Já agora também vou falar do Prédio
do Coutinho.
Desde que foi construído sempre houve uma quase unanimidade em considerá-lo um mamarracho. Um aborto urbanístico que veio chocar dramaticamente com a marginal ribeirinha de Viana construída e consolidada em séculos de desenvolvimento urbano. Na época a coisa foi classificada com aberração por muitos especialistas como o Arquitecto Nuno Portas recentemente citado por José Carlos Vasconcelos. VISÃO 1373 de 27/06/2019 Pg. 67. E mais recentemente, 2 de Julho de 2019, o Presidente da Ordem dos Arquitectos José Manuel Pedreirinho manifestou à TSF a sua concordância com a demolição do Prédio Coutinho de Viana do Castelo. Disse que a decisão que tinha sido sucessivamente adiada só pecava por tardia e por se arrastar há quatro décadas. Mais disse que seja visto "do Sul ou do Norte, do Santuário de Santa Luzia ou de outro lado qualquer..." o Prédio Coutinho é sempre uma "aberração".
Também “o povo anónimo” se pronunciava nesse sentido. P.E na A AURORA DO LIMA em Março de 84 um tal JAC referia-se ao Edificio Jardim como sendo… “aquele enorme e contestado prédio de 13 andares”. No FALCÃO DO MINHO em Abril de 1989 Rui de Abreu, por sua vez, falava em agressões ao património e …daquela agressão poluente que substituiu o antigo mercado municipal.” reclamando a sua demolição.
Realçando aqui que um dos primeiros que se pronunciou publicamente
sobre o prédio foi precisamente António Matos Reis que por volta dos primeiros
anos setenta numa nota de poucas linhas no Notícias de Viana se referiu a um
outro prédio a construir do lado nascente ao do Coutinho cuja volumetria o levou a escrever que manifestava a
esperança de “ que não se transformasse num outro vianossauro como a obra que se
erguera ao lado”.
E é ainda Matos Reis que manifesta hoje que “ Embora considere que o edifício, com a volumetria que o caracteriza,
não devia ter existido, não me solidarizo com o processo (ou melhor, com o modo
como tem sido conduzido o processo) em que ultimamente tem sido envolvido, com
a pretensão de o demolir”
Em Dezembro de 1986 assisti e participei, num Colóquio - Como Cresce a Cidade - onde um dos oradores disse que resolvia o caso do Prédio do Coutinho destruindo apenas um andar
- O PRIMEIRO.
Dizia-se, em
tom jocoso, que o melhor sítio para contemplar a cidade era em cima do topo do
Prédio do Coutinho. Pois era o único sítio onde não se via o Prédio do
Coutinho!
Em 1990 um economista que sabia mais de contabilidade do que Cavaco Silva, dá a ideia, numa entrevista, de o reduzir a seis andares.
O problema é que cortar sete andares ao prédio seria mais caro que atirá-lo
completamente abaixo. Após o 25 de Abril já tinha sido alvitrado atirar com
aquilo abaixo. Mas não havia dinheiro para tal. Mas um dia, um tal José
Sócrates, ainda não primeiro ministro, propõe-se
atirar com aquilo abaixo (irra que é demais!) e promove um programa para
polixar a coisa.
As opiniões começaram a dividir-se. Já que estava feito, estava feito e havia o
problema dos moradores. Em 2001 alguém, muito inteligentemente, fez notar que o
pessoal quando nasce o mais certo é morrer. Pelo que se podia concluir que
bastava esperar que eles (moradores já c’os pés pr’á cova) morressem e o prédio
ficaria devoluto. No entretanto a Câmara compraria andar a andar. O Tempo faria
o resto.
( Mas a coisa não fora bem assim. A culpa tinha sido do
contexto. A tirada tratava-se dum substracto do abstracto, meramente filosófico e não se referia aos moradores do Coutinho em concreto. Apenas lucubrações de encéfalos
pornograficamente distorcidos que tinham interpretado de tal forma)
Em 2007 o
Jornal Tal e Qual fez, durante dois meses, um inquérito sobre as aberrações urbanísticas e
outros mamarrachos em Portugal . Na generalidade foi a Quarteira que ficou em primeiro
lugar.
Em segundo o
…Prédio do Coutinho.
O Sócrates
chegou a Primeiro Ministro e por essa altura, o comboio da demolição entrou em
velocidade de cruzeiro. Travada e reduzida é certo por uma nova guerra ao
contrário.
- Que escândalo pretender agora atirar com o
prédio do Coutinho abaixo!!! ( Outra vez???)
E essa
guerra; desde as compras, as indeminizações, advogados, tribunais e outras artes marciais, já vai nos 34 milhões de Euros. Isto
relacionado à data em que a TVI fez as contas.
E no fim disto tudo o que se pretende
fazer no buraco tão penosamente conseguido à custa do Pédio do Coutinho?
- Um novo mercado!
E das imagens disponibilizadas
passamos do pânico ao terror.
Aqui volto a repetir as palavras de Severino Costa no COMÉRCIO DO PORTO em 16 de Novembro de 1965.!)
" Centro irradiante de cultura, afinal
poderia sê-lo se nos longos meses em que costumamos hibernar acendessem uma
lâmpada e acordassem a gente que nasceu e quer viver nas sombras desse burgo a
que José Caldas chamou de «fogo morto» como que - feito velho do Restelo -
tivesse deixado com essa fatídica legenda uma maldição sobre a terra onde
nasceu"
- Eis Viana dos Castelos - digo eu…
Mais acrescento:
- Viana é amor! Quem gosta vem, quem ama
fica.
- E QUEM CONHECE FOGE!
…e estas maiúsculas são da minha lavra a
que o Nosso Saudoso Amigo António Viana achava muita graça. É que além do mais, Viana não
sabe o que quer!
- Num me digam que depois de tudo, depois de 34
milhões, quando tudo voltar à estaca zero,
vão construir aquela tristeza???
- Peguem
nas fotografias do antigo mercado. Acrescentem um piso. A cércea circundante
aguenta muito bem e a coisa não fica estilo acaçapada!. Ampliem-nas até à
escala real. Vão aos de São Mamede e encomendem umas paredes em tijolo. Depois
reboquem-nas. Os de São Mamede também fazem. Exibam as fotografias para que o
Banksy as veja. Pode ser que um dia passe por cá e pinte uns murais de acordo.
Ou então ampliem as fotografias à escala real e colem-nas. O espaço interior
servirá (provisoriamente) na mesma para mercado dado que no que temos ( e
sempre tivemos) as mercadorias são simplesmente espalhadas em bancas
improvisadas ou mesmo directamente no chão.
Aqui vai
o frontispício.
E os turistas ao chegarem ficarão maravilhados.
- Que linda que é Viana!
- É mesmo… mesmo como nos postais!!!
Montem uma banca para recolher pareceres dos
autóctones e dos peregrinos
E esperem um
tempo para levedar as ideias.
Pode ser que se decidam daqui a umas dúzias de anos!
Areosa, 3 de Outubro de 2020
António Alves Barros Lopes
Lopesdareosa
Tone do Moleiro Novo
Como sempre um texto excelente! Um abraço
ResponderEliminarO melhor é num dar muito nas vistas!
ResponderEliminar- Inda enforcam os comentadores com o comentado!