Mandou cortar as videiras. E o meu avô Jerónimo, temente a Deus e às Leis, pegou na sua enxada mais honesta e cortou cerce uma dúzia de pés, junto ao muro sul no Lugar de Baixo. Ainda bem que não foram todas. Nem as da latada, no corredor.
Salazar era bronco. Desconhecia o cheiro a Setembro, por cima da cabeça, no corredor de entrada da Casa do Moleiro Novo. Nem sabia disso nem sabia para o que serviam as uvas morangas. Se tivesse tido a oportunidade de explicar ao Salazar para que serviam as uvas morangas ter-lhe-ia dito que delas as abelhas fazem mel.
O Salazar não compreenderia o gesto!
A alegria de esborrachar as uvas morangas contra uns dentes, esmagá-las na boca, forçar os lábios a abrirem-se, enfiá-las com o polegar, bem fundo, esfacelando-as na língua, rebentando em suco de vinho doce fermentado com saliva. E depois sorver tudo num beijo gordo e quente, com o Sol e as Gaivotas a rirem-se da loucura.
Mas o Salazar era uma besta e ainda bem que o meu avô não cortou todas as videiras morangas.
- Como poderia eu fazer vinho no teu lagar?
Ai dos poetas que nunca se lembraram de chamar lagar a tais redondezas!
Ai do Salazar que não sabia o vinho que se podia fazer com as uvas morangas!
Ai daqueles que foram obrigados a aturar o Salazar sem terem cometido qualquer crime, nem contra Deus nem contra os homens!
Da minha parte teria feito ao Salazar o que o Almada fez ao Dantas
Levantava o polegar, estendia o indicador, recolhia os dedos restantes na palma da mão.
Visava-o bem na testa.
e
PIM
Mandava-o para uma melhor que esta
li o texto mas com o nome lopes fica muito melhor
ResponderEliminarClaro que é lopes.
ResponderEliminarlopesdareosa.
-Quem mais é que poderia ter escrito uma maluqueira tal?
O Tone do Moleiro Novo
ResponderEliminarDas morangas estamos falados. Melhor, já falaste, e bem, o suficiente. Do Almada e do Dantas, duas figuras notáveis, diferentes no seu comportamento, mas demasiado vaidosos para se entenderem. E dois admiradores de Salazar. E isso é que se compreende mal. Não tinham necessidade disso. Gostei de te ler, Lopes. Foi por acaso. Não costumo passar por cá. Tentarei passar mais vezes
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