domingo, 7 de novembro de 2010

A LATADA DAS UVAS MORANGAS

O Salazar não sabia o que eram as uvas morangas.
Mandou cortar as videiras. E o meu avô Jerónimo, temente a Deus e às Leis, pegou na sua enxada mais honesta e cortou cerce uma dúzia de pés, junto ao muro sul no Lugar de Baixo. Ainda bem que não foram todas. Nem as da latada, no corredor.

Salazar era bronco. Desconhecia o cheiro a Setembro, por cima da cabeça, no corredor de entrada da Casa do Moleiro Novo. Nem sabia disso nem sabia para o que serviam  as uvas morangas. Se tivesse tido a oportunidade de explicar ao Salazar para que serviam as uvas morangas ter-lhe-ia dito que delas as abelhas fazem mel.

O Salazar não compreenderia o gesto!
A  alegria de esborrachar as uvas morangas contra uns dentes, esmagá-las na boca, forçar os lábios a abrirem-se, enfiá-las com o polegar, bem fundo, esfacelando-as na língua, rebentando em suco de vinho doce fermentado com saliva. E depois sorver tudo num beijo gordo e quente, com o Sol e as Gaivotas a rirem-se da loucura.

Mas o Salazar era uma besta e ainda bem que o meu avô não cortou todas as videiras morangas.

- Como poderia eu fazer vinho no teu lagar?

Ai dos poetas que nunca se lembraram de chamar lagar a tais redondezas!

Ai do Salazar que não sabia o vinho que se podia fazer com as uvas morangas!

Ai daqueles que foram obrigados a aturar o Salazar sem terem cometido qualquer crime, nem contra Deus nem contra os homens!

Da minha parte teria feito ao Salazar o que o Almada fez ao Dantas

Levantava o polegar, estendia o indicador, recolhia os dedos restantes na palma da mão.

Visava-o bem na testa.

e

PIM

Mandava-o para uma melhor que esta

4 comentários:

  1. li o texto mas com o nome lopes fica muito melhor

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  2. Claro que é lopes.
    lopesdareosa.
    -Quem mais é que poderia ter escrito uma maluqueira tal?

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  3. Das morangas estamos falados. Melhor, já falaste, e bem, o suficiente. Do Almada e do Dantas, duas figuras notáveis, diferentes no seu comportamento, mas demasiado vaidosos para se entenderem. E dois admiradores de Salazar. E isso é que se compreende mal. Não tinham necessidade disso. Gostei de te ler, Lopes. Foi por acaso. Não costumo passar por cá. Tentarei passar mais vezes

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