segunda-feira, 16 de março de 2020

O Estranho caso de o espaço público passar a privado!

Poderia ser uma daquelas crónicas do Nosso Amigo e Conterrâneo António Viana em que apresenta, em imagens, o ANTES E O DEPOIS! 

(António Viana a quem dedico este texto!)

Em tempos idos havia o Campo d'Agonia que se prolongava para além  da Capela de São Roque até um "correr" de  construções que o limitavam a Norte. 

Uma desses construções, em cujo enfiamento se alinhavam as outras para Poente, situava-se na esquina do Campo com e Estrada de Caminha hoje crismada como Rua de Monserrate. 


Esse prédio, conhecido como a Casa do Pintor Abel Cardoso, (se não me enganaram) para mim era onde por baixo, existia a Tasca do Aníbal. Onde eu sorvia o almoço que minha mão levada de bicicleta, nos meus bons velhos tempos de Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo ali no jardim de D. Fernando.



Esse prédio foi abaixo e agora existe no mesmo local um outro que não tendo nada a ver com o primitivo, pelo menos ocupou o sítio da área (ou parte dela) de implantação do antigo. (Ver também https://lopesdareosa.blogspot.com/2020/04/requalificacoes-urbanoides.html  )

Aqui vão as fotografias.

Antes



Depois

A localização e extensão do Campo d'Agonia está muito bem explicada pelo Geógrafo José da Cruz Lopes no Falar de Viana de 2013 pag 96 e Falar de Viana 2015 pag 68.
Imagens em cima de cartografia do Porto de Viana.                                                 Ver adiante

O espaço entre essas tais construções e a frontaria Poente da Capela de S. Roque sempre serviu para a feira do gado.




O Campo d'Agonia na cartografia de 1942, do MOPC, com a praça de touros em madeira e o Chalet Quartin ainda aí representado. O ramal do comboio para a doca. O bilheteiro. Até a Cruz da Capela de são Roque ainda no meio do campo.  E o prédio da esquina que também já foi abaixo.


 Uma fotografia contemporânea da cartografia de 1942.                                                           Encontra-se em diversas  publicações.


Até que aparece no JN de 9 de Março um  anúncio da venda de dois lotes de terreno aí identificados com 1ª Parcela e 2ª Parcela.

















Nos anúncios consta que a 2º parcela é sita no Campo d'Agonia (de facto!) e que se destina à construção Urbana o que quer dizer que aquele pedaço do Campo d'Agonia vai ser privatizado e vai lá aparecer - um prédio!!!

Ver a localização dessa parcela na topografia de 1942 com a unidade do Campo d'Agonia ainda intacta.

E depois há o caso curioso de a 1ª Parcela também estar localizada no Campo d'Agonia quando afinal está para Norte da testeira onde o Campo d'Agonia acaba. (Ver explicação gráfica do Nosso Cruz Lopes).


Esta "nuance" que se refere a um local que os topónimos tradicionais eram as Bessadas e/ou Entre-Quelhas mostra a Conquista do Norte por via toponímica. O terreno que deu origem à 1ª PARCELA era situado em BESSADAS. O sítio é o mesmo, o nome é que mudou. Hoje chama-se Campo d'Agonia

Isto vem no seguimento de uma outra versão do fenómeno - Conservar o nome e mudar se sítio.

A Praia Norte movida pela dinâmica dos monumentos de Viana, já também se moveu para as Barreiras. Um dia estará no Porto de Vinha!

Um dia teremos o Campo d'Agonia a esbarrar no adro da Igreja de Santa Maria de Vinha!

Para memória futura já temos uma descrição do Campo de Agonia no texto O TERREIRO PÚBLICO D'AGONIA do Nosso geógrafo José da Cruz Lopes no FALAR DE VIANA de 2015 a páginas 67 e 68 do qual "parafraseio" ( com a devida vénia) a infografia onde se pode localizar facilmente o Campo d'Agonia.



Esta sequência faz-me lembrar o Largo Infante D. Henrique que se pode identificar na topografia de 1942




Num trabalho sobre O PRÉDIO DO COUTINHO DEITADO, António Viana lamentou a oportunidade perdida por Viana ( pela vila, que não por ele) de não se ter aproveitado a moderna onda de requalificações para recuperar o primeiro Jardim Público de Viana (não do Viana).


E também aí o espaço público foi privatizado e ocupado pelo betão e cimento armado. 


O carcanhol daí resultante volatizou-se na voracidade dos orçamentos. Hoje, do público, nem o dinheiro nem o espaço! O mesmo, por este andar, acontecerá no Campo d'Agonia

O Antes do Largo do Infante D. Henrique Postal antigo mostrando ainda o Largo com a frente, ainda franca, virada para a doca.

















O Agora do  Largo do Infante D. Henrique















Este "trabalhinho" é, como já disse,dedicado a António Viana e está ainda em construção. Aceitam-se contributos. Ou seja está ainda em fase de consulta publica. Atenção que o prazo termina...HOJE!

Tone do Moleiro Novo

domingo, 15 de março de 2020

A TRILOGIA DA MERDA

Isto porque me proponho escrever três textos sobre este particular e empolgante tema.

A MERDA!

E para colocar em sentido os ofendidos com o léxico, lhes posso dizer que a coisa tanto no real como nas escrituras, já existia antes de eu ter nascido! 

Ou seja...- não invento nada!!!

Socorro-me no entanto ao DICIONÁRIO COMPLEMENTAR DA LINGUA PORTUGUESA de Augusto Moreno, da Editora Educação Nacional de Adolfo Machado, Rua do Almada 125 PORT, em 1954.

O que desde logo dá o cunho de "educada" a uma palavra que segundo essa obra
- 6ª EDIÇÃO MELHORADA - estava em rigorosa harmonia com as bases do Acordo Ortográfico Luso Brasileiro de 1945. Aqui vai a evidência na página 873 dessa obra.







































Ah! - Esta palavra MERDA também pode ser encontrada  na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e não consta que tivesse havido grandes alterações no actual acordês.

Indo mais directo ao assunto, venho falar de Areosa, freguesia iminentemente rural, mas que devido não só à erosão dos tempos mas também por imposição do PDM, tem progressivamente abandonado as boas práticas de convivio das suas gentes com o monte, com a veiga e com o mar para se transformar num dormitório da vila mesmo aqui ao lado.


No entanto para além dos dorminhocos ainda há gente laboriosa e que resiste ou vai resistindo, até que um qualquer urbano assovelado no meio, se queixe dos maus cheiros. 

Porque:

AINDA HÁ ESTRUME (1) EM AREOSA!!!



E se há estrume é porque  ainda há eidos! E porque  ainda há estriqueiras.

Isto até que um urbanoide se queixe! 

Ou as autoridades vierem dizer que a aldeia não é para casas de lavoura nem a veiga para seu destino.

E a única inibição que me poderia impedir de escrever este texto é precisamente essa perspectiva - a que por minha causa  vá, quem trabalha e não dorme, ser incomodado! 

Desde tempos imemoriais a nossa e do gado, MERDA era misturada com o restolho do monte o o argaço do mar.  

E também por isso chegou até nós uma das mais produtivas terras de que dispomos. 

Sempre foi o ESTRUME acondicionado em  paralelepipédicas   pilhas nos topos das leiras e depois desfeitas e espaladas em tempos de sementeira.


Quando essa prática acabar ficará a memória que até já teve o desvelo da nossa intelectualidade.

Na próxima  oportunidade explicarei este meu "enigmatismo"!



(1) - Manure em Inglês e Fumier em Francês. 
( Isto para demonstrar que sou labrego mas com uns certos conhecimentos!)




Tone do Moleiro Novo