Já perdi um
bom pedaço do meu precioso tempo com este assunto.
Mas como
ORLANDO RAIMUNDO vem lá citado, acabei por adquirir o livro ANTÓNIO FERRO O
INVENTOR DO SALAZARISMO, da sua autoria. Aqui vai o frontispício!
Devo reconhecer que se trata do resultado de
um trabalho de pesquisa notável!
Mas…
Na
pressa de identificar António Ferro como inventor do Salazarismo, acaba Orlando
Raimundo por ser ele próprio o inventor de que António Ferro inventou!
Vejamos:
Na Página
216 do exemplar que é meu (porque o paguei!) pode ler-se e em relação à
FILIGRANA
“ Associada à extracção do ouro, no Norte do País, a
filigrana parece ter surgido pela primeira vez na Póvoa do Lanhoso, sendo depois integrada, por acção dos folcloristas da
propaganda, no traje tradicional das mulheres do Minho.”
- Terá
sido???
Vejamos o
que Ramalho Ortigão descreveu nas FARPAS em 1887 a seguir ao que viu na
vestimenta das vendedoras numa feira em Viana em 1885
“Brincos
largos de filigrana de Ouro”
Mais à
frente, numa velha de sessenta ou setenta anos
“Arrecadas de
filigrana”
E acerca da
filigrana veja-se o que ROCHA PEIXOTO escreveu no estudo As filigranas, que foi primeiramente publicado em 1908, no
tomo II, fascículo 4.º, da Revista Portugália, publicada a 17 de Setembro desse
ano na cidade do Porto.
Ora dizer que a integração da filigrana no traje tradicional das mulheres
do Minho foi acção dos folcloristas da propaganda, ( de António Ferro, por suposto) é obra! Tendo em conta que Ferro
nasceu em 1895 não é só obra! É
desdobra!
Feérica é a serenata final do capitulo a pag. 217 em que
Orlando Raimundo tira o chapéu a António Ferro
“… que teve a habilidade de inventar um país que nunca existiu ou pateada
ruidosa aos preguiçosos que não fizeram o trabalho de casa?”
Quem é que é preguiçoso e não fez o trabalho de casa?
Vejamos!
Mais à frente e na página 279
“Forjam-se em vez disso, tradições como a ostentação de ouro nas minhotas
da Senhora da Agonia… sinais exteriores
de uma riqueza inexistente.”
Ai sim???
Vejamos agora D. António da Costa, em NO MINHO,
Lisboa 1874 e ao acaso.
“O Peito das minhotas é um céu estrelado! Grilhões de todos os feitios,
corações de oiro lavrado, excedendo a palmo, florões que disséramos os grandes
crachás Espanhóis de Carlos III,
arrecadas que chegam aos ombros, crucifixos enormes, enormes Virgens da
Conceição, peças inteiriças de calvários. Além das três grandes cruzes de Jesus
e dos ladrões, o grupo das marias e a scena da tremenda tragédia.”
“A ( minhota) que apresenta nas orelhas um par
de compridas e largas arrecadas obedece simplesmente ao mínimo dever; a que
apresenta dois pares, cumpre-o; o luxo é penderem-lhe das orelhas três pares e
ás vezes quatro!”
Ler também o que este autor diz sobre o significado do oiro e do sacrifício
que até os mais humildes faziam para o obter e conservar. A riqueza não existia. Mas coleccionavam
ouro. Ou seja: - Poupavam para os tempos de crise! Além de lhes servir de
adorno em tempos festivos!
( Como à parte uma
observação curiosa de Cláudio de Basto e já em 1933! – Ver Traje à Vianeza
“Vão desaparecendo, porém, as volumosas
peças de oiro, os grilhões e as placas enormes, - e vai aparecendo a jóia cada
vez mais leve, mais graciosa.”
Queixam-se agora os
puristas que nas Festas de Agonia as Minhotas levam ouro a mais!
- Vá lá entendê-los!)
Voltando a D.
António Costa que:
Numa lavradeira de Deucriste no mercado de Viana viu:
“Das orelhas pendiam-lhe arrecadas resplandecentes, ao redor do pescoço um
grilhão de oiro em cinco voltas…”
Vejamos de
novo o que Ramalho Ortigão descreveu nas FARPAS em 1887 a seguir ao que viu na
vestimenta das vendedoras numa feira em Viana em 1885.
“Colares de Contas de
ouro Liso”
Na tal velha
de sessenta ou setenta anos
“Colar de Grandes
contas de ouro pulido”
Numa jovem viúva tecedeira em Cardielos
“Arrecadas e colar de ouro”
Ainda no tal estudo «As filigranas», da autoria de Rocha Peixoto, que foi
primeiramente publicado em 1908, no tomo II, fascículo 4.º, da Revista
Portugália, publicada a 17 de Setembro desse ano na cidade do Porto, consta:
“Entre nós e ainda actualmente,
multiplicam-se os cordões e as gargantilhas, duplicando-se os corações,
acrescentando-lhes as cruzes e os cruxifixos, as Virgens da Conceição e os
medalhões.” Isto no peito
das minhotas!
-Querem ver as fotografias que constam neste trabalho de Rocha Peixoto?
- Quererá isto dizer que Rocha Peixoto foi ludibriado por tudo o que viu e registou?
- E num tempo em que António Ferra andava de Fraldas???
-Querem ver as fotografias que constam neste trabalho de Rocha Peixoto?
Uma delas foi colorida e deu origem a um postal!
- Quererá isto dizer que Rocha Peixoto foi ludibriado por tudo o que viu e registou?
- E num tempo em que António Ferra andava de Fraldas???
E se querem mais testemunhos da época e não invenções, ler
o que Alberto Sampaio (
1841 – 1908) em "A
Propriedade e Cultura do Minho", na "Revista de Guimarães", vol.
V, 1888, pg. 49, escreveu acercas dos minhotos (as)
( Alberto Sampaio o tal
das Póvoas Marítimas).
Mas não se fica por aqui o Senhor Orlando Raimundo!
Na página 280 da sua obra consta:
“Ferro, recorre ao talento e á criatividade de Bernardo Marques para
inventar o novo estilo, e é assim que surge a exuberância de cores do Rancho de
Santa Marta”
Não vou decalcar tudo o que os autores citados escreveram sobre os trajes
que viram. Nem tão pouco citar as cores que cada um neles identificou nas
diferentes peças do vestuário observado. Fico-me por aquilo que D. António da Costa
escreveu em 1874 sobre, precisamente,
“ As
de Santa Marta e Meadela…”
“… pôem o seu chiste principal na viveza das cores. O grande lenço chale,
verdadeiro turbante, em que predomina o escarlate, é lançado com a mais
fantasiosa elegância. A saia riscada a quantas cores há, um verdadeiro arco
íris; grande lenço bordado nas mãos; meia alvíssimas, chinelinhas pelo meio dos
pés, terminando em bico.”
E Ramalho Ortigão in Farpas 1887 acerca de uma tecedeira precisamente de
Santa Marta:
“Colete Azul bordado a vermelho e a ouro. Saia azul com listras e barra
encarnadas. Algibeira vermelha com lentejoulas de ouro. Grande lenço de algodão
vermelho…”
E de outra da
Meadela vestida de cinzento e Azul… etc.
Isto apenas e para além de toda a restante policromia também descrita por Rocha
Peixoto e outros. Entre os quais ABEL VIANA em 1917 que quanto ao traje de Santa Marta (d)escrevia:
SAIA - A barra é preta bordada a branco, torçal quasi sempre a lantejoula e missanga.
AVENTAL - Atapetados com vários desenhos em geral rosas e coroas, predominando as cores: rosa verde, amarelo e vermelho.
LENÇO - Vermelho
CAMISA - Bordada nos ombros a azul ou vermelho.
COLETE - Comum a outros trajes. Em veludo preto no cinto havendo também em vermelho roxo e verde.
ALGIBEIRA - Comum a outros trajes bordada a fita de lá e missangas, lás de várias cores com lenço bordado com linha de algodão azul ou vermelho.
Mas face à douta informação do Sr. Orlando Raimundo
SAIA - A barra é preta bordada a branco, torçal quasi sempre a lantejoula e missanga.
AVENTAL - Atapetados com vários desenhos em geral rosas e coroas, predominando as cores: rosa verde, amarelo e vermelho.
LENÇO - Vermelho
CAMISA - Bordada nos ombros a azul ou vermelho.
COLETE - Comum a outros trajes. Em veludo preto no cinto havendo também em vermelho roxo e verde.
ALGIBEIRA - Comum a outros trajes bordada a fita de lá e missangas, lás de várias cores com lenço bordado com linha de algodão azul ou vermelho.
Mas face à douta informação do Sr. Orlando Raimundo
teremos que concluir que toda essa gente era daltónica!
Via cores que não existiam e que só apareceram com o Estado Novo via
António Ferro e Benardo Marques!
Ora bolas Senhor Orlando Raimundo!
- Quem é que não fez (no que respeita) o trabalho de casa?
Não estará, o senhor mesmo, a dar demasiados créditos a António Ferro?
- Quem é que não fez (no que respeita) o trabalho de casa?
Não estará, o senhor mesmo, a dar demasiados créditos a António Ferro?
E a mim o que me preocupa não é a ignorância do Sr. Raimundo ( ou pelo menos o seu desleixo)! O que me preocupa é que daqui a cem anos se vai ler o que foi publicado hoje na capital do império (este já vai na segunda edição!). Ninguém vai deitar sentido ao que o desvairado do Lopes alguma vez possa ter dito ou escrito na NET.!
Tone do Moleiro Novo
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