(Do Poeta)
"Tinha aqueles cabelos que ondulara
O vento leve do entardecer
Em lhe eu falando uma palavra clara
Era o bastante para a mão tremer
Então num gesto
rápido incontido
Recuperava o porte e erguia a fronte
Se eu me calasse voltava
– Conte
E obrigava-me ao homem assumido
Só uma vez, uma vez esteve comigo
Naquela praia, naquela tarde, naquele Verão
Como esquecer, agora, o que não digo
Ao meu desabitado coração."
O original deste texto está nos POETAS IGNORADOS de Pedro
Homem de Mello (1957)
E eu que tenho a mania de encontrar em PHM a premonição dos
meus (alguns) passos, senti-me envolvido por um SEGREDO que sem respeito (ou
com muito dele) pelo Autor, resolvi parafrasear e adaptar à minha
circunstância.
Acontece que um dia, por volta dos meus oito mil setecentos e sessenta, apaixonei-me.
Mas a Deusa não me saiu Vénus e o mais que eu consegui foi uma puta de dor de cabeça e uma depressão nos cornos, daquelas que não deixam quaisquer isobáricas da prateleira.
Fui ao médico.
Receitou-me um caixote de pastilhas. Umas para dormir outras para me tirar o sono. Umas para me pôr em cima outras pra me atirar abaixo. Umas para a fadiga outras para a excitação. Umas para o setresse outras para a tesão (1). Umas para a libido outras para as endócrinas.
Umas para me esquecer do que me lembrava outras para me lembrar do que me esquecia.
Fui ao psicanalista que me deitou num sofá. Como não foi de bruços não houve problemas. Mas acabei por adormecer.
O especialista disse-me que o meu mal era sono!
Como a depressão é doença de rico, a caixa não comparticipou e acabei por gastar um balúrdio.
Autêntico desperdício.
Mais valia ter gasto a massa, bem acompanhado, num bom jantar, daqueles com velinhas e tudo (no bom estilo de alguns engatatões da nossa praça) e rematar no fim com uma valente phóda com cheiro a maresia. Podia ser até com cheiro a eucalipto pois nem sou assim tão ecologista.
Aliviava os nervos, era mais agradável, repartia o que tinha de sobra com alguém com necessidades e ficava mais barato.
Mas esgotadas as pastilhas da primeira leva resolvi mudar de tratamento e gastar o dinheiro em vinho. Dá o mesmo resultado e sempre se enche o estômago com alguma coisa boa. E lá fui esvaziando umas reservas e uns vintages. E até dei cabo de um chatô lafite que me tinha sido oferecido pelo Passarinho, emigrado em França. Enfim tudo do melhor e também do caro.
Mas como a Musa era bem boa não merecia ser esquecida à custa de bebedeiras rascas. Dessas que se apanhavam com aguardente de Anha, mal destilada ou com vinho tinto de Perre. O mínimo aceitável seria o branco de Mezieiro.
Moral da história.
Senhores da medicina!
Uma paixão não se mata com pastilhas!
Uma paixão morre-se em bebedeiras plenas.
até que desvaneça
até que desapareça!
(1) - Esta palavra está mal escrita.
Queria eu dizer "tensão".
Num fui a tempo de a corrigir.
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