Cerco devocional às minhas Devoções Ovinianas
Este título é apenas uma utilização (quiçá abusiva!) de outros dois, um de
Antunes de Abreu e outro de Almeida Fernandes.
E o certo é que a minha Devoção Oviniana foi cercada. Sitiada até. - Eu
explico!
Absorvente de conhecimentos, sempre me habituei a admirar aqueles
demonstrados por Antunes de Abreu substantivamente substanciados e compilados
na sua monumental HISTÓRIA DE VIANA, lá fui eu, todo lampareiro, ao Tribunal Administrativo de Braga
testemunhar que, ao que me era dado a saber por muitos outros e também por
Antunes de Abreu;
- Vinha de Areosa partia
com a Villa de Vianna por alturas da Capela de S. Roque!
- E em que medida é que Antunes de Abreu contribuiu para inchar o Pedro da
minha erudição? - Simples:
- Tinha lido
este historiador no A FALAR DE VIANA, em 2001, página 225, em que descreve a
DEFESA RELIGIOSA DE VIANA e relata que por causa das epidemias do Século XVII a
Vila de Viana se tinha rodeado de novas defesas por isso “:::
ao Campo da Pena restaurou-se ao estilo barroco a Capela de S. Sebastião…”
e “…na saída noroeste constrói-se, a Capela de S. Roque em 1636”. Fazendo
publicar uma fotografia da Capela de São Sebastião que se encontra, não na
periferia, sim bem no meio de Areosa mas informando estar esta mesma
“…capela de S. Sebastião no começo de Areosa.” Ora a Capela que
estaria mais perto do começo de Areosa é aquela que que se situava na saída Noroeste
da Vila, muito perto da de S. Roque, e não a da fotografia. Aqui o
historiador localizou mal a capela mas fugiu-lhe o teclado para a verdade.
– A capela, que estaria no começo de Areosa, é
a mesma que estava na saída de Viana. Não há outra! A da fotografia é a Capela
de S. Sebastião de Areosa que não está no seu começo mas sim a meio do Lugar do
Meio!
O Autor
acompanha o texto com uma Planta intitulada CERCO
DEVOCIONAL e legendada
elucidativamente: Mapa de Viana da Foz do Lima em 1758
de Eng. João Martins da Cruz, onde estão bem assinaladas as estações da Via
Sacra.
E já Viriato
Capela, em 2005, na sua obra AS FREGUESIAS DO DISTRITO DE VIANA DO
CASTELO (nas Memórias Paroquiais de 1758), pg. 512, remete para Antunes
de Abreu in Igreja de Nossa Senhora d’Agonia, em que se pode ler: “Pouco
depois, em 1623, no sopé, (do monte de Santa Luzia, sobranceiro ao
Castelo…) junto à estrada de saída para o Norte aqui se instala uma
Capela de invocação de S. Roque.” Mais ainda que: “
Em 1670, levanta-se em Viana uma via sacra que contorna a Vila pelo
Norte…” e findando esta Via Sacra na Capela do mesmo nome, capela perfeitamente
identificada neste texto citado.
Nota: As
Capelas de S. Sebastião ( Já desaparecida), de S.Roque, da Via Sacra na saída de Viana (ou no começo de Areosa) e
o próprio percurso da Via Sacra, estão perfeitamente identificadas nesta planta na
PLANTA DA VILLA DE VIANNA E SUA BARRA E CASTELLO (em 1756) existente na Sociedade de
Geografia de Lisboa.
(Nota que não consta no texto publicado na AURORA. Detalhe importante de realçar que nesta Planta. Não só estão representadas as estações da Via Sacra. Está representado, como já se disse, o trajecto da própria Via Sacra desde o Convento dos Capuchos até à Capela da Via Sacra, num ponteado perfeitamente visível!)
Assim a situação, na saída da Villa, das
Capelas de S. Roque, da Via Sacra e de São Sebastião (esta já não existe ) conjugada
com a tal Via Sacra que contornava a Villa pelo Norte dá a informação precisa
onde acabava a Villa e começava Vinha de Areosa. Pois se a tal Via Sacra
contornava a Villa Pelo Norte a Villa ficava pelo Sul!!! (Conclusão estilo la
Palisse!!!)
Mais convencido fiquei que a coisa estava resolvida dado que a própria
Câmara da Villa de Vianna tinha, em 1846, na reunião de 14 de Abril,
feito constar em Acta que se deliberara declarar perante o Comissário das
Contribuições do Concelho que os limites desta Vila são “Pelo
Nascente o regato de S. Vicente que imfina com a Freguesia da Meadela, epelo
Norte os montados das mesma freguesia e da Areosa athé á Cancela sobre a
Estrada, em seguida ao Campo d’Agonia, junto à Praia do Mar;…”
Ora não é difícil encontrar na cartografia do século XIX ou mesmo no século
vinte onde é que o Campo d’Agonia se encontrava Junto à Praia do Mar. Mesmo nos
dias de hoje se pode recorrer ao testemunho do Professor Cruz
Lopes que em 2015, no A FALAR DE VIANA Edição de VIANAfestas, página
67, descreve muito bem toda a envolvente da Senhora d’Agonia pormenorizando que
segundo a cartografia hidrográfica do sec.XIX o chamado Campo de Nª Srª
d’Agonia “… era aberto ao mar sem casario…”.
Mais ciente fiquei do triunfo dos meus convencimentos dado que,
precisamente Antunes de Abreu e Cruz Lopes, eram testemunhas nesse mesmo
processo!
Mas eis senão quando vi e ouvi do testemunho ( do qual guardo a respectiva
gravação) que Antunes de Abreu forneceu ao auditório, que a tal fronteira não
era afinal nas cercanias de S. Roque mas mais para norte algures entre o
Matadouro (hoje abandonado) e o Amazonas! Atirando, no mar, para um ponto cerca
de quase um quilómetro mais para Norte do tal sítio onde o Campo d'Agonia bate
na praia (Limite da Villa segundo atesta a Câmara de Vianna em 1846!)
Assim entalado entre o cerco devocional e as minhas Devoções Ovinianas (as tais de
Almeida Fernandes)! acabo por ter que aceitar,
de Antunes de Abreu, (mais) uma lição de vida! É que se pretender informar-me
sobre História de nada me vale ler este Autor. Se
pretender saber a verdade (histórica) só
a verdade (histórica) e nada mais que a verdade ( histórica) tenho que ouvir as
declarações de Antunes de Abreu em tribunal e sob juramento!
Dezembro de
2018 – António Alves Barros Lopes
Texto publicado na A AURORA DO LIMA em 24 de Janeiro de 2019
E com os cumprimentos do Tone do Moleiro Novo
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