terça-feira, 29 de novembro de 2022

O ADEUS DE PEDRO HOMEM DE MELLO

 Vou principiar esta história pelo princípio.

E no princípio está Alberto Serpa - o Poeta do Leça - que em determinada altura escreveu que o Porto era comercial e triste!          

 Ao que Frederico Schmidt lhe teria replicado:

"Seu Serpa! Esse Porto não é comercial nem triste,"

Ao que Alberto Serpa lhe dirigiu o seguinte bilhete:

" Este Porto conhece-o bem quem lida

por estas ruas, mesmo de ar tranquilo...

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É o mesmo Porto                                                                                               que fez figas e mais gestos ao Camilo                                                   quando ele passou, morto....

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Hoje riem de mim e de Pedro Homem de Mello                                      Seja sempre cruel esta cidade.                                                                 Cantem poetas até à eternidade."

Pedro Homem de Mello não se ficou e enviou um abraço a Alberto Serpa:

"Aqui neste papel a minha carta

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Ambos nascemos junto ao mesmo rio

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Teu nome é Fonte...o meu Estrela Morta                                               ao pé de nós quanta ironia vã.                                                                        Os outros não nos vêem? - Não importa.                                              Riem? - Talvez que chorem amanhã"

E em 1952 Pedro Homem de Mello despediu-se da Poesia com o seu livro ADEUS.




















              E Alberto Serpa não lhe perdoou! E escreveu:

"Como podes dizer à poesia                                                                                um Adeus?

Que desespero te desvaria?

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De facto Pedro Homem de Mello aí se despede na página 93
















Mas quem é Domingos Enes Pereira?

É o Fandangueiro

















             Aqui e da autoria de Eduardo Malta, na capa do livro de Pedro Homem de Mello, apresentado no Bar da Praia ( Bar do Carvalho) em Afife em 19 de Dezembro de 1971.

Domingos Enes Pereira, pai de Helena Enes Pereira - recém conhecida - e que me fez o favor de me considerar seu amigo.

Não conheci este personagem. Conheci o seu Irmão Benjamim, de quem já dei notícia!

- Quem era a Ofélia das Cachenas? 

É aquela que segue

e a que está a meu lado na eira de sua casa alí em Gateira, Afife, acompanhada por seus irmãos - o Nono e o Mário!













Já agora, o cão que também ficou na fotografia. E uma referência especial para o Relógio de Sol encimando a Cabana da Eira.

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E quem era a Deolinda das Castelhana de Espantar - Terras da Montaria??

Faleceu este ano com 103 anos de idade. 

É esta senhora que está aqui comigo nesta imagem e com sua sua neta. Em 4 de Setembro de 1985

na estrada junto à sua casa e tendo lá em cima o monte de Lourido.

E a quem me referi já em diversas publicações.

Noutra publicação explicarei porque é que Pedro Homem de Mello invocou estas três personagens no seu ADEUS e porque é que esses nomes os  distinguiu como...

...altos representantes da dança portuguesa!

No entretanto as minhas homenagens aos Cachenos de Afife e a todos aqueles que dos antigos se lembram e aos outros que, não os tendo conhecido, os merecem.

As Minhas homenagem aos da Bouroua - Montedor, Carreço - na pessoa de Helena Enes Pereira.

E aos familiares da Deolinda da Castelhana, prometendo que publicarei as lembranças desse meu único encontro.

E também à Mariana Homem de Mello que (espero) me dê a honra de recolher este meu texto nas suas memórias de seu Avô.


lopesdareosa


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A queda de um anjo!

 Em primeiro lugar tenho que esclarecer o meu pensamento. 

Eça - o grande Eça!

Sem dúvida. 

Mas para mim CAMILO! O pequeno Camilo.

Em Eça, tudo é elaborado, trabalhado, esmiuçado ! A fabulosa adjectivação parece um exercício matemático, geométrico! Todas as hipóteses do espólio português estão lá meticulosamente estudadas.

Em Camilo tudo é espontâneo. O jorro, a torrente descritiva lembra-me o Rio do Pégo a cair do Pôço Negro.

O fogo de Eça é o de um sniper em que cada tiro foi disparado depois de ter analisado ao pormenor todas as variantes em presença.

O fogo de Camilo é o de uma MG42 que nos atinge em rajadas de mil e duzentas por minuto!

Nestes dias tropecei com uma pequena amostra da A QUEDA DE UM ANJO                  Ver AQUI

( uma obra prima na história da nossa literatura)

E deparei com a feliz explicação de Fernando Vilas Boas, já dos tempos idos de 2011 e da responsabilidade da SIC.

E há momentos arrasantes como

...Isto é o progresso, nesse livro, mas os deputados estão em nome do progresso naquela assembleia também não têm uma ideia muito clara do que é que sejam...

... o anti-parlamentarismo decorrente de ...o retrato de uma cidade totalmente desligada do que se chama hoje o país real mesmo daqueles que eram representantes (desse país real)  - que ainda hoje está perfeitamente vivo"

Mas também há momentos hilariantes. Como aquele de colocar Paulo Portas a comentar uma obra, autêntica catilinária contra o que nos dias que correm seria tudo o que Paulo Portas hoje representa. Uma confraria sulista, liberal e elitista, que desde Lisboa, com mentalidade urbana,  não tem qualquer noção do que seja o país real.

Lisboa para onde se deslocam os Calistos da chamada província - desde os Algarves às Beiras - mas que uma vez lá chegados se esquecem das origens, corrompidos pelas águas de Santo António (ou São Vicente) exactamente da mesma forma que os de Areosa se inebriavam com as águas de São Mamede.

( Já publiquei sobre este tema. Perdi-lhe o rasto!)

lopesdareosa

sábado, 26 de novembro de 2022

Despovoamento. Censos 2021

 Do PÚBLICO de 24 de Novembro de 2021











Efectivamente!

- Não deveria, o país estar a discutir (e já agora a decidir sobre) o desequilíbrio demográfico, o envelhecimento geral e o particular do chamado interior???

-Não deveria, o país estar a discutir (e já agora a decidir sobre) a litoralização???

Mas os censos de 2021 não trazem qualquer novidade em relação aos censos de 2011, 2001, 1991, 1981...e já agora nenhuma novidade ao que José Correia da Cunha avisou ainda no tempo da outra senhora!

No entanto "os censos" é um documento que relata a situação em determinado momento. Não é documento que tome decisões consequentes dele próprio. Ou seja os censos não resolvem nada!

E o despovoamento do interior é uma tragédia nacional!

Continua-se a construir desalmadamente em território onde já há gente a mais!

Continua-se a reclamar mais habitações quando existem cerca de um milhão de casas devolutas ( nos próprios censos isso deve estar quantificado).

Continua o território a ser abandonado sem gente pra cuidar dele!

Continua-se - e em nome da descentralização (?!?!) - a extinguir serviços cuja disponibilidade seria essencial para fixar as populações. A recente extinção das Direcções Regionais de Agricultura são disso exemplo.

Não há nada estruturalmente planeado para atenuar e mesmo reverter essa tendência.

Nem mesmo o recente PRR vai resolver seja o que fôr.

O texto está da responsabilidade de Natália Faria.

Repito; Devia sim senhor. E ir mais longe...

-  Discutir e tomar atitudes!

lopesdareosa



sexta-feira, 25 de novembro de 2022

MARTÍRIOS

 








Cheguei

Chegaste

Num te poupaste

Nas palavras

Construtor de madrugadas

Mas nas estradas

Calcetadas

Com cúbicos remorsos

Caminho eu

Arrastando correntes de  arrependimento


Nota

Ouvir a Tupungatina de Cristino Tapia cantada por Carlos Gardel  

Conhecida por Martírios na América Latina!

Arrastrando una cadena tan fuerte                                                                                  Hasta que mi triste vida se acabe                     ………………………………………………                                                                    Cuando no haya tierra ni agua ni cielo                                                                    Se acabarán mis tormentos cobardes



tone do moleiro novo

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Ironias do destino

 Ano de 2005

Estivemos com Kepa Junkera em Arseguel.


Aqui com as da Chãzinha de Gondarém e o irmão João Barrigas

Também estão connosco o Kepa Junkera e o Joaquim do Penedo.

Ironias do destino!



Nota 
O fotógrafo (como não podia deixar de o ser) foi o Passarinho!


segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Doña Soledad

Encontrei esta preciosidade no Youtube

https://www.youtube.com/watch?v=DOOqxOeJn7U

Quem me falou de Alfredo Zitarrosa foi o Enrique Telleria, como ele, Uruguaio de Montevideo. ( O mesmo Telleria casado com uma descendente de Gondarém!!!)

A conversa tinha começado em Tránsito Cocomorola, Mestre dos tocadores de Bandoneon, e em Atahualpa Yupanqui. Estes últimos, Argentinos!

De Yupanqui, Telleria passou a Zitarrosa.

Recentemente lembrei-me desse nome e procurei no Youtube.

Encontrei esta actuação num programa da TVE em 1977 (!!!)

Soberbo! Como soberba é a imagem da emoção de Vitarossa quando se referiu ao seu país na introdução de DONA SOLEDAD.

E soberba é a letra.

Mire doña soledad,                                                                                                     póngase un poco a pensar                                                                                          Doña soledad,                                                                                   cuántas personas habrá                                                               que la conozcan de verdad

Yo la ví en el almacén,                                                                                                  peleando por un veintén
Doña soledad,                                                                                                            y otros dicen haga el bien,                                                                                            háganlo sin mirar a quién.

Cuantos veintenes tendrá                                                                                            sin la generosidad
Doña soledad,                                                                                                            con los que pueda compar                                                                                          el pan y el vino nada más.

La carne y la sangre son                                                                                              de propiedad del patrón
Doña soledad,                                                                                                    cuando Cristo dijo no                                                                                                    usted sabe bien lo que pasó.

Mire doña soledad,                                                                                                   yo leconverso de más
Doña soledad,                                                                                                             y usted para conversar                                                                                                hubiera queridi estudiar.

Cierto que quiso querer,                                                                                              pero no pudo poder
Doña soledad,                                                                                                            porque antes de ser mujer                                                                                        ya tuvo que ir a trabajar.

Mire doña soledad,                                                                                              póngase un poco a pensar
Doña soledad,                                                                                                         que es lo que quieren decir                                                                                    con eso de la libertad.                                                     Usted se puede morir,                                                                                             eso es cuestión de salud                                                     Pero no quiera saber                                                                        lo que cuesta un ataud.

Doña soledad                                                                                                          hay que trabajar,                                                                                                      pero hay que pensar
No se vaya a morir,                                                                                                    la van a enterrar                                                                                                    doña soledad
Hay que trabajar,                                                                                                    pero hay que pensar,                                                                                             doña soledad.

E pensei na minha NAI que nascida em 1922, um dia me disse que tinha querido ir estudar mas não passou de lavradeira em Santa Maria de Vinha.                                          Fiquei espantado! 

- Como é que, em 1932, uma rapariga de Além-do-rio poderia ter sonhos de estudar!

E dei com esta DONA SOLEDAD e na capacidade conversadeira da minha Nai!

Minha Mãe!                                                                                                               

Eu falo demais sem saber                                                                                         e você pra conversar                                                                                         hubiera querido estudiar                                                                                     Cierto que quiso querer,                                                                                  pero no pudo poder                                                                                             

Minha Mãe!                                                                                                        porque antes de ser mujer                                                                                        ya tuvo que ir a trabajar.

lopesdareosa




sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Gregório de Matos

Por ser um desbocado chamaram-lhe

 
O boca do inferno

"E pois coronista sou.
Se souberas falar também falaras
também satirizaras, se souberas,
e se foras poeta, poetaras.

Cansado de vos pregar
cultíssimas profecias,
quero dar culteranias
hoje o hábito enforcar:
de que serve arrebentar,
por quem de mim não tem mágoa?
Verdades direi como água,
porque todos entendais
os ladinos, e os boçais
a Musa praguejadora.
entendei-mes agora?

Permiti, minha formosa,
que esta prosa envolta em verso
de um porta tão perverso
se consagre à vossa fé
sou já Poeta converso

Mas amo por amar, que é liberdade."


( Tem o seu preço. Tem o seu preço!)

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Pontes que sobram

 No dia 30 de outubro de 2022 o JN publicava:


E dentro detalhava as mesmas:

Treze projectos que não saíram do papel.

Três projectos em curso!

Para oito Pontes já existentes na área metropolitana do Porto sendo que seis ligam o Porto a Gaia. 

Mas como ainda são poucas vai daí mais uma...                                  (Expresso - 3 de Março de 2022)















...pois o que interessa é aproveitar o PRR que como se vê vai contribuir para o coesão do território e esbater a diferença entre o "litoral" e o "interior".

Mas o que sobra no Porto é apenas uma ponte que estando já construída 8 (e mantida) não serve para nada!                                             (JN - 4 de Novembro de 2022)











E o que dá que pensar é porque é tanta a necessidade de andar de um lado para o outro para que se produza a mesma coisa que pode ser produzida sem tanta mobilidade.

Seria interessante que as estatísticas estudassem o tempo gasto nas estradas e kilómetros percorridos, em média pelos portugueses, durante um ano e comparar esses dados com a média europeia.

Talvez chegassem à conclusão que quem trabalha, mesmo que sue sangue, nunca recuperará aquilo no que respeita a índices de produtividade e que dependam de como os países estão estruturados.


lopesdareosa



sexta-feira, 4 de novembro de 2022

MESTRE QUIM no CERDAL

O Melhor Bacalhau do mundo.

Perguntem ao Zé Maria Barroso

Em vias de extinção devido à praga assai.

No entretanto Mestre Quim vai utilizando a técnica do prato para virar o bacalhau.

Para quem não saiba, que observe na próxima feira ou romaria!




















O Mestre deliciado com a Obra!

Com um grande abraço parecido com aquele da Senhora da Cabeça em 2019.













 https://www.facebook.com/photo?fbid=2730004830403071&set=a.1672979002772331

lopesdareosa

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Da Feira dos Santos até São Martinho

 Ouçamos Júlio Evangelista que nos guia de um lado para o outro e ao mesmo tempo.


E muito embora Pedro Homem de Mello desse o Povo com extinto e até o antropólogo João Vasconcelos tenha afirmado que o povo de PHM nunca existiu para além da mente libidinosa do Poeta...

Está tudo explicado em 



...apesar disso vou todos os anos apanhar um banho de POVO na Feira do Cerdal! 

Isto em dias de Sol como o deste ano!

Outros fui lá apanhar um banho de água e lama!

Mas ainda nada está ganho. 

Tenho que ir a Outeiro pois o Povo de lá além do vinho e castanhas também consegue garrano estufado que é um luxo!

Quem for mais de música vá a Lanhelas. 

A banda de lá dá concerto naquele recinto virado ao Rio.

Tone do Moleiro Novo



AFIFE, 3 de Novembro de 2022

 Por estes dias voltei a entrar no cemitério de Afife.

Como ir à missa, voltei à campa de Ilda Gomes. 

Já contei a história em 

https://lopesdareosa.blogspot.com/2020/06/cemiterio-de-afife.html

Mas vou repetir neste dia 3 de Novembro de 2022

Tempo em que mesmo a Dinora já cá não está.

Mas tempo também de celebrar a vida!

A Mariana Homem de Mello faz anos hoje.

Tempo de lembrar o texto que seu Avô dedicou à Ilda Gomes, gravado numa placa de humilde mármore e que voltei a ler.

SAUDADE

À memória da querida Ilda Gomes

Viver
É ver morrer os outros?
Triste
Corro o jardim sem cor e sem perfume
E tudo em redor, hoje, ainda persiste
Em vir o mar nos ecos de um queixume
Só as hortenses hoje são humanas
E nada mais nos fala. Nada mais
Havia sol nos bosques de Cabanas
Horas felizes de ontem, onde estais?
Pétalas claras que ela amava tanto
nunca outra flor pudera ser tão bela
Ao vê-las lembro o céu por tras do pranto
Azuis eram também os olhos dela.

P.H.M. 19/9/1962