http://lopesdareosa.blogspot.com/2010/09/origem-das-especies-ou-quem-chegou.html
Mas agora, ontem mais precisamente, RUI VALENTE no Público, voltou ao tema com uma síntese lapidar:
"Sem a protecção das consoantes mudas, as vogais que as antecedem ficam expostas à erosão da oralidade.
A prazo a perseguição da miragem fonética acabará por clamar novas vítimas"
Foi na primeira classe que aprendi a ler, a escrever e a contar. Pratiquei até à quarta. Daí para a frente não tive outro patrono que não os livros e jornais a não ser quando, aos catorze anos, me deparei com o Quintas Ramos - o Esganarelo - que diziam ser filho do Vírgulas. Mas esse pouco ou nada se preocupava com regras gramaticais. Abriu-me os olhos para a literatura e daí para o humanismo em geral.
Acontece agora que tropecei na citação. E, inevitàvelmente, tropeço no AO.
Ora o que está em causa é que reinvidicando ser um acordo ortográfico, este acabará por influenciar a fonética.
Argumenta-se que acabam as consoantes mudas. E onde fica a função "disciplinadora" das mesmas?
Que eu saiba e daquilo que me ensinaram, elas servem (serviam) para indicar a quem lê que a vogal anterior é aberta.
Ou seja funciona como um sinal de trânsito que encontramos nas estradas.Das aberrações resultantes a mais espectacular é a história do "espetador" que com o tal AO ninguém sabe o que significa nem como se pronuncia.
ah! Há sempre os entendidos que tudo explicam e que, logo em socorro do AO de Notre Dame, justificam que a fonia dependerá, então, do sentido da frase, do contexto, da sintaxe.
Curiosa contradição. Dirigido a um universo, maioritàriamente analfabeto, na aprendizagem, não será prioritário nas capacidades de entendimento imediato, a facilidade desta explicação:
- Olha! sempre que vejas uma consoante, que aparentemente não serve para nada, no meio de uma palavra, ela serve para te avisar que a vogal que a precede é aberta!
Muito antes de esperar que o desgraçado do aprendiz entenda o que é isso do sentido, do contexto e da sintaxe?
Daí que, como Rui Valente muito bem explicou, o AO vai, mais tarde ou mais cedo, alterar a fonia.
- ah! Mas é que a língua é uma coisa em constante mutação! - dirão os tais espertos.
- Sim! Por ela própria!
Não é necessário forçar o processo por decreto!
Depois resta o inevitável argumento farmacêutico. Antes escrevia-se pharmácia com PH e agora é farmácia com "EFE".
Mas este exemplo é precisamente aquele que justificaria, como justificou, um acordo quanto à sua ortografia. Passando de PH para eFe facilitou-se a escrita de farmácia sem alterar a fonia.
E não é com um bom exemplo que se justificam as aberrações!
NOTA À PARTE
Acho até de uma deliciosa utilidade o facto de terem substituído o PH pelo eFe.
Um grande salto civilizacional, senão:
- Como é que eu poderia escrever que
ESTOU PHODIDO COM O ACORDO ORTOGRÁFICO,
sem escandalizar ninguém???
LOPESDAREOSA
Sem comentários:
Enviar um comentário