Tanto para o personagem como para o contador do cantador.
Este texto publicado em 1947, no livro BODAS VERMELHAS, dedicou-o Pedro Homem de Mello a João Correia de Oliveira, decerto o irmão de António Correia de Oliveira e que veio a falecer, ás tantas não por acaso, em Esposende no ano de 1960.
O texto passa na nossa frente como se de um filme da tragédia do cantador se tratasse. As imagens dos primeiros versos lembram-me o VILARINHO. Toda a verbalização, em versos que rimam e tudo, flui no céu da boca como se de água e música se tratasse. E tantas vezes eu disse já este texto!
Nunca encontrei tanta singeleza e ritmo no encadeamento das palavras.
A vivência é a das noites, das romarias, das feiras do Alto Minho, onde tantas vezes os Deuses do crime e o do pecado se ensarilhavam com os humanos.
O ROMANCE DO CANTADOR DE MAZEDO.
Com sangue, sol e poeira
É que aprendera a cantar!
Mas, fôsse em adro ou em feira
Sua voz rimava inteira
Com sombras e com luar.
Mazedo é perto de Lara
E alí, alguém escutara
O que não soube guardar...
Depois, no forte em Cerveira
Canções de esfolhada e feira
Ainda eram sombra e luar!
E o Cantador de Mazedo
Não voltou a Valadares
E a Pinheiros também não,
Nem a Pias nem a Bela
Não voltou á Brejoeira
Nem à estrada de Monção
Passaram anos... um dia
Correu a fúnebre nova
De que morrera na aldeia
Quem por má hora levara
O cantador à cadeia
E o cantador de Mazedo
Que no cárcere cantara
E até na esmola colhera
Motivos para canções
Cheias de sol, de luar,
O cantador de Mazedo
Desta vez ficou tranquilo.
Não chorou. Não!
- Mas esteve
Oito dias em cantar...
Romance é dor escondida
Como a desse cantador.
Eu não defendo nem ataco a vida!
Eu não defendo nem ataco o amor...
Mas Pedro Homem de Mello não se ficou por aqui. Conhecedor da paisagem em que os acontecimentos se desenrolavam, foi buscar à tradição e ás cantorias do Povo.
Já lá vai o sol abaixo
Já lá vai a luz do dia
Já lá vai o meu amor
Com quem eu m'adevertia
Ele é noite e o sol vai posto
E o meu amor não vem
Ou o mataram a ele
Ou ele matou alguém
Eu heide morrer d'um tiro
Ou d'uma faca de ponta
Morra hoje ou amanhã
Com isso já faço conta
A que AS DA CHÃOZINHA acrescentaram...
Eu quero morrer cantando
Já que chorando nasci
Eu quero ganhar na morte
O que na vida eu perdi!
Coisas que o tal de Mazedo muito bem poderia ter cantado!
LOPESDAREOSA
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