sábado, 31 de agosto de 2019

A que me sabem os dióspiros

Meus senhores:


Isto é um exercício pouco recomendável, escabroso, quiçá fedorento, violento, fruto de um espírito retorcido que, para desgosto da intelectualidade, nasceu pobre, por cima de um eido e em cima de bacas galegas. Mais tarde passou a dormir em cima de holandesas. E a porta do forno lá de casa era calafetada com bósta. Habituado ao cantar dos galos pela madrugada, ao cheiro das bacas e do estrume dá-se, por isso, muito bem no meio dos burgueses, daqueles que deitam um cheiro muito semelhante ao da jorda.  

Só o incomoda o cheiro, quando certos urbanóides usam perfume!

Mas não se queixa! 

Nem pode! 

- A justiça não admite queixas contra o mau cheiro do perfume. 

- A justiça só admite queixas contra o cheiro das vacas, o cheiro do estrume e os galos que cantam de madrugada!

Azar dos intelectuais, o gajo estudou, mas não perdeu o seu lado paleolítico. 

E resolveu não se deixar colonizar. 

Resolveu, fazer cócigas (isso mesmo) à intelectualidade! 

E como prova da sua erudição desafiante aí vai uma, muito pequena, lista dos seus contactos por esse mundo fora. ( Fôra ou Fóra???)


De Alberto Caeiro - (Fernando Pessoa)

Deito-me ao comprido na erva.

Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava.

&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&&%&%&%&%&%&%&%&%

de Miguel Torga

PRECE 

Senhor, deito-me na cama 
Coberto de sofrimento; 
E a todo o comprimento 
Sou sete palmos de lama: 
Sete palmos de excremento 
Da terra-mãe que me chama 
Senhor, ergo-me do fim 
Desta minha condição: 
Onde era sim, digo não, 
Onde era não, digo sim; 
Mas não calo a voz do chão 
Que grita dentro de mim. 
Senhor, acaba comigo 
Antes do dia marcado; 
Um golpe bem acertado, 
O tiro dum inimigo ... 
Qualquer pretexto tirado 
Dos sarcasmos que te digo.


&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&&%&%&%&%&%

de Ana Wiesenberger

Deito-me na cama vazia 

Deito-me na cama vazia
E entrego-me ao silêncio
Não há ecos
Não há sombras
Não há braços, nem pernas
À espera de mim

O meu corpo molda-se aos lençóis
E enrola-se no sonho
Na maresia do desejo de te ter
De te encontrar
Aqui na penumbra do meu quarto
No sossego das minhas vozes
Na tempestade do meu ser
Sedento de ti

Abro os sentidos em mim
Devagarinho, como quem abre
Uma porta antiga, selada de tempo
E deixo-te entrar
Sorrateiro e imponente
Na tua dimensão emprestada
À minha fantasia

Sinto o teu peso sobre mim
A deslizar num movimento febril
E o teu rosto indistinto de sépia
Numa moldura de outro século
Liberta-me em espasmos doloridos
Resgata-me da minha solidão
Para me levar contigo

O Amor franqueia todas as cancelas
A eternidade é o momento

&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&&%&%&%&%&%&


Em Salmos 4:8

Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro.

Deito-me em paz e logo pego no sono, porque, mulher, só tu me fazes repousar tranquilo.



&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&%&&%&%&%&%&%&%&%&%&

Com tal distinta companhia

Do Tone do Moleiro Novo


A que me sabem os dióspiros



Deito-me na cama
na noite um suspiro
teu fruto é banana 
o meu dióspiro


Deito-me na cama

Num gesto
Comovente 
e um gesto
 conivente
fez ausente
a inibição
concomitantemente
Quem cala consente
e o furacão 
saliente
aspirante premente
semovente
leva à sedição
Deito-me no chão
ou em qualquer lado
e mesmo de lado
ou olhando o céu
através do telhado
deito-me ao léu
ou mesmo protegido
de camisa vestido 
da chuva e do vento
deito-me dentro
das mantas do sonho
dessa forma inconho
a da bananeira
maçã de fruteira 
nesse dióspiro
fruto proibido
fruto preferido
até no delírio
ultimo suspiro
deito-me no mar 
do nosso pomar
doce dióspiro


Deusa Pomona

Minha culatrona
por tua causa 
tomo sofalcona

Tenho outra versão que começa assim:

GRÃO  DE  BACA... 

Mas não é para aqui chamada.

E, meus amigos! 

- Nem que o dos cópos se juntasse ao zarolho e ao ratinho,    conseguiriam uma obra de arte desta natureza. 

Talvez com a ajuda do de Bensafrim

O Irlandês iria lá.

Ou seja um répe sofisticado ao estilo do Quim Barreiros!

Tone do Moleiro Novo


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A CARALLADA

Durante anos subi ao Monte da Trega, no segundo Domingo de Agosto. Habituei-me a ficar a um canto do Restaurante, que olha Caminha, com os da CARALLADA a vê-los e ouvi-los a tocar e a cantar. Tantas vezes lá fui que acabei por fazer amizades. 

Uma delas Indalecio Pacheco

Eu não sabia que tinha ficado 
nas imagens. Que servem ainda para  que possa afirmar 
que este ano EU ESTIVE LÀ!


















Com os meus agradecimentos ao Indalécio.

Podem encontrá-lo no XANTAR mesmo no coração da 
GUARDA

lopesdareosa

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

COMER A COISA EM MONÇÃO

Passou o 15 de Agosto. Monção, festa da Virgem das Dores!
Data que não mais esqueço pelas razões que constam aqui

Mas as memórias são como as cerejas!

E nos meus bons velhos tempos de play boy internacional, fui mostrar a Foz do Lima àquela inglesa, estilo faca, que já me recitara o famoso poema de Stevenson " I Will make you brooches" ( Ver a história aqui!)

Ao passar em frente ao Zé Natário, um amigo meu, ali da Ribeira, gritou da esplanada:

- ÓH Lopes! Hoje bai haber fóda!

- Bai, Bai, (respondi eu)  - Vou comê-la a Monção!

E assim foi! 

Depois, no restaurante, a Senhora Dona, que também era a cozinheira, informou-me que o que tinha comido era  fêmea!

Efectivamente a coisa tinha-me sabido a anha!

Do que eu ainda me lembro!!!!

Tone do Moleiro Novo

domingo, 4 de agosto de 2019

Para que servem as lavradeiras


As lavradeiras sempre serviram para alguma coisa.

Estas aqui, além de servirem para tomar parte em manifestações de apoio a Salazar, eram mesmo lavradeiras!




















Com a particularidade de, no canto direito inferior, poder identificar o meu Pai fazendo parte no cordão policial que consta em toda a  beira inferior da fotografia. Por cima desse canto o Nosso Regedor Belarmino Teixeira e o Nosso Presidente da Junta Senhor Morais da Casa do Léro! Ao derredor as Nossas, de Areosa, Lavradeiras.

Hoje em dia as lavradeiras servem apenas para o faz de conta!

Eu depois explico em pormenor.

Cumprimentos
Do carallo do Lopes o que é que ele foi buscar!