Vale, O Tone da Quinta, as apresenta, assadas polvilhadas, com açúcar amarelo antes do forno e canela depois, como sobremesa naqueles jantares malucos em que se sacrifica  para os outros. Como eu!
Sidra era ir às Feiras Novas de Ponte nos tempos que se realizavam no tempo certo.
Na tenda do Cachadinha, na da Rosa Paula ou nos diversos tascos ao derredor da Praça de Camões bebia-se fresca e doce. Por vezes dava em valentes dores de barriga. Só não digo caganeiras pois pareceria mal neste blog de tão elevada elevação!
Nas traseiras da Havaneza havia umas senhoras dum tal Doutor Morna, que à porta de uma loja vendiam sidra engarrafada. Ou seja amarga dado ter sido feita em anos anteriores e fermentada e curada como se vinho fosse!
Hoje sidra é uma recordação!
Por cá tudo o que é (era) nosso é para destruir. Para acabar como aconteceu às macieiras agrais.  Mas a tradição da sidra, precisamente a mesma, na Galiza, nas Astúrias, no País Basco, na França, na Bélgica, na Alemanha… deu numa indústria. É a diferença!

Cumprimentos outonais
António Alves Barros Lopes

2 comentários:

  1. Olá António.
    Nem sabe como gostei de ler este seu texto.
    Aqui em Vilar de Mouros restam poucas maceiras destas, que pena gosto tanto das suas aromáticas maças, em doces, tartes e assadas como descreve!
    Por sorte deram-me um saco delas, que transformei numa deliciosa tarte. nenhuma outra se lhe compara!

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  2. Caro amigo Lopes adorei o teu artigo pela atualidade e oportunidade. Adoro estas maçãs e quem me conhece sabe que as considero as melhores maçãs. Na década de noventa do século passado, o NAIAA lançou uma campanha de sensibilização em Afife, recordando aqui o empenho da Rádio Popular Afifense, salientando o saudoso Tomás Poço. Recentemente o NAIAA, no último verão, lançou nova campanha de sensibilização sobre a importância destas maçãs, a georreferenciação das macieiras existentes em Afife e a necessidade imperiosa da sua proteção, coordenada pelo Dr. Gonçalo Rodrigues.

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