sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

A CANÇÃO DE VIANA (SEM CASTELO)


A Canção de Viana é este o título do texto de Pedro Homem de Mello como aparece no seu PECADO de 1942... ...e quando, por último, proclama que: "A minha terra é Viana..." acrescenta,
acabando "Ai este sol que me abrasa/ E estas sombras que me assustam!"

Mas comecemos pelo princípio, que o fui encontrar em Almeida Fernandes numa alusão arrasadora  acerca daquilo a que, na sua fina ironia, chamou de... 

"VIANA DO CASTELO NENHUM!"

Está no MEADELA HISTÓRICA de 1994 na página 23, em rodapé, ao referir-se à parvoíce dos liberais de então e mais recentemente dos republicanos, tentando eliminar o nome da Santa (Marta) do topónimo da Freguesia, demonstrando que o PORTUZELO é apenas um acessório. 

(Mais recentemente os de Santa Marta tiveram que se impor perante os mesmos de sempre, ou seja, os de agora!) 

Já na página 131 O mesmo Almeida Fernandes, na mesma obra, quando se refere ao relacionamento da Meadela com Viana, afirma: 

"A história anda mal ou pouco conhecida...e conservar-se « do Castelo» é uma prova facciosa"

Mas a história, bem contada, está em COMO NASCEU VIANA -1958 - do mesmo Almeida Fernandes. Que a pags.28 coloca como nota (2) de rodapé quando se refere ao;

"...belo nome de Viana ... tão belo que só veio desfeá-lo chamarem-lhe «do Castelo». Tão belo que já ensandeceu cabeças de adoradores, que lhe inventaram Biduanas e Aradiosas."

E acontece que a história do pingente castelo no nome Viana está feita! Ver Matos Reis em...

https://loca-maritima.blogspot.com/search?q=Viana+cidade 

...ou seja, nos documentos emanados  da Câmara de Viana nada consta acerca de castelos. Aí, Viana, era do Minho.                  (Pessoalmente preferiria Viana da Foz do Lima, de documentos mais antigos.) 

Mas Viana foi ao crisma e Dona Maria, a segunda, acrescentou-lhe a do castelo sem explicar porquê e sem que para tal tivesse sido instada.

Ora a tal elevação da Bila de Biana foi pedida em 1845 mas só acontece depois da desilusão da Patuleia (já em 1848). 

Os revoltosos perderam na política os ganhos no terreno. E em Viana fizeram passar os defensores do Forte de Santiago da Barra, as passas do Algarve. No meio da refrega e vendo as coisas mal paradas um tal Melquiades Sobral foge e embarca em frente ao Rapelho. E vai à boleia dos Ingleses até Lisboa entregar as chaves da fortaleza à Rainha, deixando os seus correligionários à penúria e à sua sorte. Ou seja; este acto pretensamente parecido com aquele da lealdade  do alcaide que foi entregar as chaves ao Sancho, morto, para só depois prestar vassalagem ao Afonso III, posto, afinal não passou de um acto cobarde. O avinagrado José Caldas do alto do seu radicalismo e azedume apenas comentou desta maneira:         "Este acto porém resultou numa anedota infeliz"

Mas, no fim, e com o auxilio estrangeiro, quem ganhou foi a Dona Maria que, vai daí, fazendo a vontade aos vilões de Viana os promoveu a cidadãos! E acabou por lhes impor o tal castelo que apopulaça atrevida tinha colocado a ferro e fogo!

Curioso é que Alberto Antunes Abreu se tenha referido a esta bravata do Senhor Sobral como um;

"Notável Feito" 

(ver Para a História de Viana do Castelo - Ensaios I de 2004 pag 74

Também aqui AAA dá uma informação ambígua!  Que: 

"Este Notável feito...foi muito oportunamente aproveitado pela Câmara Vianense a concessão de antiga pretensão local: a elevação da Vila à categoria da cidade";

O correcto seria informar que já em 1845 (dois anos antes destes acontecimentos), a Câmara de Viana tinha formalizado  junto da Rainha a tal antiga pretensão local Mas nunca  se referindo, essa formalidade, a qualquer alteração do nome de Viana nem que deixasse de ser do Minho para passar a ser apenas ;"...do Castelo:" 

Até o Caldas, uns tempos mais tarde, se veio rir dos acontecimentos.  O que não admira!

É por mais evidente que os de Viana não ficaram lá muito agradados com a imposição da Rainha.

E ainda na correspondência a seguir à data da elevação a cidade (20 Janeiro de 1848) não utilizavam a nova designação. Nem nas próprias Actas. Mesmo a Heráldica nunca, até ao Estado Novo, considerou qualquer Castelo. O símbolo de Viana foi sempre uma embarcação ( Caravela, nau, galeão, lugre, catraia, fragata, chalupa barco a remos, pouco importa). Até nas propostas de Figueiredo da Guerra e de José Cirne nos fins do século XIX ou já no dealbar de XX, não há castelos! Só em 1931 é que aparece o tal castelo. Ver DG 1ª Série 203, 03 de Setembro de 1931.

Esta faceta está muito bem explicada por Antunes Abreu no mesmo trabalho. ( ver Para a História de Viana do Castelo - Ensaios I de 2004 pag 51) Mas apesar de todas estas evidencias e da posição de Almeida Fernandes, coisa surpreendente, dado os rasgados elogios que AAA lhe faz (a Almeida Fernandes), tanto no prefácio da MEADELA HISTÓRICA como em "...Para a História de Viana do Castelo - Ensaios I de 2004 pag 33"...Antunes de Abreu diverge do Mestre, .......pois em..."Para a História de Viana do Castelo - Ensaios III de 2007 pag 33"; página 41, faz a apologia do castelo adjungido a Viana em 1848.

Do texto realço duas passagens: "O nome de..Viana do Castelo"; ..."tem um significado que as armas falantes que lhe foram atribuídas consagram. Viana é o nome do lugar onde se instalou a vila. O castelo que lhe foi adjungido ao nome em 1848 tão bem e tão definitivamente lhe colou por vir de encontro à história e ao imaginário que lhe dá sentido."

- Qual história??? - Se é o próprio Antunes Abreu que explica que, no caso, não se trata verdadeiramente de um castelo mas sim de um amuralhado???

Ver 

"para a História de Viana do Castelo - Ensaios II de 2005 pag.

250-252"

-Imaginário???

- De quem??? 

Da Rainha decerto. Antes dela ninguém imaginou tal coisa.                     E continua Antunes Abreu;

"Por isso o nome lhe fica bem: Viana sem castelo seria uma cidade amputada de muito do sentido da sua história. Os nomes constituem, de facto, uma segunda natureza como muito bem poderia ter dito Aristóteles"

Esta passagem é demais! 

Em primeiro lugar LISBOA, por não lhe ter sido adjungido, ao nome, o castelo que tanto custou conquistar, é uma cidade amputada de um dos mais importantes estos da sua história.                                     ( E de Portugal- já agora)

Podemos deduzir. Se pensarmos bem faria mais sentido LISBOA DO CASTELO do que...

E depois vejam só! 

Não fora o improviso da Rainha Dona Maria, Viana seria Viana do Minho  e lá continuaria o Aristóteles com a sua razão de que;

 “Os nomes constituem, de facto, uma segunda natureza”. 

Natureza do Minho, no caso!

Afife, Dezembro de 2024

António Alves Barros Lopes

NOTA 

Este texto foi publicado na A AURORA DO LIMA em 23 de Janeiro de 2025

2 comentários:

  1. Francisco Maria Melquíades da Cruz Sobral, (1813-1897) foi promovido a Major por distinção, tendo-lhe sido conferida a condecoração da «Ordem da Torre e Espada» pela soberana.

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