GRAFIA EM CACOS!
Também poderia ser; Ou há moralidade, ou liberdade para um Mia Couto que há em cada um de nós.
Outra versão será todos contra todos e cada um por si.
Pois isso de se pretender tudo regrar dá nisto!
E nada melhor que ler meu Amigo António Viana por quem nutro uma simpatia facilmente explicável: Filho de Mário Viana, este, que me ensinou a ler a escrever e ... a contar, parece-se (ou parecesse?) com o pai. Apenas não o revejo na bolaria que então levei. Nem imagino o herdeiro nesse gesto. Enfim. Bamos ao texto que o mesmo publicou já na A AURORA DO LIMA.
Mas estou a desviar-me do tema inicialmente pensado. Não era assim que tencionava começar. Vamos então ao assunto puxado pelo título: Cacografia. Cacofonia estará mais no ouvido de umas quantas pessoas, mas Cacografia talvez com mais raridade. A cacofonia, relembre-se, é “encontro de palavras ou de sílabas de duas palavras originando sons desagradáveis ou imitando palavra obscena”. Cacografia é a “escrita errada”.
António Martins da Costa Viana
lopesdareosa
CACOGRAFIA
Há muito me apercebi da boa saída que têm
os escritos com bastante de cunho memorialista, como aquele em que, já lá vão
uns tempinhos, o meadelense Dr. António Gigante (meu estimado condiscípulo na
Escola Industrial e Comercial de Viana e no Instituto Comercial do Porto) falou
que cuspiu, através dos buracos do soalho, para cima da burra do Tio.
Já me disseram: “Você escreve pouco!”. Ora eu não tenho
o Génio de Camilo nem a sua necessidade de escrever muito. Não preciso, como
ele, de escrever para ganhar a vida e para tal aqui traga estes escritos. A
minha pensão de aposentação líquida, mesmo com reduções por razões de
fiscalidade (a ilíquida parece-me que se tem mantido), continua a ser-me
creditada pontual e mensalmente.
Mas estou a desviar-me do tema inicialmente pensado. Não era assim que tencionava começar. Vamos então ao assunto puxado pelo título: Cacografia. Cacofonia estará mais no ouvido de umas quantas pessoas, mas Cacografia talvez com mais raridade. A cacofonia, relembre-se, é “encontro de palavras ou de sílabas de duas palavras originando sons desagradáveis ou imitando palavra obscena”. Cacografia é a “escrita errada”.
E qual será a “escrita certa” e a “escrita errada”?
Serão aquela que se convencionar adoptar e a sua contrária? Terá a ver com a
tal Semiótica ou Semiologia, “ciência geral que tem como objecto todos os
sistemas de signos (incluindo os ritos e costumes) e todos os sistemas de
comunicação vigentes na sociedade, sendo a linguística científica o seu ramo
mais proeminente”? (Ufa!!).
Não sou a favor nem contra o novo Acordo
Ortográfico (AO de 1990). E vou dispensar-me do esforço de saber se o dito deve
de ser escrito com iniciais maiúsculas ou minúsculas. Não sou especialista (nem linguista, nem gramático, nem filólogo, nem
professor de literatura, nem escritor, nem poeta), mas tenho cá as minhas razões para continuar a escrever como o tenho vindo
a fazer. Não tenho escrito, como tantos, que “Por decisão pessoal,
não escrevo segundo o novo Acordo Ortográfico”. Ou, como também já li, Fulano “escreve de acordo com a ortografia
antiga por razões de textualidade e estética”. Ou, mais radicalmente, “Quando
escrevo … faço-o sempre, em profundo desacordo e intencional desrespeito pelo
novo Acordo Ortográfico”. Mas …
Mas toda a escrita actual é resultado de uma longa
evolução. Filho, sobrinho e neto de Professores que, quando leccionaram, foram
considerados Bons Pedagogos, notáveis para a sua época, guardo algumas Obras
que lhes serviram de ferramentas de trabalho. Por exemplo: “Vocabulário Ortográfico
e Remissivo da Língua Portuguesa” por A. R. Gonçalves Viana, “Relator da
Comissão da Reforma Ortográfica”, “organizado em absoluta conformidade com as
resoluções da Comissão (…) de 1911 (…)”. Esse Erudito não era nosso parente mas
creio que foi a partir daí que meu bisavô Jeronymo Gonçalves Vianna passou a
Jerónimo Gonçalves Viana, cujo apelido herdei por linha recta. Mas …
Andava na Escola Primária, acho que na segunda classe,
quando o “quási” passou a “quase” e o “combóio” deixou de ter acento. Claro que
no interior das carruagens, mesmo nas de terceira classe, embora de duro e
duradouro pau, continuou a haver assentos para os passageiros. Agora e aqui,
para ter um “combóio” com acento tenho uma trabalheira pois o programa, automaticamente,
retira-o.
E como alguém me disse que modéstia em
demasia é vaidade, passo a fazer o elogio do estudante que fui. Em muitos anos
de bancos escolares, nunca chumbei em um exame! E só por uma vez fiz um em
segunda época, faltando na primeira, por motivo de saúde a que, falando
verdade, se juntou um certo receio de ser reprovado na primeira. Mas … Mas
andei dois anos na quarta classe do então Ensino Primário! Foi pouco depois de
o comboio deixar de ter o aludido acento (era combóio).
Em Viana temos a rua do Assento porque, os
historiadores da toponímia local corrijam-me, no casarão ao cimo da mesma,
viveu um senhor que esteve ligado ao recrutamento das tropas. E os soldados ali
assentavam praça. E os militares tinham (ainda terão?) a sua “Nota de
Assentos”. Que isto de palavras “homófonas”, “homógrafas”, “homónimas” e
quejandas era coisa que nos ensinavam (e nem sempre aprendíamos) no aludido
Ensino Primário. Mas …
Mas o pior era que no exame da quarta classe havia um
“ditado” no qual não se podia ultrapassar o limite de três erros. Nas aulas o
Professor tinha um grosso lápis, azul numa ponta e vermelho na outra, com o
qual, se o aluno escrevesse “fato” em vez de “facto” sublinhava a vermelho. E
eu escrevia “fato” quando devia escrever “facto”! Já me disseram que fui um
precursor! Agora, nesta maquineta, se escrevo “actor” o programa sublinha a vermelho.
Mudou a ortografia oficial! Ora como eu dava, em cada ditado, por essas e por
outras, seis e sete erros, o Severo e Eficiente Professor (que acumulava com as
funções de meu Pai), não me levou a exame! Foi o único ano perdido (?) na minha
vida de estudante! E então agora que eu
já escrevia razoavelmente é que vou ter de mudar?
Estou a aderir à Cacografia. É o que mais vejo por aí.
Cada um escreve como quer e lhe apetece! As pessoas e os países que usam o
português assim o fazem. Apetece-me escrever segundo a ortografia de 1945, a
que me fez andar dois anos na quarta classe.
Mas (só mais uma vez esta adversativa) o k fás falta é k a jente cum ou cem télélé se intenda. Viva a Cacografia!
Fecho: dedico este escrito a Mestre Aníbal Alcino que
já me disse: “Você escreve com humor!”. E a quem respondi: “Não pretendo ser
humorista.”. E agora acrescento: só quero dizer o que me vai na alma!
Publicado
em "A Aurora do Lima". 161:07 (18.02.2016). P. 3.
E mais não cito porque a mais não estou (ainda) autorizado!lopesdareosa
Sem comentários:
Enviar um comentário