domingo, 25 de outubro de 2020

São João d'Arga, outra vez...

 Estou a pensar (outra vez) no São João d'Arga. Local onde também pela primeira vez vi dançar a tal Góta. No São João d'Arga em que em 50 anos falhei duas vezes, tirando a deste ano...

Tantas vezes lá fui que acabei por apanhar boleia dos de Dem por quem esperava na ponte logo após a procissão!

Nos meus primeiros tempos da romaria, quando me comecei a aperceber o que aquilo era, ficava espantado com a chegada do rancho de Dem, aquelas vozes levavam tudo á frente...

Ó i ó ai durante esta cantiguinha, durante esta cantiguinha um oito tem de ser feito Ó i ó ai um oito tem de ser feito A cana verde de Dem leva tudo a preceito

Ora vira vira eu queria-te tanto                                                     Ora vira vira eu queria-te tanto ó lindinha                                    Minha rosa branca criada no campo

Ele já é dia ele já se vê                                                                  ele já são horas de tomar café                                                    de tomar café de tomar cevada                                                    ele já é dia é já de madrugada


Levei cerca de dez anos a integrar-me na cantoria. Depois acabei por participar na tocata. Tempos do Senhor Simplicio, tempos do Tone da Rita, tempos do Desidério!

Não tenho memória fotográfica de então. No entanto, bisbilhotando a página do Zé Miguel, encontrei isto.
O Rancho de Dem em 2016


























Os de Dem a descer ao lado da Casa do Guarda Florestal. O Zé Miguel no Comando!























JJá depois de passar a ponte e já com o de Areosa a meter nojo!

Aqui a minha proclamação aos da Serra d'Arga e aos de São Lourenço.

Abaixa-tó Serra d'Arga Eu quero ver Areosa é terra de gente fina e duma ovelha ranhosa

(O visado é o Tone do Moleiro Novo)





















Inda num é agora a entrada triunfal!

É agora






















Depois alguém apanhou o Zé Miguel a dançar. Dada a formação dos seus parceiros parece-me que estavam a dançar a góta.




O que não lhes sei dizer é de onde era a góta!


lopesdareosa


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Ainda a Góta da Serra d'Arga

 Ainda a Góta da Serra d'Arga

Por de leve e em 21 de Outubro, a esta me referi num comentário breve nessa, também ligeira, coisa do feicebuque.

Para melhor enquadramento do que se trata aqui vai a transcrição

"Estou a pensar que estive hoje no Félix de Gondar.
E acabo a pensar na Serra d'Arga, em Dem, nas terras da Montaria... E na Góta, naquela góta que dizem ser igual em todo o lado.
No entanto Gótas há diversas.
Em primeiro a da Serra d'Arga, depois.... as outras.
Para nos apercebermos das diferenças vejam aqui a versão dos de Dem.
E já agora observem que se por instantes as mulheres valseiam, os homens nunca.
Dançam a correr e a saltar. Jeito daqueles que por montes e alcantilados (tinham) têm de acompanhar os rebanhos.
E já agora atentem no Desidério, o último dos dançadores cantado por PHM " Fim da transcrição

E então, publicitei uma gravação com dez anos já, de uma amostra dançada pelos de Dem de onde ressalta a figura do Desidério, sem qualquer desprimor para os restantes participantes.

Vai este texto, um pouco mais elaborado, ao desencontro de todos aqueles desdenhosos da personagem Pedro Homem de Mello que sempre e ainda tentam menosprezar o Poeta. Mas, a esses só os invoco!

- Num os mando à merda pois a minha esmerada educação não o permite!

Acontece que nas PALAVRAS DE ABERTURA do seu livro FOLCLORE (1970), PHM escreve: ( vai agora a azul)

"Um dia (Talves por volta de 1930 ou antes) fomos (ele e o Domingos Enes Pereira) ao São João d'Arga (festa já descrita no livro POVO QUE LAVAS NO RIO) e uma gota de cuja existência nunca suspeitáramos antes, fascinou-me, gota em que as figuras, de máxima singeleza, se resumem a três, de remate ou trespasse (ou melhor «estrepassado») tão violento que exige que o dançador, para executá-las, não haja atingido, sequer, a maioridade. Debalde quisemos apanhar-lhe a técnica. Por fim exaustos resolvemos virar as costas à romaria e pusémo-nos a caminho de Afife."

Este escrito demonstra que PHM sabia do que falava.                                               -   PRESENCIOU A CENA!

Ora neste, texto PHM, só errou numa coisa. Foi dizer que para a dançar seria necessário que os dançadores fossem de menor idade, isto no sentido de vencer a violência da dança.

Pois que aqui está a gente de Dem para demonstrar o contrário com superior destaque para o Desidério que já na casa dos sessenta a dança como no tempo da sua adolescência!  Tempos em que PHM encontrou o próprio Desidério e por isso lhe dedicou  um texto derradeiro. (Talvez ao último dos grandes dançadores com quem se cruzou na vida!)

E para que todos entendam a que é que PHM se referia aqui vai de novo a tal gravação encontrada no youtube.

Nota:

Este texto é dedicado, ao Desidério e aos outros da dança, da música e da cantoria... aos das Argas e quem diz Argas diz Cerquido, Covas, Cabração, Montaria, Dem...

E também ao José Maria Barroso Coelho a quem, mesmo hoje de manhã, lhe prometi que o publicaria!

 


https://www.youtube.com/watch?v=1pK30rYUtvw

Este vídeo foi retirado do Youtube. 
No entanto encontrei outro com os mesmos "artistas" . 
Espero que não desapareça!




Tone do Moleiro Novo 



domingo, 18 de outubro de 2020

O Espelho do quarto de banho

Fui tomar banho. O raio do espelho ficou embaciado!


 Vago agora, em função  da circunstância                                                                             ao sabor do que a maré me traga                                                                                  mas no espaço entre o tudo ou o nada                                                                         o sonho ocupa ainda essa  vacância                                  

anda comigo mete-te no mar                                                                                               sabe das algas essa estranha essência                                                                             entre o tudo e o nada essa curta distância                                                                       é o espaço que resta neste caminhar

E se algum dia deixar de sonhar                                                                               fugirá deste espelho uma certa imagem                                                                     deixa-lo-ei, baço, por limpar

hesitarei em rumar noutra viagem                                                                                não vá no espelho a névoa condensar                                                                        escorrerem lágrimas                                                                                                                e surgir ainda, desse sonho, uma miragem.

tone do moleiro novo

domingo, 11 de outubro de 2020

MONTEDOR

 MONTEDOR


Quem quizer saber que a Natureza                                                                  muitas vezes desdiz a própria ciência                                                                  porá em causa a sua inteligência                                                      ficará surpreendido de certeza 

 Caminhando para Sul depois das sete                                                     subindo de Afife e virando à direita                                                        há um lugar onde ninguém suspeita                                                                          que verá a prova que jamais se esquece

Que suba sempre e entre pedras páre                                                         onde o caminho acaba no fim de um S                                                      aí chegado basta que a tarde 

caia e o Sol se apresse                                                                           então o mar a Poente arde                                                                         É em Montedor que isso acontece!











Carreço. Na praia do Camarido. 

Num é em Montedor mas poderia ser.

Fotografia de Ernesto Paço.





sábado, 3 de outubro de 2020

Já agora também vou falar do Prédio do Coutinho.

 

Já agora também vou falar do Prédio do Coutinho.

Desde que foi construído sempre houve uma quase unanimidade em considerá-lo um mamarracho. Um aborto urbanístico que veio chocar dramaticamente com a marginal ribeirinha de Viana  construída e consolidada em séculos de desenvolvimento urbano. Na época a coisa foi classificada com aberração por muitos especialistas como o Arquitecto Nuno Portas recentemente  citado por José Carlos Vasconcelos. VISÃO 1373 de 27/06/2019  Pg. 67. E mais recentemente, 2 de Julho de 2019, o Presidente da Ordem dos Arquitectos José Manuel Pedreirinho manifestou à TSF a sua concordância  com a demolição do Prédio Coutinho de Viana do Castelo. Disse que a decisão que tinha  sido sucessivamente adiada só pecava por tardia e por se arrastar há quatro décadas. Mais disse que  seja visto "do Sul ou do Norte, do Santuário de Santa Luzia ou de outro lado qualquer..." o Prédio Coutinho é sempre uma "aberração".                                                                                

Também “o povo anónimo” se pronunciava nesse sentido. P.E  na A AURORA DO LIMA   em Março de 84 um tal JAC referia-se ao      Edificio Jardim como sendo… “aquele enorme e contestado prédio de 13 andares”. No FALCÃO DO MINHO em Abril de 1989 Rui de Abreu, por sua vez, falava em agressões ao património e …daquela agressão poluente que substituiu o antigo mercado municipal.” reclamando a sua demolição.

Realçando aqui que um dos primeiros que se pronunciou publicamente sobre o prédio foi precisamente António Matos Reis que por volta dos primeiros anos setenta numa nota de poucas linhas no Notícias de Viana se referiu a um outro prédio a construir do lado nascente ao do Coutinho cuja volumetria  o levou a escrever que manifestava a esperança de “ que não se transformasse num outro vianossauro como a obra que se erguera ao lado”.

E é ainda Matos Reis que manifesta hoje que Embora considere que o edifício, com a volumetria que o caracteriza, não devia ter existido, não me solidarizo com o processo (ou melhor, com o modo como tem sido conduzido o processo) em que ultimamente tem sido envolvido, com a pretensão de o demolir”

Em Dezembro de 1986 assisti e participei, num Colóquio - Como Cresce a Cidade -  onde um dos oradores disse que resolvia o caso do Prédio do Coutinho destruindo apenas um andar

-  O PRIMEIRO.

Dizia-se, em tom jocoso, que o melhor sítio para contemplar a cidade era em cima do topo do Prédio do Coutinho. Pois era o único sítio onde não se via o Prédio do Coutinho!

Em 1990 um economista que sabia mais de contabilidade do que Cavaco Silva, dá a ideia,  numa entrevista, de o reduzir a seis andares. O problema é que cortar sete andares ao prédio seria mais caro que atirá-lo completamente abaixo. Após o 25 de Abril já tinha sido alvitrado atirar com aquilo abaixo. Mas não havia dinheiro para tal. Mas um dia, um tal José Sócrates, ainda não primeiro  ministro, propõe-se atirar com aquilo abaixo (irra que é demais!) e promove um programa para polixar a coisa.

As opiniões começaram a dividir-se.  Já que estava feito, estava feito e havia o problema dos moradores. Em 2001 alguém, muito inteligentemente, fez notar que o pessoal quando nasce o mais certo é morrer. Pelo que se podia concluir que bastava esperar que eles (moradores já c’os pés pr’á cova) morressem e o prédio ficaria devoluto. No entretanto a Câmara compraria andar a andar. O Tempo faria o resto.

( Mas a coisa não fora bem assim. A culpa tinha sido do contexto. A tirada tratava-se dum substracto do abstracto, meramente filosófico e não se referia aos moradores do Coutinho em concreto. Apenas lucubrações de encéfalos pornograficamente distorcidos que tinham interpretado de tal forma)

Em 2007 o Jornal Tal e Qual  fez, durante dois meses,  um inquérito sobre as aberrações urbanísticas e outros mamarrachos em Portugal . Na generalidade foi a Quarteira que ficou em primeiro lugar.

Em segundo o …Prédio do Coutinho.

O Sócrates chegou a Primeiro Ministro e por essa altura, o comboio da demolição entrou em velocidade de cruzeiro. Travada e reduzida é certo por uma nova guerra ao contrário.

-  Que escândalo pretender agora atirar com o prédio do Coutinho abaixo!!! ( Outra vez???)

E essa guerra; desde as compras, as  indeminizações, advogados,  tribunais e outras artes marciais,  já vai nos 34 milhões de Euros. Isto relacionado à data em que a TVI fez as contas.

E no fim disto tudo o que se pretende fazer no buraco tão penosamente conseguido à custa do Pédio do Coutinho?   

- Um novo mercado!  

E das imagens disponibilizadas passamos do pânico ao terror.

Aqui volto a repetir as palavras de Severino Costa no COMÉRCIO DO PORTO em 16 de Novembro de 1965.!) 

" Centro irradiante de cultura, afinal poderia sê-lo se nos longos meses em que costumamos hibernar acendessem uma lâmpada e acordassem a gente que nasceu e quer viver nas sombras desse burgo a que José Caldas chamou de «fogo morto» como que - feito velho do Restelo - tivesse deixado com essa fatídica legenda uma maldição sobre a terra onde nasceu"

- Eis  Viana dos Castelos - digo eu…

Mais acrescento:

- Viana é amor! Quem gosta vem, quem ama fica.

- E QUEM CONHECE FOGE!

…e estas maiúsculas são da minha lavra a que o Nosso Saudoso Amigo António Viana achava  muita graça. É que além do mais, Viana não sabe o que quer!

- Num me digam que depois de tudo, depois de 34 milhões, quando tudo voltar à estaca  zero, vão construir aquela tristeza???

- Peguem nas fotografias do antigo mercado. Acrescentem um piso. A cércea circundante aguenta muito bem e a coisa não fica estilo acaçapada!. Ampliem-nas até à escala real. Vão aos de São Mamede e encomendem umas paredes em tijolo. Depois reboquem-nas. Os de São Mamede também fazem. Exibam as fotografias para que o Banksy as veja. Pode ser que um dia passe por cá e pinte uns murais de acordo. Ou então ampliem as fotografias à escala real e colem-nas. O espaço interior servirá (provisoriamente) na mesma para mercado dado que no que temos ( e sempre tivemos) as mercadorias são simplesmente espalhadas em bancas improvisadas ou mesmo directamente no chão.   

Aqui vai o frontispício.


E os turistas ao chegarem ficarão maravilhados.

- Que linda que é Viana! 

- É mesmo… mesmo como nos postais!!!

Montem uma banca para recolher pareceres dos autóctones e dos peregrinos

 E esperem um tempo para levedar as ideias.

Pode ser que se decidam daqui a umas dúzias de anos!

Areosa, 3 de Outubro de 2020

António Alves Barros Lopes

Lopesdareosa

Tone do Moleiro Novo