quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Quinta da Cancela de Areosa


Quinta da Cancela de Areosa.

Onde dei de caras com um tal Voltaire

Consumidor de cultura e de conhecimento, não emano 
dessas coisas… absorvo-as!           

(mas nem tudo aproveito!) 

Socorro-me assim de quem detém as fontes da sabedoria 
para encher o meu labrego alforge de aldeão inculto.

Daí que, ao ler o FALAR DE VIANA de 2018 (pg. 63), tomei conhecimento de uma ideia de um tal VOLTAIRE (1694-1778) de que “aos vivos deve-se a consideração e aos mortos a verdade” na oportuna citação aí  feita por José da Cruz Lopes.

Acontece que esse mesmo  autor, José da Cruz Lopes, se refere num outro seu texto em a FALAR DE VIANA de 2015 (pg. 68) a: 

…uma mata de pinheiros, vinculada à antiga Quinta de Monserrate, sita na então denominada Cancela de Areosa (1864).” 

Acontece também que, em 1864 a Quinta de Monserrate, não era denominada Quinta de Monserrate, tanto menos que o crisma não é assim tão antigo.

Nessa data, 1864, conotada com o dono, era tida pela Quinta de 
Figueiredo da Guerra. 

Mas o nome original, referido à toponímia do local, foi reconhecido pelos próprios proprietários ainda e quando, em 4 de Agosto de 1887, foi celebrada uma escritura pública no tabelião Júlio Sem Pavor Carneiro Geraldes – em que estes se 

“…obrigam e hipotecam a sua quinta denominada da Cancela d’Areosa…” 

a favor do Banco Mercantil de Vianna e que deu origem à descripção 18 833 a Fls 67 do libro B – 48 na Conservatória de Vianna  onde continua a constar 

“…Quinta denominada da Cancela de Areosa…”. 

Com a particularidade de aí estar expresso que a dita Quinta se situava nas Freguesias de Areoza e de Monserrate!!!

Acontece que já em 4 de Setembro de 1922 parte da Quinta (onde tinha existido o Colégio das Religiosas de S. José Cluny) foi comprada, à Comissão Jurisdicional dos Bens das Extintas Congregações Religiosas, pela GNR. dando origem à inscrição 16261 na Conservatória de Viana. 

E o curioso é que nessa altura é mencionado que o Prédio é o tal descrito sob o nº. 18833 tendo sido (nesta data repare-se!) acrescentado, na sua descrição, que se havia verificado que aquela quinta também era denominada de Monserrate. 

Ou seja é a partir dessa data que a Quinta da Cancela de Areosa passa a ser Quinta de Monserrate sem qualquer referência a Areosa.

Ora se o prédio 18833 estava situado nas freguesias de Areosa e de Monserrate, onde está agora o que estava do lado de Areosa???

- Aconteceu com o quartel da GNR a ficar todo em Monserrate, que deveria à data ser uma vergonha para Viana estar situado em Areosa. 

E aconteceu o mesmo a todos os outros prédios desanexados do 18833 

PE Campo de futebol e Terreno da Pecuária. 

- Onde está hoje a parte correspondente da quinta que se situava em Areosa???.

Esta é a história que eu posso contar mostrando que a antiga Quinta dita de Monserrate não é assim tão antiga…!

E esta é a história que eu posso contar aos abespinhados que perguntaram 

- Qual história? 

                                                                quando os de Areosa se queixaram que a Vila de Viana  sempre avançou sobre Santa Maria de Vinha de Areosa sem que se saiba a justificação.

De notar que antes de tudo isto já o Senado da Câmara em 1846 tinha deliberado informar que o limite da Vila de Vianna ia ter onde o Campo d’Agonia batia no Mar

Mas a Vila de Viana nem se contentou com a divisão da, e na Quinta da Cancela de Areosa. 

Ainda andou com o limite mais para Norte.

Já agora aproveito também para precisar mais detalhadamente uma outra afirmação de JCL desta vez em A Falar De Viana 2019 (pg 72). 

“..ter-se atribuído a uma antiga estrada real de saída da cidade para Norte, desde o antigo ancoradouro/doca de pesca em direcção à zona da Cancela de Areosa, a norte da antiga Quinta de Monserrate, passar a chamar-se estrada/Rua de Nossa Senhora de Monserrate”

ORA:

- A antiga Quinta de Monserrate afinal era a antiga Quinta 
  da Cancela de Areosa


- Este topónimo corre desde S. Roque a Sul da Quinta e        até  ao Norte desta

- A tal estrada Real era (como consta nos documentos 
  dos meados do século XIX) a Estrada de Caminha. 

E, de facto, passou (quando?) a ser a Rua de Monserrate.


Conclusão:

- Até o raio da  toponímia atirou com Areosa         para Norte!!!

Aquilo que eu também concluo é que na  Grande História há sempre pequenas histórias para contar e/ou por contar.

Aqui para nós, acho que esse tal VOLTAIRE, citado no início
deste texto, deveria ser um tipo muito limitado. 

Sei uma d'um grande filósofo,o Tone do Moleiro Novo, que 
será, nesta problemática, muito mais universal.             

Disse o TMN do alto da sua ignorância!



“Devemos  toda  a consideração e toda a verdade 

  tanto aos vivos como aos mortos.”



(E eu gosto mais d’esta do que da do Voltaire)

António Alves Barros Lopes





Texto Publicado na A AURORA DO LIMA em 28 de Novembro de 2019

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