Sino, coração da aldeia
coração sino da gente...
Os dois primeiros versos de uma quadra de António Correia de Oliveira que motivaram as seguintes décimas a Chico Horta de Porteirinhos
São um do outro diferentes
num percurso de muitos meses
porque um só bate ás vezes
mas o outro bate sempre
aquele que está dependente
não faz forçar sangue na ideia
mas quando o seu povo o rodeia
toca a mortos ou finados
e os seus toques são dobrados
sino coração da aldeia
está lá no cimo da torre
olhando o vasto horizonte
e não tem ninguém que o afronte
não sente mágoa nem dor
nem saudade nem amor
não sente um desejo ardente
mas o nosso tudo pressente
o bem ou mal que se avizinha
não fala mas adivinha
Coração sino da gente
e se coração nos der aviso
do que há-de acontecer
aquele que o bem entender
conselhos não tem preciso
pois tanto o choro como o riso
são filhos deste quilate
e quando ele toca a rebate
pressente qualquer desgraça
não fala mas ameaça
um a sentir quando bate
e o que está solto e alongante
está parado no seu leito
mas só o prisioneiro do peito
não pode parar um instante
triste e ora amargurado
senão bate continuamente
não pode mais está doente
não sente vida está morto
nessa altura bate o outro
o outro a bater quando sente
Isto porque há uma semana vi um programa sobre Idanha a Nova.
Levaram o Homem à torre sineira. Subiram a custo as escadas e os oitenta e tal anos. Nos seus mais jovens ele próprio fora o sineiro. Tempos felizes e leves que permitiam subir no ar içado pela corda rebocada pelo sino.
Ensaiou uns toques e notou o tirante fixado na asa para, agora, poder mais facilmente ser manobrado.
E no fim chorou. Não havia mais quem fizesse dobrar o sino!
Tone do Moleiro Novo
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