Cruzaram o terreiro num fim de tarde aborrecida
Dois passos altos e uma testa erguida
Logo os meus olhos tomaram o destino d’uma seta
E a praça, cheia de gente, deixou de ser deserta
Dei ás minhas mãos a direcção do chamamento
Dei aos meus passos os caminhos da aventura
Sem medir a utopia do momento
Dei asas de andorinha ao meu tolo pensamento
Nas ânsias da procura
Dei ao meu corpo os sinais de entrega
Dei-me à surda insensatez que também é cega
Dei aos meus gestos o convite dos sentidos
Dei aos meus sentidos os gestos proibidos
Quando naquele largo numa tarde aborrecida
os passos foram altos e a testa erguida
Dei ás minhas pulsações o ritmo da vida
Dei aos meus olhos o destino de uma seta
Dei aos meus versos a desgraça do poeta
Mas a urbe é curta para o arrátel do esteta
Esgota-se a Cidade na classe média
Reles, pequena, mesquinha,
a burguesia
que não entende e ri-se dela – escarninha -
a poesia!
Tone do Moleiro Novo num dia mais atarefado em encontrar rimas para
a poesia sem ir ao dicionário das cujas.
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