quinta-feira, 23 de março de 2023

Maria de Lurdes Rodrigues e o país (im)possível

 Li, desta Professora Universitária, no JN, de 16 de março, repetir o que toda a gente assume;

Que o litoral foge ao interior. Ou seja, o interior foge para o litoral. 

- Que coesão??? ...nem vê-la!

...citando Jorge Gaspar, quando este dizia:

" há o desenvolvimento pelo povoamento, mas em algumas áreas é preciso desenvolver despovoando"









Ao mesmo tempo e na mesma edição do JN pode confirmar-se essa realidade. 

"Mais de metade do território está despovoado"

é o titulo.

E também aqui se pode ler o realce:

"Por seu turno, nos últimos 20 anos os portugueses têm-se concentrado no Litoral do continente..."

Ora já aqui o relato pode enganar o leitor. O "fenómeno" da litoralização nem é fenómeno, nem tem apenas 20 anos.

Já Correia da Cunha o previa, em 1973, em plena Assembleia Nacional.

No entanto a coisa acelerou precisamente no período das vacas gordas quando os fundos de coesão entre o interior e o litoral, de apoio ao mundo rural, estavam garantidos ao Cavaco pelo próprio Dellors.

Mas afinal os tais fundos de coesão não coesaram coisíssima nenhuma. 

E já os censos de 1991 matematicavam o tal fenómeno. E o país possível que temos hoje é consequência da forja de então. Aliás temos muitos e bons apaniguados que tal testemunham.

Ainda hoje no CM o Senhor Gestor Luis Campos Ferreira publica:

"O que Cavaco fez foi reformar e transformar o país de uma forma irrepetivel"

        (efectivamente não o vai repetir pois não vai ter segunda oportunidade)

E é tão interessante este texto que lhe dedicarei uns comentários, pois... "a grave crise de habitação em Portugal"... de que fala..

...é no seu cerne, consequência da litoralização do país. Há casas a mais em Portugal em relação ás famílias recenseadas! Quem o diz são os Censos!

Há casas a mais onde há gente a menos. Faltam casas onde há gente a mais, precisamente onde já há construção a mais - no litoral. E a solução  - que eu critico - agora encontrada para a crise da habitação é continuar a construir desalmadamente, onde se tem construído desalmadamente.

E voltando a Jorge Gaspar, (citado por Maria de Lurdes Rodrigues)

" há o desenvolvimento pelo povoamento, mas em algumas áreas é preciso desenvolver despovoando"

A segunda parte encerra um dos maiores equívocos dos nossos teóricos e já agora,  práticos da nossa integração na CEE.

A passagem de uma sociedade rural para uma industrial, conduz á litoralização e concentração no meio urbano por diminuição humana no mundo  rural. Passou-se em todo o universo dos países desenvolvidos. Porque a própria actividade agricola dispensa mão de obra á medida que se mecaniza e se racionaliza.                          Ou seja, à medida que também se desenvolve acompanhando esse progresso.

Mas aí a diminuição do pessoal no mundo rural e sua concentração nos espaços urbanos/industriais foi consequência do próprio progresso. O espaço rural não foi abandonado. - Vão à Bélgica, vão à Suíça, vão ao Luxemburgo, vão à Dinamarca, vão à Alemanha...

Em Portugal quiseram fazer do despovoamento a causa do progresso. 

O que criaram foi uma visão distorcida do progresso. 

O mundo rural, lá, acompanhou o desenvolvimento. Em Portugal o progresso significou o abandono e território carente de ser frequentado e cuidado.

Vão ver  nos tais sítios da Europa, com que enchem os argumentos, isso se passa!

( E se quiseram uma explicação de cátedra, subam comigo ao monte de Areosa ou de Carreço que eu mostro-lhes a imagem de Portugal inteiro)

lopesdareosa



Sem comentários:

Enviar um comentário