Páscoa de 1973.
Terça-feira no regresso ao trabalho pelas oito e meia. Na sala de desenho dos ENVC chega a notícia;
- O João Carlos e o Eng Dámaso tinham tido um acidente ali na Somartis. Coisa grave!
O Ford Capri tinha parado de frente contra um camião que descera a Avenida Salazar e viera estacar na berma poente do passeio da estrada EN13.
De Caminha para a foz
Ao entardecer a prata do Minho é atravessada pelos barcos que se esbatem no reflexo do Monte Galego.
Pertencem a alguém da Rua
No terreiro o arraial desfaz-se
Mas fica sempre uma imagem
Os barcos vão lentos
mas velozes vão
junto de ti
meus ternos pensamentos
meus votos de feição
Se não for inédito o autor que não me mate por colocar isto aqui!
Li isto num papel pertencente ao espólio do João Carlos Lagarto da Conceição.
Os colegas da sala de desenho - o Cunha - juntavam todos os seus haveres depois a sua inesperada morte.
Tinha um certo sentido trágico da vida que o fazia pressentir esse fim. E isso transmitia-o constantemente
- Quando os lábios se calam
os olhos falam melhor!
A meio da noite, dando por encontrar uma garrafa de espumante ainda disponível, telefonava a um amigo para acabar com ela.
-Não sabemos se amanhã estaremos vivos! - Justificava,
Fosse pela premonição. Pelo livre arbítrio (outro dizem que é a sorte ou o destino). Fosse pela coincidência, o certo é que a sua morte e a violência do acidente que a provocou, deixou todos num poço sem fundo.
lopesdareosa
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