Mais ou menos assim dizem os Galegos num dos duplos sentidos mais bem apanhados que ouvi.
Isto porque todos sabemos o que significa um pescador dizer O MAR ESTÁ UM RIO!
Mas RIBEIRO significa outra coisa e daí a riqueza do trocadilho. Era, até há bem pouco tempo, o mais popular vinho Galego. Entrava-se em qualquer tasco na Galiza e eles tinham um tinto alí dos lados de Ribadávia que ultrapassava o nosso verde no aveludado, na maciesa e na espessura. Hoje o que se engarrafa por Orense não é nada que se pareça.
Beber vinho Ribeiro na Galiza seria mais ou menos a mesma coisa que por cá beber vinho de Perre, salvaguardadas as devidas dimensões territoriais, dado que o vinho de Perre nunca transcendeu a aldeia na sua representatividade. O grande vinho do Alto Minho sempre foi o Alvarinho.
Quanto ao vinho Albariño, e vou à Galiza desde os meus quinze anos, nunca por lá ouvi falar em vinho Albariño até (que) há cerca de vinte anos...
Hoje na Galiza não se fala senão no Albariño. Mas nem sempre foi assim. Há cinquenta, quarenta anos
pouca gente falava de vinho Albariño na Galiza.
Alvarinho era um vinho de Monção com uma aura de preciosidade. Comercializava-se engarrafado por uma firma com o rótulo de CEPA VELHA. Ainda me recordo de ver garrafas dessas no Manel Natário em Viana. Nunca me saíram da memória pois tinham um selo feito de palha.
Depois veio a Adega Cooperativa de Monção e a Brejoeira. Nome que lançou definitivamente o Alvarinho.
E há uma característica que o nosso Alvarinho nunca perdeu. É um vinho de encosta e interior. Não tem contacto directo com o mar. Por isso e muito bem, a sua região se limita a Monção e Melgaço. Desta forma se proteje a qualidade e do risco de se tornar um vinho vulgar.
Mas sucede que aqui ao lado temos a Galiza e os nossos irmãos Galegos, - galegos mas espertos - depois dos elogios de Cunqueiro, DEPOIS DO EXITO DO BREJOEIRA, lançaram-se no plantio intensivo da casta. E não só em microclimas semelhantes aos de Monção e Melgaço mas também e principalmente em áreas directamente influenciadas pela orla marítima como Cambados de onde dizem ser original.
E por isso até têm Albariños RIAS BAIXAS. Estes vinhos obtiveram quatro medalhas de ouro entre catorze em que as restantes foram ganhas por Alvarinhos de Monção/Melgaço no Alvarinho International Wine Challenge realizado em Melgaço no passado mês de Junho, onde também estiveram representados Alvarinhos do Alentejo e dos Estados Unidos.
E por isso até têm Albariños RIAS BAIXAS. Estes vinhos obtiveram quatro medalhas de ouro entre catorze em que as restantes foram ganhas por Alvarinhos de Monção/Melgaço no Alvarinho International Wine Challenge realizado em Melgaço no passado mês de Junho, onde também estiveram representados Alvarinhos do Alentejo e dos Estados Unidos.
Hoje, os Galegos, tomaram-nos a dianteira e o seu markting convence o mundo que o Albariño é Alvarinho.
Não sou especialista em vinhos mas não acredito que seja tão bom quanto o nosso. Que eu saiba a proximidade do mar nunca influenciou os vinhedos no sentido de melhor qualidade, Antes pelo contrário.
Pode ser que com as avançadas técnicas enólogas os provadores venham a convencer o pessoal que esse Albariño sabe a nécoras e pulpo com um leve travo final a maresia, deixando na boca, depois de bebido, um suave aroma a botelha. (não sei se estão a ver outro trocadilho!)
Ora dessa forma o que na Galiza fizeram foi vulgarizar esta casta e consequentemente vulgarizar o vinho. (Não querendo com isto dizer que não haja bons vinhos no meio disso tudo como ficou provado no tal certame de Melgaço!)Daí que acho que do lado de cá não se deve ceder à tentação de fazer o mesmo.
Quanto aos entendidos do lado de cá ou aos ofendidos do lado de lá, que não concordem comigo, sempre lhes direi que tenham paciência.
NA GALIZA NUNCA HOUVE QUALQUER TRADIÇÃO ASSINALÁVEL DE VINHOS
ALVARINHOS.
E não foi por acaso que Afonso Castelao e o malogrado Alexandre Bóveda, dois vultos da diáspora e do nacionalismo galegos, em 1934 em A NOSA TERRA, lançaram o anátema:
"Quen en Galicia toma aperitivos alleos, auga pintada con nomes pomposos en vez do noso insuperable branco Ribeiro, é un inimigo da patria"
Ou seja para estes Galegos e em 1934, o branco Ribeiro era insuperável não aludindo evidentemente a qualquer albariño. É possivel até que, quem bebesse daquela água "pintada" com o nome de Alvarinho, fosse considerado, por estes ilustres, inimigo da Pátria Galega.
Vinho, era Ribeiro.
E se por aí houver, com a minha escrita, alguns indignados, abespinhados, bufarinheiros ou outros ouriços cacheiros, não me venham chatear a pinha.
Não me vou ufanar de algum conhecimento especial, estou apenas a parafrasear;
Um outro insuspeito Galego que se chama Xavier Castro, autor com outras obras sobre o vinho, editou no ano passado - Editorial Galáxia - um livro intitulado A ROSA DO VINHO. CULTURA DO VIÑO EN GALICIA. a quem lhe perguntaram a que se tinha devido a ascensão do albariño e a decadência do ribeiro como representação simbólica da Galiza.
Ora basta a pergunta para nos confirmar tudo o que eu disse anteriormente. No entanto atentem na resposta:
"Históricamente o viño mais representativo da Galiza era o do Ribeiro. Xá na Idade Média era o gran viño do país, o que se exportava a Inglaterra e outros países europeos. É o viño de que fala Cervantes em EL LICENCIADO VIDRIERA, o que bebiam os emigrantes quando sentiam morriña. Pero ai uns trinta anos começou a disputar-lhe este caracter identitário o albariño. Antes era un viño moi escasso, o dos señores dos pazos, os labregos ricos e os cregos. Pero comezou a elaborarse moi ben e a difundirse mais, e esta promoción e esa calidade promoveram a súa sona. No ribeiro tamén houbo mellora, non se me vaian enfadar, pero hai que rocoñocer que o albariño progressou mais e fixose moi popular en Galicia e fóra:
é o viño de que fala Juan Goytisolo, Vásquez Montalban..., o viño de prestixio do país."
E peço um favor aos meus amigos Galegos,
- Não venham a dizer mal do seu conterrâneo só para me contrariarem!
Xavier Castro à esquerda com seu livro na mão aquando da sua apresentação. Fotografia em
http://www.manuelgago.org/blog/index.php/2010/07/21/cursino-acelerado-de-cata-popular-con-xavier-castro-video/
LOPESDAREOSA
Espectacular... A César o que é de César!
ResponderEliminarParabéns.
ResponderEliminarBrindo a este trabalho com um cálice de Porto - Noval Vintage Nacional Porto 1997.
Saúde.
Cumprimentos
Sousa