quinta-feira, 28 de julho de 2011

O POETA ZINÃO

Nasceu em Carreço, dizem os biógrafos e o próprio o atesta:

FUI NASCIDO EM CARREÇO
NO DISTRITO DE VIANNA
FUI TRASTE DE GRANDE FAMA
MAS DE BEM PEQUENO PREÇO

certo é que da casa ainda existe o sítio. E na oralidade - era a Casa do Zinão. Viveu em Campos. Frequentou Valença.
Aí foi protagonista de uma situação que nem ao diabo lembraria.
Soldado na guarnição, cruzara-se com uma louceira que, num burro, transportava uma carga para a feira.
Disse à moça que tinha uma noticia  a dar ao burro. Aproximando-se da orelha deste atirou-lhe com uma purisca lá para dentro. O burro escouceou, aos saltos, estatelou-se e partiu a louça toda. A rapariga foi fazer
queixa do Zinão ao comandante. Este perguntou ao Zinão o que é que tinha acontecido.
- Meu comandante eu apenas lhe disse que, na terra, lhe tinha morrido o pai!
E que o burro se tinha desesperado!

Bem o melhor é seguir o relato do próprio Zinão.

HISTÓRIA  DA  LOUCEIRA  E  DA  BURRA

Algum dia fui soldado
Cheguei a cabo d'esquadra
Também fiz a minha guarda
Lá para onde era mandado:
Estava um dia assentado
Em Valença na C'roada
Para ver quando entrava
Alguma moça na Praça
E dizer-lhe alguma graça
Assim o tempo passava

Vi então que vinha entrando
Por aquelas portas dentro;
A çouceira e um jumento;
Puz-me a pé; fui-me chegando
Co'a moça conversando
Seriamente e sisudo,
Disse-lhe no fim de tudo,
"Que mais lhe havia de querer,
Se me deixasse dizer
Um segredo ao seu burro."

Respondeu logo a louceira
Junta com outra mulher
"Diga lá quantos quizer
Pode dizer quantos queira;"
Então cheguei-me à orelha
Do nosso amigo jumento
E fumando ao mesmo tempo
Segredo nunhum lhe disse
Mas sem que ela me visse
Deitei-lhe o cigarro dentro.

Deita-se o burro no chão
Com o cigarro na orelha
A moça fez-se vermelha
Gritando contra o Zinão;
Logo nessa ocasião
Chega alí ao mesmo tempo
O major do regimento
E vendo a Moça a gritar
Foi-lhe logo perguntar
" Quem lhe fez mal ao Jumento?"

A Moça lhe respondeu
promptamente alli assim
Apontando para mim
disse ao Majos que fui eu
Elle então bem conheceu
Que eram coisas do Zinão
Perguntou-me com razão
Que fiz ao burro da moça
Que o contasse por força
Ou marchasse p'ra prisão

E eu respondi sem medo
(Com respeito ao sup'rior)
Saberá Senhor major
Que lhe não puz mão nem dedo
Eu só lhe disse um segredo
E n'aquela ocasião
Deitou-se o burro no chão
Eu só lhe disse ao ouvido
"O pae que tinha morrido"
Talvez seria paixão...

O Major queria rir
Mas à minha beira não
Lá poz os olhos no chão
E apenas o vi sorrir
A louceira entra a pedir
Paga da louça quebrada
Eu disse " que a não pagava
Que nada tinha ali assim"
O Major pagou por mim
Que depois mo descontava.

Mandou-me pr'a companhia
Logo sem mais detenção
Poré não fui p'rá prisão
Isso era o que eu queria
Não me importava que um dia
Descontasse o que pagou
Pois se a Moça o levou
Devia ser descontado
Porém o Major honrado
Nunca tal me descontou.


Esta é apenas uma apresentação. A seguir virá uma mais actual

LOPESDAREOSA

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