O PÚBLICO de Domingo, 4 de Março último, no seu Editorial faz referência à " ...destruição de milhares de hectares de terrenos agrícolas com alguma aptidão agrícola..." num texto que se centra sobre o esquecimento do território e a perda de solos agrícolas ou o equilíbrio entre o mundo rural e o mundo urbano problemas que, segundo o mesmo editorial, desapareceram das agendas dos governos.
Em primeiro lugar o texto é macio. Não foram apenas terrenos com alguma aptidão agrícola. Foram também terrenos com
enorme aptidão agrícola.
Depois vamos fazer o enquadramento do circulo destas coisas. ( É possível transformar um círculo num quadrado muito embora os matemáticos digam que não!). Esta mesma edição do PÚBLICO dedica 5 páginas ao tema "Seca severa agrava desertificação, que já afecta 63% do território nacional."
enorme aptidão agrícola.
Depois vamos fazer o enquadramento do circulo destas coisas. ( É possível transformar um círculo num quadrado muito embora os matemáticos digam que não!). Esta mesma edição do PÚBLICO dedica 5 páginas ao tema "Seca severa agrava desertificação, que já afecta 63% do território nacional."
Ora já no dia 2 de Março, Sexta-feira anterior, o mesmo PÚBLICO fazia referência a que Portugal Continental estava a viver a pior seca dos últimos 30 anos a qual iria continuar. Isto na página 6 onde constava também uma série de mapas onde eram apresentadas, a cores, as manchas dos diversos níveis de seca distribuídos por diversos anos, onde aparece assinalado em 2012 que uma zona de maior seca - SECA EXTREMA - era precisamente o Litoral Norte entre o rio Douro e o Rio Minho.
Essa mesma informação, citada como tendo fonte no Instituto de Meteorologia, já tinha sido publicada no EXPRESSO de 18 de Fevereiro deste ano, inserida num texto da responsabilidade de Virgílio Azevedo.
Mas, o mais curioso é que nesse texto e ao mesmo tempo tempo da informação mapeada, está escrito que "As pastagens e os cereais de sequeiro são para já as culturas mais afectadas pela seca, sobretudo no Alentejo e em Trás-os-Montes com as consequências óbvias para a criação de gado."
Mapa publicado no JN em 17-03-2012 com dados referidos ao dia 15 anterior
- Como raio se entende isso?
- Sendo o litoral minhoto afectado por uma seca extrema, afinal onde não há de dar de comer ás vacas é em Trás-os-Montes e no Alentejo afectados por uma seca classificada sòmente como severa. ( Em 2005 em parte de Trás-os-Montes a seca sofrida era seca moderada).
É evidente que a falta de pasto não está directa e imediatamente ligada à seca meteorológica. E quem duvidar que venha às Veigas de Areosa, Carreço e Afife - situadas na tal região onde a seca é extrema - e que venha ver se há falta de pasto ou se as culturas de inverno não estão verdinhas! (apesar da seca!).
É que os terrenos são outros. Dirão. Ah! É verdade! Então porque carga de água é que, terrenos como estes ou melhores, são destruidos???Quantos miles de hectares de terrenos como os de Areosa, Carreço e Afife foram impermeabilizados e artificializados no nosso litoral desde Caminha até Setúbal (and byonde).
Porque é que se artificializam terrenos que não são afectados pelas secas e se manda a agricultura lá para detrás dos montes ou para o além do Tejo onde o gado, como sucedeu em 2005, para comer só tinha pedras.
Mas apesar de todos os textos, apesar dos Orlando Ribeiros, Dos Ilídios Araújos, dos Losas, dos Ribeiros Telles, dos Josés Correia da Cunha, dos Marcelinos Pereira da Rocha, não aprendemos nada!
Arrepiei-me ao ouver o telejornal do Canal Um da RTP pelas 13H00 em 5 de Março um Senhor da Universidade de Aveiro defender a construção dum parque da ciência em 35 hectares entre Aveiro e Ílhavo em terrenos da estratègicamente integrados na RAN que, convenientemente, iriam ser retirados de tal sujeição graças a uma alteração do PDM.
Brilhante!
Resta agora saber, no eventual processo de expropriação, quanto vão pagar aos desgraçados que foram até agora, por via dessa sujeição, impedidos de construir, impedidos de legalizar as suas casas, impedidos de vender os seus terrenos para o que dá dinheiro ( betão e cimento armado).
A coisa foi no dia seguinte noticiada no JN. 118 proprietários vão de vela. Terrenos casas e tudo para instalar uma instituição que poderia funcionar em qualquer outro lado. Uma instituição que deveria defender precisamente o contrário, a não inutilização de terrenos de cultivo.
Voltemos a Marcelino Pereira da Rocha que em 1965 expressava:
"Encontrando-se em fase adiantadíssima de publicação, pelos Serviço de Reconhecimento e Ordenamento Agrário, não só a Carta de Solos do País, como também a da Capacidade de Uso do Solo, não seria difícil proibir completamente ou, ao menos, condicionar, em moldes apropriados, a utilização dos solos de capacidade de uso agrícola (classes A,B e C) para fins não agrícolas. Ao menos, os solos de classes A e B, tão pouco frequente entre nós, devem ser, por essa via, urgentemente defendidos.)"
Voltemos aos 35 ha de terreno agricola em Aveiro que vão par o maneta!
Como vai ser instalado lá um Parque de Ciência e Inovação pode ser que, por ironia, a Universidade de Aveiro vá estudar como é que a natureza levou milénios para consolidar terrenos por via de sedimentação ou acumulação de aluviões, o que deles fizeram o arroteamento levado a cabo por gerações e gerações durante centenas de anos e em que lapsos de tempo é que as rectro escavadoras dão cabo desse trabalho. E também a que ritmo se fez essa destruição, de região em região, desde 1965 e tomando como ponto de partida ( pelo menos) as tais cartas do SEROA referenciadas por Marcelino Pereira da Rocha. Isso quanto à Ciência.
Quanto à Inovação seria útil, da Universidade de Aveiro, também estudar o processo e seus custos de tentar com os meios tecnológicos disponíveis, replicar esses terrenos destruídos. E uma vez resolvidas as questões de granolometria mineralógica, de composições química, biológica e orgânica; explicassem como é que resolveriam a questão da réplica da localização mesológica desses terrenos. Exposição, micro clima, cota referida ao nível do mar, proximidade de cursos de água, lençóis freáticos, etc. etc. etc.
Mas como estamos em Portugal nem isso acontecerá.
Certo mesmo é a destruição de mais uns hectares de terreno agrícola e mais, alguns, lamentos como o do o editorial d'O PÚBLICO de Domingo, 4 de Março último.
António Alves Barros Lopes
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