segunda-feira, 1 de agosto de 2011

FRANCISCO PIRES ZINÃO

PENSAMENTOS  DO  AUCTOR

(O Zinão se visse o Acordo Ortográfico, rebolava-se como o jumento.)

Farto-me de imaginar.
Nas desgraças deste mundo
cada vez mais me confundo
E nada posso alinhavar!
Dizer que se hão de encontrar
Homens finos e de letras
Na relação dos patetas
E padres de sabedoria
Com a mesma sympatia
Eu não creio nessas tretas

Por mais que o desengano
Não se hão de capacitar
Por força hão de procurar
Livros de S. Cipriano!
Pois neste mundo tyranno
D'estes patetas tem tantos
Por essas minas d'encantos!
Já tem o mundo furado
E não se tem desenganado
pedindo a todos os Santos

Não tem achado um pataco
Mas dão cabo do que tem
Sempre a pensar que vão bem,
É d'um homem dar cavaco,
Por abrir tanto buraco,
Bebem água sempre, sempre,
E só o dão de presente
Ás sábias pr'adivinhar
Pelos montes sempre a andar
Sem achar ingrediente.

São uns parvos em teimar
Que ninguém os acaduma
Querem grilos da fortuna
Custem quanto lhes custar
Andam-nos a procurar
Por Galliza e Portugal
Quem engana um animal
D'esses deve ser premiado
Alguns dizem que é roubado
Eu digo que não há tal

Temos a nosso favor
A grande lei dos Romanos
Que só castiga os tyrannos
Que vão roubar em rigor;
Que aquele malfeitor
Que rouba em qualquer estrada
Ou que rouba de manada
Contra o gosto do roubado
Esse sim, é castigado
Pela lei determinada

Porém, o que tem roubado
Por indústria ou por arte
Sendo com gosto da parte
Esse não é castigado
Antes 'inda é premiado
Ou com muito, ou com pouco
Contrataram um com outro
É de lei esse contracto
Se no fim se vê roubado,
Vá aprender não seja louco.

Dizem que a usura é pecado
Eu digo que tal não há
Se não querem não vão lá
Pois ninguém é obrigado
Eu cá tenho bem guardado
O dinheiro que lhe dou
E ninguém os obrigou
Se pois querem florear
Porque lhe hão de pagar
Aquilo que se tratou?

As leis do juro antigo
Confesso que fosse bem
Que se dava um vintém
Por cada alqueire de trigo;
N'este tempo que estou vivo,
Já o vendi a quartinho;
Para que hei de dar caminho
De quatro mil e oitocentos
P'ra receber rendimentos
De tres quartilhos de vinho?

E para mais hei-de esperar
Um anno por esse pouco
É d'um homen se por louco
E depois ir-se enforcar;
Porém quem se quizer salvar
diz que assim há-de fazer
Eu não o espero de ter
Nem tão pouco de o dar
Antes o irei tomar
Se alguém o quizer perder.


OU SEJA; DIFERENTE DO TEMPO DO ZINÃO, SÓ MESMO O AO!

Lopesdareosa

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