De Vichy e os referendos
"A 24 de Maio de 1940, no início da segunda guerra mundial, a França sofre uma devastadora derrota no norte do país. A 15 de Junho, o governo francês, liderado pelo Marechal Pétain, herói da primeira guerra mundial e distinguido comandante em Verdun, ordena às forças armadas, contra a sua vontade e o choque de uma nação até aí orgulhosa, que se rendam. Em troca, negoceia a mudança do governo para a cidade de Vichy. Desde então muitos franceses recusam-se a repetir o nome do marechal, designando-o como “le traître”. O ostracismo não podia ser mais completo, visto de certeza caberem num país daquele tamanho mais do que um. Mas não, o fulano ficou mesmo “o traidor”.
Muitos dos nossos articulistas, comentadores, políticos e até candidatos presidenciais em campanha notam que não ter havido uma consulta directa para a transferência de soberania foi um “erro”. É de facto da mais patente evidência que é um tema suprapartidário, que diz respeito, directamente e especificamente, a cada um dos 10 milhões de avos que cada um de nós recebeu à nascença. No meu caso, em Alvalade, Lisboa. Os anos vão passando, o mau hábito entranha-se, e as transferências de soberania continuam insufragadas, e insuportáveis. Para muitos de nós, e quantos não o saberemos até haver um referendo, o Portugal dos nossos egrégios avós vai ficando de Vichy.
Muitos leitores, a grande maioria talvez, e mais ainda os jovens que herdarão a quinta, se ainda uma houver, preferem passar ao lado destas mágoas, e seguir em frente. Pois deixem-me que vos ilumine um pouco, e que vos faça saber, que alguns com quem se cruzam todos os dias passam calados, não mais capazes de vos chamar pelo nome."
Jonas Almeida, PhD, Nova Iorque
Li este texto no PÚBLICO de ontem. Está "assinado" por um tal Jonas Almeida algures em N.Y.
Encontra-se também em https://www.publico.pt/opiniao/noticia/cartas-a-directora-1736605
Muitos encontrarão amargura neste texto! A mim, comoveu-me! Chegaram lágrimas aos meus olhos!
Tone do Moleiro Novo
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