https://www.jn.pt/opiniao/ines-cardoso/interior/4-ines-cardoso-8960696.html
Vou repetir
Opinião
Sozinhos
Inês Cardoso*Ontem às 00:04
As portas vão-se fechando.
A frase nunca me sai da cabeça, volta
sempre que alguém parte na
aldeia onde nunca vivi mas que sempre foi
minha. Nos lugares
pequenos, aqueles em que os moradores se contam pelos dedos
e em que
cada um ocupa um espaço incomensurável, as geografias afetivas mudam
cada vez que uma casa fica vazia. Voltei a lembrar-me da frase quando
este fim
de semana li os relatos da intervenção do investigador Xavier
Viegas, alertando que as pessoas têm de se organizar e preparar cada
vez mais para enfrentar situações de catástrofe sozinhas, porque os
bombeiros não chegarão a tempo.
Percebo o realismo de quem tem passado a vida a estudar as
circunstâncias em
que morrem vítimas de incêndios florestais. Este ano,
assistimos à incapacidade
do socorro e vimos como tantas populações
tiveram de arriscar e decidir por
elas o que fazer. Temos um meio rural
caracterizado pela dispersão de
habitações, os problemas fundos que
conhecemos na floresta, bombeiros que não
chegam para tudo.
Olhando para a maioria das aldeias no interior, o que se vê, contudo,
é uma população profundamente envelhecida. Como pode pedir-se a
pessoas com 70 e 80
anos que se preparem para o dia em que o fogo
eventualmente as cercar? Se
olharem com seriedade e sentido de
responsabilidade para os sucessivos estudos,
as autarquias devem
preparar com as populações planos de ação. Identificar
líderes em cada
localidade, promover formações, encarar os serviços municipais
como
instrumentos ativos e focados na prevenção.
Mas há, por detrás de qualquer lirismo com que possa encarar-se
este problema,um drama maior difícil de atacar. Só rejuvenescendo
as povoações haverá capacidade de autodefesa e mobilização das pessoas.
Ontem, o JN contava a
história de Quintandona, uma aldeia de xisto
em Penafiel que duplicou o número
de habitantes numa década.
A receita? Uma aposta forte na reabilitação, apoiada
por fundos
comunitários, e uma programação cultural arrojada, com eventos
que
atraem visitantes.
A revitalização do interior não se faz com planos macro, se não forem
acompanhados de um forte envolvimento local. É preciso sinalizar,
concelho a
concelho, aldeias com potencialidades de revitalização.
Motivar agentes locais,
capacitar os melhores, incentivar a criatividade.
Com uma canalização
inteligente de verbas e com capacidade de correr
riscos, coisa de que os
decisores políticos costumam fugir a sete pés.
Sem risco e criatividade, as portas continuarão a fechar-se.
SUBDIRETORA
Comentário
meu no Facebook
Digo que vem ao encontro dos meus comentários ao Post
de Nádia Piazza
de 3 de Dezembo de 2017 pelas 14.11.
- Somos um país rural governado por iluminados de
mentalidade urbana! (a)
- Inventaram a Pólis!
E até tremo quando ouço falar
nas requalificações.
Normalmente significa mais artificialização e cimento
armado.
Mas ainda não repararam que o que Portugal necessita é
de uma Ruris!
(a) - No entanto também aparece gente lúcida!
tone do moleiro novo I - autoproclamado O Chato
aldeia onde nunca vivi mas que sempre foi minha. Nos lugares
pequenos, aqueles em que os moradores se contam pelos dedos e em que
cada um ocupa um espaço incomensurável, as geografias afetivas mudam
cada vez que uma casa fica vazia. Voltei a lembrar-me da frase quando
este fim de semana li os relatos da intervenção do investigador Xavier
Viegas, alertando que as pessoas têm de se organizar e preparar cada
vez mais para enfrentar situações de catástrofe sozinhas, porque os
bombeiros não chegarão a tempo.
Percebo o realismo de quem tem passado a vida a estudar as
circunstâncias em que morrem vítimas de incêndios florestais. Este ano,
assistimos à incapacidade do socorro e vimos como tantas populações
tiveram de arriscar e decidir por elas o que fazer. Temos um meio rural
caracterizado pela dispersão de habitações, os problemas fundos que
conhecemos na floresta, bombeiros que não chegam para tudo.
Olhando para a maioria das aldeias no interior, o que se vê, contudo,
é uma população profundamente envelhecida. Como pode pedir-se a
pessoas com 70 e 80 anos que se preparem para o dia em que o fogo
eventualmente as cercar? Se olharem com seriedade e sentido de
responsabilidade para os sucessivos estudos, as autarquias devem
preparar com as populações planos de ação. Identificar líderes em cada
localidade, promover formações, encarar os serviços municipais como
instrumentos ativos e focados na prevenção.
Mas há, por detrás de qualquer lirismo com que possa encarar-se
este problema,um drama maior difícil de atacar. Só rejuvenescendo
as povoações haverá capacidade de autodefesa e mobilização das pessoas.
Ontem, o JN contava a história de Quintandona, uma aldeia de xisto
em Penafiel que duplicou o número de habitantes numa década.
A receita? Uma aposta forte na reabilitação, apoiada por fundos
comunitários, e uma programação cultural arrojada, com eventos
que atraem visitantes.
A revitalização do interior não se faz com planos macro, se não forem
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