FOGOS FLORESTAIS
No tempo do Santa Comba dizia-se que
Portugal era a terra dos três “Éfes” – FÁTIMA, FADO e FUTEBOL. Tão forte era a
tradição que a coisa sobreviveu ao dito cujo. Com um acrescento eu. Será hoje mais
pròpriamente a terra dos cinco “Éfes” FÁTIMA, FADO, FUTEBOL e FOGOS FLORESTAIS.
E a coisa é tanto mais
surpreendente quanto e desde que entrámos para a CEE, ( tomemos essa data como
referência) todos os anos a coisa se repete; Portugal rural ( e não só) arde!
Mas não será tão surpreendente assim! O modelo do desemborbimento implantado
pelos crânios infalíveis dimensionou, quantitativa e qualitativamente, Portugal
para arder!
É que também todos os anos se repetem
nos nossos meios de comunicação social as mais diversas considerações sobre o
assunto, vindas dos mais díspares, insuspeitos e improváveis comentadores,
opinadores, especialistas e outros catequistas. A grande maioria dos quais nunca
terão cortado mato na vida, nem tão pouco colaborado no combate a qualquer
incêndio!
Daí que espanta como é que ainda
não se encontrou uma solução estrutural e estruturada para o problema.
Didáctica não falta. Basta aos responsáveis coleccionar, estudar e sintetizar o
que foi dito e escrito durante, pelo menos, nestes últimos trinta anos para aí
encontrar todas as respostas necessárias.
Este ano acontece de novo. E
também como é costume a coisa aquece nos meses de Verão. Deixem chegar o Inverno
e vão ver que a coisa esquece e já ninguém mais opina até à abertura de nova
época do vermelho.
De entre tantos argumentos e testemunhos
vou realçar dois destes, recentes, saídos do JN, minha leitura de todos os dias
e confrontar com algumas noticias sobre os incêndios no particular caso do
Parque Peneda Gerês.
JN de 20 de Agosto - ÁREAS PROTEGIDAS ARDEM MAIS “ …sobretudo a
de Peneda-Gerês (que perdeu 7009 hectares de Floresta)…” – pg 10
JN de 31 de Agosto – GERÊS JÁ PERDEU 1300 HECTARES DE FLORESTA
– pg 26 ( Para se entender, esta noticia
refere-se a que este Verão já ardera essa área até ao incêndio referido na
noticia anterior.)
JN de 6 de Setembro – 3,4 MILHÕES PARA TRAVAR FOGOS NA
PENEDA-GERÊS – pg 32 ( que confirma os tais 7000 hectares ardidos numa área
total de Parque um pouco mais de 8500 Hectares)
O anúncio desta notícia fá-lo João Matos Fernandes, Ministro
do Ambiente, de quem realço as seguintes afirmações
:
“Sabemos que o fenómeno dos incêndios é muito complexo. Zonas com os
aceiros muito limpos e pontos de água identificados não deixaram de arder”
Esta não é novidade! Curioso é o reconhecimento de que os
aceiros de pouco servem a não ser para perder terreno útil que poderia estar
ocupado com espécies resistentes ao fogo!
“Temos que ter mais gente no terreno e mais equipas de sapadores
florestais”
A fazer o quê? Empreitadas? – Porque não ter o terreno
ocupado por indígenas que convivam e cuidem do território? Quem foi que
promoveu o despovoamento do interior e o alheamento do mundo rural tanto aí
como no litoral?
“Projecto inclui medidas de proximidade, de parceria na acção e de
protecção do parque”
Isso quererá dizer que os habitantes da Peneda Gerês vão ser
tidos e achados no assunto e passarem a ser importantes na conservação dum
património dito agora valioso mas que chegou até nós graças à acção dos seus
ancestrais?
Quantos desses milhões chegarão aos proprietários para que
possam ter meios económicos para cuidar daquilo que lhes pertence?
Que significado terá no meio disto tudo uma outra noticia do
JN de 11 de Setembro, pg 26
“Peneda-Gerês Governo
estuda novo modelo de gestão para as áreas protegidas AUTARCAS VÃO PODER MANDAR
NO PARQUE”
Então quem manda no parque? Um modelo de gestão que inibe
os habitantes locais de tudo e mais alguma coisa mas falha rotundamente na
protecção destes e seu território, do lume que consome aquilo que deveria ser a
preocupação maior – A Floresta!?
Não será uma aberração completa a Gestão, nomeada, do parque
se sobrepor ás competências de Autarquias eleitas? – Só agora deram por isso?
Mas a coisa não fica por aqui
No JN de 11 de Agosto aparece um artigo de opinião– CHEGA DE
ENGANAR- de Cristina Azevedo - que se
identifica como Analista Financeira, onde se refere aos fogos de uma maneira mais
ou menos genérica.
Mas já no JN de 8 de Setembro particulariza num
outro artigo - Incêndios florestais? Uma
ideia, sr. PM!
A ideia afinal são cinco!
- Constituir mosaicos de
descontinuidade, impedindo ou contendo a propagação de fogos; - Boa ideia repisada de
muitas outras de há trinta anos para cá desde que não insistam muito na falácia
dos aceiros.
- Regenerar as áreas
ardidas . Boa ideia repisada de muitas outras de há trinta anos para cá e que se
alguma vez tivesse sido bem executada já teríamos o território ordenado pois
arder já ardeu tudo o que havia para arder.
- Estimular a diversificação florestal,
promovendo as espécies autóctones de baixa combustibilidade; - Idem, Idem. Aspas, Aspas.
- Criar condições
favoráveis à constituição de ZIF (Zonas de Intervenção Florestal);
Aqui é que a coisa começa a descambar. Santa ingenuidade
- ZIFs para quê?
Gostaria muito de mostrar à Senhora Cristina Azevedo o perímetro da ZIF
de Viana do Castelo e de lhe mostrar a área ardida nesse mesmo perímetro. Que
pergunte aos de Outeiro e Nogueira para que é que lhes serviu a ZIF. O fogo só
não passou para a encosta Poente , não devido à ZIF mas sim à existência dos
núcleos urbanos de Outeiro e Perre e do Rio das Carvalheiras.
Seria também muito elucidativo se essa sobreposição
fosse estudada em todas as ZIFs que se constituíram por esse país fora.
Mostre-me a Senhora Cristina uma ZIF que tenha
evitado um incêndio e eu adiro ao soviete que implantaram para os nossos lados!
Mas a melhor das ideias é esta!
- Lançar uma OPA Florestal, como no caso
do Município de Pombal que decidiu estar
disposto a comprar parcelas florestais que permitiriam realizar as operações
anteriormente descritas. Os terrenos seriam graduados segundo certos critérios
e seriam adquiridos entre 40 cêntimos/m2 e 1 Euro/m2 dependendo da pontuação obtida
e depois de adquiridos seriam geridos tendo como compromisso a salvaguarda da
biodiversidade, a produtividade e a vitalidade dos povoamentos.
Seriam geridos por quem?
- Pelo Estado Sra. Cristina?
Veja o que acontece nas áreas sobre a dependência do Estado! Veja o Caso da
Peneda e Gerês. Mostrar-lhe –hei, se quiser, o lindo estado em que o Estado
deixou o Baldio da Minha Terra!
– Adquirir mais terrenos para quê?
- Para que lhes aconteça o que está a acontecer na Peneda Gerês?
– Adquirir mais terrenos para quê?
- Para que lhes aconteça o que está a acontecer na Peneda Gerês?
-Não ouviu a Senhora Cristina o testemunho do Bombeiro Marco Ferreira dado
em Arouca ao Jorge Gabriel no passado dia 12 no programa Nação Valente, pelas 12H20?
Vou reverter de memória.
“ O Problema é do Ordenamento Florestal. A Floresta
não está estimada. Está mal estruturada. Olho hoje para o que acontece no
Parque Peneda e Gerês. Já lá andei há seis anos. Tem bons acessos mas estão
tapados. Fechados. E o Estado é o pior. A Floresta do Estado não tem ponta por
onde se lhe pegue!”
Mas espectacular é a conclusão
“Não tenho dúvidas das mais-valias criadas
por este tipo de intervenção pública”
Também eu
não!
Imaginem uma Câmara, ou o Estado, a
adquirir terrenos a preços médios de 70 cêntimos por m2 dado estarem zonados
como áreas florestais, e depois retirar esse ónus dos PDMs ( ficariam com a
faca e o queijo para o fazer ) para negocia-los sabe-se lá para quê. Imaginem
as mais valias que de facto seriam criadas por este tipo de intervenção pública!
-E se fosse um PIN?
lopesdareosa
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