domingo, 19 de maio de 2024

Fraco é o Maio se o boi não bebe na pegada.

Chuvas de Maio 

E lembrei-me de Paulo Frazão

CHUVA DE MAIO




Chuva de Maio,

chuva de lenda,

caindo branda, tão de mansinho,

que mais parece feita de renda,

que mais parece feita de arminho.

Chuva de Maio

chuva de lenda...

 

Chuva de Maio,

que vai caindo

Suavemente – chuva divina –,

ao mesmo tempo que o sol, fulgindo

pelas alturas, tudo ilumina.

Chuva de Maio

que vai caindo...

 

Chuva de Maio,

que faz mais belas

todas as moças – que as faz formosas –,

chuva caindo só para elas,

como um perfume, feito de rosas,

Chuva de Maio,

que as faz mais belas.

 

Paulo Frazão

 


quinta-feira, 16 de maio de 2024

O Quadro de Lanhelas

 O Quadro de Lanhelas

Este texto bem poderia ser intitulado TESTA ALTA E VIVA LANHELAS, pois este é o "grito de guerra" dos de Lanhelas.   

Muito ao estilo do de Riba de Mouro  PÁ FRENTE QUE RIBA DE MOURO É MACHO!

Mas vou aproveitar o título que um de Areosa deu a um seu texto já de 1930. 

Acontece que no passado dia 23 de Abril de 2024 se celebrou um aniversário "redondo" de uma outra data, 23 de Abril de 1644, dia em que os de Lanhelas (e as de Lanhelas) rechaçaram um invasão, mais Galega que outra coisa! Desse acontecimento houve alguém que o retratou. Como a fotografia veio muito mais tarde, pintou. E o quadro é o chamado e pouco divulgado "Quadro de Lanhelas". Que aqui vai!




Cheguei a ele nos idos anos 70 pela informação de alguém que me conduziu à Igreja de Lanhelas e mo mostrou. Isto porque estranhei o Cruzeiro da Independência sobranceiro a Lanhelas, coisa que nunca tinha visto em outras freguesias. E então a história foi-me contada.

Só mais tarde e graças ao António Viana é que tive conhecimento que muito antes já o        também Areosense, seu tio,  Abel Viana, a este quadro se tinha referido. De facto tinha feito um relato detalhado numa sua publicação de 1930. 

Notas históricas, arqueológicas e etnográficas do Alto Minho. 

Isto porque Abel Viana, professor na escola primária, tinha chegado a Lanhelas nessa qualidade e depressa na sua curiosidade se deu conta deste testemunho e da sua importância no contexto histórico dos acontecimentos. 

E o seu relato, por vezes hilariante, detalha, o sucedido  perfeitamente e documentado.

Teria havido um antecedente em que alguns pescadores de Lanhelas tinham sido feitos prisioneiros por andarem a pescar já em águas Galegas. Terão sido levados para a Guarda onde foram interrogados. 

Uma questão que os nosso vizinhos lhes puseram era saber como poderiam invadir na zona de Lanhelas. Ao que os pescadores lhes teriam dito que para o fazer com sucesso teriam que levar quatro “filipinos” para cada lanhelense.

E o certo é que a 23 de Abril de 1644, numa “armada” de 28 barcos, atravessaram o Minho e tentaram “invadir” Lanhelas ali perto da Morraceira, com cerca de 600 homens(!) sob o comando de um tal Capitão Toro. Este cometeu dois erros decisivos: Primeiro, terá saltado para terra adiantado a seus homens o que permitiu ser apanhado à mão sem defesa. O segundo, foi ter enfrentado um tal António Macedo conhecido pelo “Catrôlho” que na altura andaria a lavrar a veiga com outros seus conterrâneos. Na sua audácia o tal Toro terá exclamado “Capitão Toro em terra”. A que o Catrollo, deitando-lhe a mão, terá retorquido “Capitão Toro captivo”. O certo é que os de Lanhelas se bateram de tal ordem que puseram em fuga os invasores, estes imediatamente diminuídos na sua força por verem a sua chefia aprisionada pelos de Lanhelas.

No final a contabilidade do destroço foi de dez galegos e quatro Lanhelenses mortos. Muitos feridos com alguns Galegos afogados e os restantes em debandada No meio e fim da refrega dois episódios picarescos ficaram para a história. O Catrolho terá ido a casa vestir a sua farda de Capitão das milícias em Lanhelas e à vista deste, o tal Toro terá desabafado “lo que mas sentia era quedar prisioneiro de unos villanos” não reparando que o agora “militar” fora o labrego que lhe deitara a mão. O outro episódio decorreu de os de Lanhelas quando avistaram os invasores enviaram estafetas a Sôpo e a Vilar de Mouros à procura de auxílio. Provavelmente chegaram já com a contenda resolvida ou em vias disso. O certo é que não se livraram de serem acusados de cobardia por não se terem envolvido na escaramuça. A consequência disso foi os e de Lanhelas terem proibido casamentos com os de Sôpo e com os de Vilar de Mouros inclusivamente impedindo-os de entrar na Igreja de Lanhelas. 

Outra faceta da “lenda” foi a queixa dos invasores de que ao enfrentaram os de Lanhelas, as mulheres foram piores de os homens.

Bom, o melhor será ler o relato de Abel Viana que teve o cuidado de se deslocar a Goyan na tentativa de saber a versão dos do lado de lá. E encontrou um relato que lhe foi facultado pelo médico de Goyan, D. Francisco Rodriguez Nóvoa que confirmava esses acontecimentos.

Penso ser este quadro peça única em Portugal relatando acontecimentos locais “acontecidos” durante a guerra da Independência que se seguiu a 1640. Daí a sua importância histórica pouco relevada pelos nossos contadores encartados. 

Se o mui informado Hermano Saraiva, no programa dedicado a Caminha, em vez, tivesse ido a Lanhelas contar a história deste quadro teria evitado a pouco abonatória figura que fez em São João d’Arga ao afirmar no adro da Capela que fora alí mesmo que o Aginha fôra morto.

Quanto aos de Lanhelas, na sua valentia e agressividade, que não as perderam, acabaram por se adaptar aos tempos. Porque bem melhor, passaram a concentrar o excesso hormonal para combates bem mais suaves. 

E já ouvi por aquelas bandas uma versão actual do velho lema.

Aqui vai.

TESTA ALTA E VIVA LANHELAS

MOÇAS BONITAS CAMA COM ELAS


Nota: Este texto é dedicado ao João de Deus Eiras Rosa, amigo desde ao meus dez anos,

idade com que comecei a partilhar os bancos da Escola Industrial e Comercial de Viana do

Castelo.


Areosa, 27 de Abril de 2024

António Alves Barros Lopes

E Publicado na A AURORA DO LIMA nº16, ano de 169 na Edição de 16 de Maio de 2024

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Tentando seguir os meus colegas, Luiz Vaz, Maria Barbosa e Francisco Pires

Ou seja, fazer um exercício de ginástica aplicada em cima de um mote!

E a coisa começou com uma publicação da nossa Adelaide Graça 

(e digo "nossa" pois que desde que desatou nesta loucura do escrevinhanço deixou de ser apenas  dela).

Aqui vai a imagem

Que julgo muito bem conseguida.
Os caminhantes apenas identificados como tal.
A guarda de honra das acácias (?) inclinando-se à passagem.
A luz que penetra na alameda natural.

Desde logo me fez lembrar a cantoria dos romeiros para São João, entre o Sobreiro e Sant'óginha 

Abaixai-vos carvalheiras
Com os ramos para o chão
Deixai passar os romeiros
Que vão para S. João


E em consequência saiu esta

Inclinai-vos austrálias
Em túnel iluminado
Deixai passar as sandálias
Do peregrino cansado
Falta pouco e outro tanto
Pra chegar a Santiago

Logo o meu amigo Augusto Costa comentou...

Augusto Costa Costa

Grande poeta ( envergonhado ) …

E tomando esse "Mote" resolvi glosar

Óh meu amigo... Augusto Costa

...sobra o envergonhado
Já que poeta num sou
(mediano pudibundo)
Como a vergonha no mundo
Foi coisa que se acabou
Não estou nada orgulhoso
Naquilo que em mim sobrou
Não quero ficar famoso
Nem no livro de tal gente
E se algo em mim se consente
Sair fora do penico
Eu por pouco aí me fico
Em nome da boa moral
De mim um reles mortal
Dos outros vem o sermão
Sinto-me desajustado
D'inda ser envergonhado
Quando os outros já num são

- lopesdareosa























terça-feira, 7 de maio de 2024

O Sol nada em direcção ao Ocidente

 

nada o Sol em direcção ao Ocidente

por mares desde sempre navegados

para aquém, ainda, do horizonte

dos meus olhos, de marés, assolagados.


Caem poentes em cima dos penedos

esconde-se no fundo o falso roncador

que é feito de mim e dos meus segredos

se o próprio mar é o meu traidor


triste como a noite em pleno dia

Avisto piares, estou em Montedor

eis que surge Afife na fotografia


E na minha dor

na minha alegria

digo Adeus ao Sol

                             Até outro dia!


Lopesdareosa, no Monte de Or num qualquer dia do ano, com nuvens ou sem nuvens!