Em primeiro lugar tenho que esclarecer o meu pensamento.
Eça - o grande Eça!
Sem dúvida.
Mas para mim CAMILO! O pequeno Camilo.
Em Eça, tudo é elaborado, trabalhado, esmiuçado ! A fabulosa adjectivação parece um exercício matemático, geométrico! Todas as hipóteses do espólio português estão lá meticulosamente estudadas.
Em Camilo tudo é espontâneo. O jorro, a torrente descritiva lembra-me o Rio do Pégo a cair do Pôço Negro.
O fogo de Eça é o de um sniper em que cada tiro foi disparado depois de ter analisado ao pormenor todas as variantes em presença.
O fogo de Camilo é o de uma MG42 que nos atinge em rajadas de mil e duzentas por minuto!
Nestes dias tropecei com uma pequena amostra da A QUEDA DE UM ANJO Ver AQUI
( uma obra prima na história da nossa literatura)
E deparei com a feliz explicação de Fernando Vilas Boas, já dos tempos idos de 2011 e da responsabilidade da SIC.
E há momentos arrasantes como
...Isto é o progresso, nesse livro, mas os deputados estão em nome do progresso naquela assembleia também não têm uma ideia muito clara do que é que sejam...
... o anti-parlamentarismo decorrente de ...o retrato de uma cidade totalmente desligada do que se chama hoje o país real mesmo daqueles que eram representantes (desse país real) - que ainda hoje está perfeitamente vivo"
Mas também há momentos hilariantes. Como aquele de colocar Paulo Portas a comentar uma obra, autêntica catilinária contra o que nos dias que correm seria tudo o que Paulo Portas hoje representa. Uma confraria sulista, liberal e elitista, que desde Lisboa, com mentalidade urbana, não tem qualquer noção do que seja o país real.
Lisboa para onde se deslocam os Calistos da chamada província - desde os Algarves às Beiras - mas que uma vez lá chegados se esquecem das origens, corrompidos pelas águas de Santo António (ou São Vicente) exactamente da mesma forma que os de Areosa se inebriavam com as águas de São Mamede.
( Já publiquei sobre este tema. Perdi-lhe o rasto!)
lopesdareosa
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