A quadra é a expressão máxima da poesia ou da versalhada.
Tanto faz!
Parece fácil! Mas...
A quadra cuja simplicidade deu na forma mais primitiva utilizada pelos cantadores ao desafio nas suas intermináveis disputas (putas) apresenta-se no entanto como a forma mais dificil dessa expressão.
Já o Delfim dos Arcos explicava que em quatro versos se tinha que dizer tudo. Os dois primeiros a defender da arremetida do oponente e os dois últimos ao ataque.
Depois, embora pareça uma forma menor, tem que se levar em conta que não há autor afamado que não tenha escrito a sua quadrazinha.
Augusto Gil
Não há nunca amor perfeito sem tortura e sem cuidado Amar é ter Deus no Peito. Outra vez Cruxificado
João Verde
Teus olhos enfeitiçados cruzaram o meu caminho se não vou de olhos fechados quase ficava ceguinho
E a quem considerar a quadra como recurso menor dos poetas sempre lhes indicarei que o texto mais citado em português é precisamente uma quadra.
Não há lançamento de livro ou encontro de poesia que não venha...
O Poeta é um fingidor Finge constantemente chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
Ora sintetizar, desta forma, uma ideia só aos eleitos como Fernando Pessoa
Mas há outro que com Pessoa, ombreia. António Aleixo.
Sei que pareço um ladrão mas há muitos que eu conheço que não parecendo o que são são aquilo que eu pareço
E é ainda António Aleixo que manifesta a sua satisfação sempre que consegue fazar algo de jeito em tão curto espaço.
A quadra tem pouco espaço
Mas eu fico satisfeito
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito
Depois há o povo. Aquele povo que ninguém conhece mas a que todos pertencemos. E vou contar uma história dos tempos do Estado Novo.
Quando em 1958 o Xá da Pérsia se divorciou da Soraya por esta não lhe dar um filho varão abriu caminho a um outro casamento desta vez com uma tal Farah Diba em 1959.
E a coisa resultou. Muito por conta dos jardins dos palácios de Persépolis, dizem. E logo em 1960 nasceu Reza Cyrus Pahlavi.
E quem ficou com os maiores créditos foi precisamente o Xá uma vez que tinha conseguido um piças a quem deixar o império.
E o júbilo foi tanto que para além das grandiosas festividades em honra do acontecimento, o Xá ordenou o alívio nos impostos a todos os desgraçados persas.
Nós por cá não tínhamos Xá!
- Embora também tivessemos um império, só tinhamos o Salazar e ainda por cima misógino.
E logo o POVO, esse grande Poeta, recorreu àquilo que está no mais íntimo do seu anónimo saber.
Se a Piça do Xá da Pérsia Os impostos fez baixar Maldita seja a inércia Da Piça do Salazar
Nem a censura então, conseguiu travar tal verve.
Assim como hoje.
Espero!
tone do Moleiro novo
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