Citânia de
Santa Luzia.
Texto
revisto em 7 de Agosto de 2021.
O original foi
publicado em 20 de Novembro de 2020 no MINHO DIGITAL
Nesta versão
é acrescentado o testemunho do Padre João Tomás da Costa em 12 de outubro de 1929
no Jornal “Noticias de Viana”
Padre
Quintas.
No
seguimento do Marco Fascista, que a
AURORA DO LIMA publicou em 24 de Outubro de 2019 ( bons velhos tempos) venho
hoje com um dado novo acerca daquele local, agora entaipado, de que o Templo ao
Sagrado Coração de Jesus é vizinho – A Citânia.
Naquele
tal processo a que então me referi – a questão levantada no TAB por Areosa em
relação ao limite com Viana- presenciei,
numa audiência, o testemunho de José da Cruz Lopes que a dada altura ouvi nas suas
declarações em relação à fronteira entre Areosa, Monserrate e Santa Maria
Maior: (cito de memória!)
Que
se questionava porque é que tinha sido traçado um vértice comum. E não tinha
sido o topo norte da Citânia de Santa
Luzia. Porque a Citânia de Santa Luzia
era o berço da cidade. Era o
berço da Urbe que tínhamos hoje. A
citânia era um povoação antiga e era ocupada por vianenses pessoas mesmo de
Viana. Quando estávamos a fazer o país vivia lá gente.
Defendia
assim, Cruz Lopes que, por isso, Viana
deveria confrontar com Areosa pelo Norte da Citânia dado esta ter sido o berço
da Cidade e por isso pertencia ao seu “distrito”.
A pergunta que faço de imediato é se a
Citânia não terá sido o berço também da Paróquia de Vinha.
A pergunta que faço é se Viana for a
herdeira da Citânia onde colocar Vinha na linha de sucessão se a Igreja de Vinha
já levava três séculos de história quando Viana (1258) apareceu?
Ouçamos ALMEIDA FERNANDES no seu
escrito “OS CULTOS OVINIENSES”, Meadela 1 de Agosto de 1962 que em relação a
1258,
“A Vila de Vinea era uma pocessão da Catedral
de tuy…desde havia mais de 3 séculos pois foi em 930 que o Rei de Leão Afonso
IV em escambo lhe concedeu esta vila…”
E por isso pergunto
- Há quantos anos já era Vinha de
(Areosa) uma identidade histórica quando em 1258 Afonso III deu foral a Viana?
- A quem pertenciam Adro, Castro e Figueiredo
antes do Foral???
– E antes de S. Salvador?
Mas
já nas MEMÓRIAS PAROQUIAIS de 1758 ( e não foi Areosa que apelou a este documento
no tal Processo)
–
O Pároco de Vinha de Areosa, Caetano Ventura, responde ao inquérito;
“
É (Vinha de Areosa) antiquíssima e lhe podemos dar a
mesma fundação na opinião mais provável e segura que os escritores nas suas
corografias asignan à notável Vila de Vianna pois aquela cidade célebre de
Santa Luzia onde a dita Santa tem a sua ermida a sua maior parte constituída pela Serra em que aparecem
vestígios de povoação discorrendo do sul para o Norte hé e sempre foi
distrito desta freguesia de Areoza.”
Em 1895 no ARCHIVO VIANENSE, FIGUEIREDO DA GUERRA
referiu-se, no seguinte texto, à
antiguidade da Igreja de Vinna em relação aquilo que um dia viria a ser Viana
“A egreja de Vinea é sem dúvida alguma a mais
antiga de todo o nosso extincto termo de entre Âncora e Lima: a ella pertenciam
as collações de Âncora e Villate.Na sua terra ou districto estavam as Villas de
Vinea ou Vinha, de Figueiredo, da Foz e de Castro…”
(
que diz ter pelo nascente 4247 varas até à Capela de Santa Luzia)
… aos
moradores de Areosa, de 1825 assim como
a remissão desse foro em 1922.
Depois e em 1930, FG, no Notícias de Viana, volta ao
assunto
“A vila da
Vinha do Séc X, a velha paróquia a que pertenciam as ruinas de Santa Luzia,
chama-se ainda hoje, Santa maria de Vinha de Areosa, e desta freguesia se
desmembraram, no tempo de D. Sancho I as terras que da Foz do Lima se estendiam
até ao ribeiro do Ameal, na Abelheira e criada então freguesia sufragânea, com
sede na Igreja velha das Almas… ( S. Salvador decerto)
Mas vejamos tempos ainda mais
recentes. Simões Viana in Cidade-Vélha. “Santa Luzia”. 2:13 (Jun. 1941), p. 3. Escreveu que
“O
espaço ocupado pela Cidade-Velha na
parte mais elevada da montanha voltada ao Sul, atingia toda a Bouça-do-Lebre, bouça onde foi
edificado o Hotel e seus anexos, todo o espaço ocupado pelo Parque, e ainda,
pelos terrenos onde estão situados o depósito da água, e Restaurante Palace.
(…)”
- Que Bouça era essa?
– Nada menos que a Bouça de
Santa Luzia situada em Areosa e que foi
adquirida a diversos proprietários Areosenses
pela Comissão dos Melhoramentos do Monte de Santa
Luzia na passagem dos século XIX para o Século XX
Mais recentemente ainda podemos ler de
ABEL
VIANA, quase nado e muito criado em Areosa,
o que no seu trabalho com MANUEL DE SOUSA OLIVEIRA, “Cidade Velha” de Santa Luzia
(Viana do Castelo), in Revista de Guimarães, LXIV. Guimarães,
1954, logo a abrir diz:
“Cidade
Velha” lhe chamam os vianenses na suposição de que elas representam a origem da
actual cidade. Directa sucessora esta não o é evidentemente…”
E
mais à frente escreve na pag. 18 dessa obra:
“
Decorreram dezenas de anos. O tojo, a carrasca, o silvado, as mimosas foram
invadindo as ruinas. Sobre estas foi-se criando novamente uma camada de terra
vegetal. O terreno pertencia à freguesia de Areosa. O
mato era sorteado, tinha dono e roço periódico, não sendo raro andarem por ali,
algumas cabras e gado a pasto.”
Se isto não bastasse podemos ainda ver
o que ALMEIDA FERNANDES escreveu
sobre o assunto nos CADERNOS VIANENSES em 1980 sobre a Cidade Velha ( Areosa) e
sobre o topónimo Citânia (Areosa):
Finalmente o topónimo Citânia,
substituído, ás vezes, por Cidade Velha (de Santa Luzia) em razão de se julgar
que a “Cidade” de que aí há os restos de muros e casas foi a antiga Viana” (49)
Aqui chegado AF faz esta chamada para em rodapé remetendo para um inventor do
século XVII: (49)
– “Esta Viana es la vieja cuyas ruynas parecen
en lo alto de uno monte al Norte” Etc. - Sandoval in Anteguedad de Tuy (1620) – Rematando AF com um
rotundo – CLARO QUE NÃO!.
( Almeida
Fernandes que em COMO NASCEU VIANA reconheceu a justeza de Figueiredo da
Guerra quando este fez a ligação de
Vinha com Ovínea)
Em 1985, na CAMINIANA, já FERNANDES MOREIRA publica um trabalho
sobre um documento de 1068 de Frei Ordonho Eris, sobre a fundação do Mosteiro
de S. Salvador da Torre que viera substituir o de Villa Mou.
Esse documento dá noticia de que…
“ As três vilas que ocupavam a maior parte
do actual território de Viana e integravam a paróquia de Vinea, isto é
Figueiredo , Castro e Foz”,
pertenciam ao Mosteiro de Vila Mou.
Acrescentando Fernandes Moreira uma
outra fala esclarecedora:
“Uma curiosidade revelada pelo mesmo
documento: Viana ainda não aparece como uma unidade territorial, nem mesmo como
paróquia, a seu respeito são citadas três vilas: Figueiredo, Foz e Castro.”
Ou seja Já Vinea era paróquia muito
antes de Viana ser Viana!
E mais recentemente Lourenço
Alves em “REFLEXÕES SOBRE A VIDA” 2003
pgn 71 e seguintes:
“Terra
antiquíssima ( Talvez a mais antiga de Viana e arredores, pelo menos
documentalmente) Areosa, ou Ovínia, como é conhecida através de documentos
verídicos a partir do século VI…”
Mais
adiante:
“…a
freguesia de Areosa… …bem pode reivindicar o título de Vila, como tem feito
outras terras menos favorecidas demograficamente. Aliás se isso tentar, não faz
mais do que restaurar uma velha tradição
com mais que um milénio de existência, segundo a qual Areosa foi Vila, couto e
sede de um arcediagado, ou arciprestado da Sé de Tuy que abrangia grande parte
da terra de S. Martinho ( que compreendia todas as freguesias do Lima e quase
todas as freguesias do concelho de Ponte de Lima) e todas as freguesias da Terra
de Caminha.
E adiante
“Quase
todos os cronistas, que referem a fundação da vila de Viana da Foz do Lima,
pretendem encontrar as suas origens na Citânia que lhe fica a norte. Contudo
esquecem-se de que, antes das vilas que formaram este velho burgo( Átrio,
Castro e Figueiredo) existia uma vila – Ovínia – que, certamente teve início na
velha citânia, onde no tempo dos Suevos aparece uma paróquia rural (pagus
Ovínia) integrada na Sé de Tuy”
Mais
recentemente, Antunes Abreu, no
inicio da sua História de Viana do Castelo Pgs. 129
“A Igreja de
Santa Maria de Vinha era a mais antiga da faixa litoral entre Minho e Lima e
englobava as colações de Âncora e Vilar (Riba) de Ancora. Este território
incluía as "Villas" de Vinea, Figueiredo, Foz e Crasto ( estas três
últimas serão assento da Vila de Vianna) e outras até ao Castelo roqueiro
Tarrúgio ( Sec XI -XII) no Penedo da era ( ao norte da Ermida de S.
Mamede)”
Remetendo
para o que Almeida Fernandes escreveu na Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, onde este, por sua vez, cita Figueiredo
da Guerra, acerca de Vinha de
Areosa.
Isto
para não falar que os de São Mamede são ainda hoje os últimos
descendentes da Citânia que não abandonaram o monte.
–
E onde é que eles estão???
–
Em S. Mamede - Areosa.
E
para não falar nos castrejos que nasceram em 1958/59 no sítio da Citânia, Freguesia de Areosa. E para não falar nas sortes
localizadas na Citânia, como a dos do Coutinho, que se esfumaram por milagre de
Santa Luzia. E é de perguntar se tais memórias perduram na Vila da mesma forma
que perduram em Areosa.
E
Padre Manuel Correia Quintas!
–
Não lhe vou dar nenhum recado que não o saiba. Decerto conhece todos estes
autores citados e também FRANÇA AMARAL que recentemente escreveu sobre PAGUS
OVÌNEA no FALAR DE VIANA de 2014.
Mas
se não conhecer Almeida Fernandes
veja o elogio que Alberto Antunes de
Abreu lhe faz no início da MEADELA
HISTÓRICA, 1994 e em ENSAIOS I PARA A HISTÓRIA DE VIANA DO CASTELO (2004) a pg.
33.
Por
último, como sabe, a figura de Cristo marcou a humanidade de tal ordem que ficou como referência para a sua História – AC (Antes de Cristo) e DC (Depois de Cristo). A partir de
agora e ao que à Citânia, dita de Santa Luzia, diz respeito, a sua História vai ficar repartida por AJC e DJC dado que ao cessar
tudo o que os antigos professores nos contam, já as arengas dos modernos
inventores despontam.
Novembro de 2020 Lopes d’Areosa. Revisto em 7 de Agosto de 2021
Depois de ler estas citações, apetece-me concluir tal como o sociólogo António Barreto que nos diz " O desprezo pela história torna os cidadãos apátridas".
ResponderEliminarEu quero conhecer e respeitar a história da minha terra e dos meus antepassados.
Pertenço a uma Associação (GEA) , que também tem por fim a investigação, a defesa e a divulgação dos valores históricos, artísticos e antropológico culturais de Viana, especialmente de Areosa,
Não quero ficar com mais um palmo de terra.
Pois é!
EliminarMas quem vai ficar na história são os historiadores, os professores e outros inventores!
Aos dissuasores ou apenas hesitantes, manda-os falar comigo directamente!