quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PORTO DE PIREUS

Li na imprensa destes dias que os Chineses iriam tomar conta deste porto.
Pireus, não é Atenas apenas, é toda  a Grécia.
Chegam e partem de lá os ferries de e para todas as ilhas que nem os gregos sabem quantas são!
Fui lá uma vez na vida. Cheguei a um cais onde encostavam centenas deles, como o da fotografia. Todos atracados de popa. Para desembarque e também para caberem naquele espaço. Visitava um deles em trabalho para um Armador Norueguês. Encontrei, sentado num cabeço de amarração, um vigilante  a quem, em inglês, perguntei pelo ferry do meu interesse e fui à vida. No regresso e para minha surpresa, o tal vigilante, magro, escavacado, quase escanzelado, perguntou-me:
- Ei cara você é português? (Tinha sabido disso pelos Noruegueses que chegaram depois de mim e que perguntaram por um português) Num brasileiro quase sem sotaque. Mas este detalhe permitiu-me concluir que não era mesmo brasileiro.
- Você fala muito bem português. Alguma vez esteve no Brasil?
- Sou grego e estive trinta anos no Rio.
E contou-me a história mais mirabolante que eu ouvi de um marinheiro. Vinte anos, marinha mercante grega.
Dia de descarga no Rio de Janeiro.
- Numa folga dei uma volta pela cidade. Encontrei uma nega. Levou-me para a favela e fiquei lá trinta anos.
- O que fez durante esse tempo.
- Nada! Tinha a nega que não me faltava, nem com o feijão, nem com a cachaça, nem com o resto. Tinha     sol, tinha música e  futebol. Que mais quereria.
Ao fim deste tempo e depois de cinco filhos a nega tinha-o trocado.
- Não tenho nada. Regressei à  minha terra e estou aqui como vigilante para ganhar algum.
E fiquei uns momentos a olhar aquele homem talvez a passar dos cinquenta, totalmente destruído, que tinha perdido uma vida no Rio de Janeiro e que me deu uma imagem exacta da cidade. A mim que nunca lá fui!


Esta fotografia de Pireus pertence a Flávio Regis Arruda

Voltando aos chineses, podem muito bem tomar conta dos negócios do Porto de Pireus, mas não lhe vão alterar a alma.
Recordo dos meus dez anos, daqueles do rádio, aquela música OS MENINOS DE PIREUS que passava e repassava. Muitas versões desse tema foram cantadas desde então.
No entanto, milagre do youtube, encontrei uma espantosa interpretação de Melina Amália Mercouri a que não resisto em partilhar. ( Ela chamava-se Amália!)
O detalhe daquela correcção do olhar em direcção a uma fotografia de uma equipa de futebol que é recolocada para que toda a canção lhe seja dedicada faz do pequeno filme um monumento ao sentimento interpretativo de Melina Mercouri que se vai espalhando por todo o resto da música.
A equipa de futebol não é nada mais nada menos que a do Olympiacos de Atenas.
Mas o Olympiacos de Atenas não é de Atenas mas sim o  Olympiacos Syndesmos Filathlon Pireos que quer dizer Olympiacos Associação dos Torcedores de Pireus. Daí a simbologia da fotografia em Ta pedia tou Pirea de Melina Mercouri

2 comentários:

  1. Estive no Porto de Pireus no ano passado, e fiquei triste porque o tempo que passei por lá foi muito curto. Quero voltar novamente esse ano, outra vez uma breve passagem, mas quero ficar somente naquela região portuária. Você tem alguma sugestão de passeio naquela redondeza? Grata

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  2. Não a posso ajudar muito. Foi há muito tempo que por lá passei e não saí do porto. Da Grécia trouxe a mais mirabolante história, afinal passada no Rio de Janeiro como a descrevi.
    De Pireus o perfume da memória que em mim deixou
    o tempo de quase adolescente ao ouvir OS RAPAZES DE PIREUS na Voz de Melina Mercury que acabei por revisitar graças ao Youtube.
    A única sugestão é chegar lá dar uma volta pela cidade portuária e apanhar um ferry para uma qualquer das muitas ilhas que os Deuses concederam aos Gregos.
    Obrigado pela visita!!!
    Barros Lopes

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