terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Inês Cardoso

Li ontem no JN.

https://www.jn.pt/opiniao/ines-cardoso/interior/4-ines-cardoso-8960696.html

Vou repetir
Opinião


Sozinhos

Inês Cardoso*Ontem às 00:04


As portas vão-se fechando. 
A frase nunca me sai da cabeça, volta sempre que alguém parte na 
aldeia onde nunca vivi mas que sempre foi minha. Nos lugares 
pequenos, aqueles em que os moradores se contam pelos dedos e em que 
cada um ocupa um espaço incomensurável, as geografias afetivas mudam 
cada vez que uma casa fica vazia. Voltei a lembrar-me da frase quando 
este fim de semana li os relatos da intervenção do investigador Xavier 
Viegas, alertando que as pessoas têm de se organizar e preparar cada 
vez mais para enfrentar situações de catástrofe sozinhas, porque os 
bombeiros não chegarão a tempo.

Percebo o realismo de quem tem passado a vida a estudar as 

circunstâncias em que morrem vítimas de incêndios florestais. Este ano, 
assistimos à incapacidade do socorro e vimos como tantas populações 
tiveram de arriscar e decidir por elas o que fazer. Temos um meio rural 
caracterizado pela dispersão de habitações, os problemas fundos que 
conhecemos na floresta, bombeiros que não chegam para tudo.

Olhando para a maioria das aldeias no interior, o que se vê, contudo, 

é uma população profundamente envelhecida. Como pode pedir-se a 
pessoas com 70 e 80 anos que se preparem para o dia em que o fogo 
eventualmente as cercar? Se olharem com seriedade e sentido de 
responsabilidade para os sucessivos estudos, as autarquias devem 
preparar com as populações planos de ação. Identificar líderes em cada 
localidade, promover formações, encarar os serviços municipais como 
instrumentos ativos e focados na prevenção.


Mas há, por detrás de qualquer lirismo com que possa encarar-se 

este problema,um drama maior difícil de atacar. Só rejuvenescendo 
as povoações haverá capacidade de autodefesa e mobilização das pessoas. 
Ontem, o JN contava a história de Quintandona, uma aldeia de xisto 
em Penafiel que duplicou o número de habitantes numa década. 
A receita? Uma aposta forte na reabilitação, apoiada por fundos 
comunitários, e uma programação cultural arrojada, com eventos 
que atraem visitantes.

A revitalização do interior não se faz com planos macro, se não forem 
acompanhados de um forte envolvimento local. É preciso sinalizar, 
concelho a concelho, aldeias com potencialidades de revitalização. 
Motivar agentes locais, capacitar os melhores, incentivar a criatividade. 
Com uma canalização inteligente de verbas e com capacidade de correr 
riscos, coisa de que os decisores políticos costumam fugir a sete pés.

Sem risco e criatividade, as portas continuarão a fechar-se.

SUBDIRETORA

Comentário meu no Facebook 

Digo que vem ao encontro dos meus comentários ao Post de Nádia Piazza 
de 3 de Dezembo de 2017 pelas 14.11. 
- Somos um país rural governado por iluminados de mentalidade urbana! (a)
- Inventaram a Pólis! 
E até tremo quando ouço falar nas requalificações. 
Normalmente significa mais artificialização e cimento armado. 
Mas ainda não repararam que o que Portugal necessita é de uma Ruris!

(a) - No entanto também aparece gente lúcida!

tone do moleiro novo I - autoproclamado O Chato


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