terça-feira, 28 de março de 2023

João Carlos Lagarto da Conceição

 Páscoa de 1973.

Terça-feira no regresso ao trabalho pelas oito e meia. Na sala de desenho dos ENVC chega a notícia;

- O João Carlos e o Eng Dámaso tinham tido um acidente ali na Somartis. Coisa grave!

O Ford Capri tinha parado de frente contra um camião que descera a Avenida Salazar e viera estacar na berma  poente do passeio da estrada EN13.


De Caminha para a foz

Ao entardecer a prata do Minho é atravessada pelos barcos que se esbatem no reflexo do Monte Galego.

Pertencem a alguém da Rua

No terreiro o arraial desfaz-se

Mas fica sempre uma imagem


Os barcos vão lentos

mas velozes vão

junto de ti

meus ternos pensamentos

meus votos de feição


Se não for inédito o autor que não me mate por colocar isto aqui!

Li isto num papel pertencente ao espólio do João Carlos Lagarto da Conceição.

Os colegas da sala de desenho - o Cunha - juntavam todos os seus haveres depois a sua inesperada morte.

Tinha um certo sentido trágico da vida que o fazia pressentir esse fim. E isso transmitia-o constantemente

- Quando os lábios se calam

os olhos falam melhor!

A meio da noite, dando por encontrar uma garrafa de espumante ainda disponível, telefonava a um amigo para acabar com ela. 



-Não sabemos se amanhã estaremos vivos! - Justificava,

Fosse pela premonição. Pelo livre arbítrio (outro dizem que é a sorte ou o destino). Fosse pela coincidência, o certo é que a sua morte e a violência do acidente que a provocou, deixou todos num poço sem fundo.


lopesdareosa

 




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