quinta-feira, 12 de setembro de 2019

E que culpa tem Pedro Homem de Mello?

E que culpa tem Pedro Homem de Mello?


Este texto foi publicado no dia de hoje, quinta-feira, 12 de Setembro na A AURORA DO LIMA ( pg. 18). Vou comprar um exemplar e oferecê-lo à Mariana Homem de Mello como desagravo à memória de seu Avô.

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E que culpa tem  Pedro  Homem de Mello???

No passado dia 14 de Agosto tive a oportunidade de participar  na inauguração da exposição de pintura de Mariana Homem de Mello, neta do titular, ali na Fundação Caixa Agrícola, à rua de Aveiro. Em conluio com a Mariana, fui recriar dois textos de Pedro Homem de Mello, CANTAR DO NORTE e O CANTADOR DE MAZEDO, acompanhado pela Amabélia da Cházinha e o Joaquim do Penedo, de Gondarém.

Não necessitando, Mariana, da muleta de seu avô Pedro para se afirmar como pintora, o HAVEMOS DE IR  A VIANA do Poeta, mote para a exposição,  sempre se justificaria.  Mariana pintora,  neta do Poeta,  veio mesmo a Viana, expor a sua obra.

Tive a oportunidade de justificar a nossa presença no evento socorrendo-me da informação sobre o Convento de Cabanas dada por Avelino Ramos Meira na sua Monografia de Afife em 1945. O que me serviu para, ao mesmo tempo, destacar um pormenor que nunca vi tratado antes:

- Viana, toda a região, todos nós tivemos muita sorte em ter tido na nossa convivência  Pedro Homem de Mello. 

Vejamos:

O Convento de Cabanas foi arrematado  pelo General Luiz do Rego aquando do regabofe da venda do espólio dos Frades confiscado pelo liberalismo. Depois passou para a sua filha, D. Maria Emília do Rego. Depois por morte  desta, para o seu segundo Marido, Dr. Tomaz de Aquino Martin da Cruz. Este casou em segundas núpcias com Dona Januária do Nascimento. Esta por sua vez tornou-se, por morte de seu marido, proprietária do convento. Casou com um espanhol que por sua vez também se finou. Dona Januária casou então com João Bezerra, da Casa dos Cortiços em Afife, que por ser o terceiro marido de Dona Januária passou a ser  conhecido por « João III».

Por fim estes últimos venderam, em 1897, o Convento de Cabanas ao Conselheiro Cunha e Pimentel,  de  Provesende, que fora Governador Civil do Porto. Este por sua vez viu a sua Filha D. Maria do Pilar casar com António Homem de Mello de Águeda   ( O Toy companheiro, em Coimbra, de António Nobre e de Alberto Oliveira) que mais tarde passaram a proprietários do Convento.

Este Casal teve quatro filhos entre os quais Pedro Homem de Mello que acabaria por herdar o Convento.

Ou seja Pedro Homem de Melo só aparece  ligado a Afife pela simples razão de seu avô Cunha Pimentel ter adquirido o Convento de Cabanas. Não tivesse o Conselheiro comprado a propriedade muito improvavelmente Pedro Homem de Mello se envolveria com a região como se envolveu.

Nasceria no Porto. Frequentaria Águeda e Provezende. Seria Poeta na mesma. Escreveria o mesmo Povo que Lavas no Rio. Provavelmente não seria o do Rio de Cabanas em Afife. Seria o do Rio Águeda ou de qualquer outro em terras Transmontanas.  Assim o Dr. Pedro aparece em Afife desde os primórdios em que vinha passar os seus tempos livres na propriedade de seu avô em Afife. E se não  fora esse simples facto, teria privado Viana, Areosa, Carreço, Afife, Santa Marta, Montaria, Dem, Serra d’Arga, Peneda … da companhia, partilha  e envolvimento de Dr. Pedro com a nossa gente. E de todo o testemunho poético legado, consequente desse convívio.

Não chegaria a Gondarém onde encontrou o motivo das cantorias da minha intervenção que não são afinal nada mais que a recriação do que o Poeta cantara com os cinco de Gondarém; Tio Benigno, Cândida do Guilhadas, Leandro do Milé, Artemisa do Penedo e o  Patêgo, gravado num 45 rotações da Alvorada por volta de 1965. Acompanhado eu agora pelo sobrinho da Artemiza, Joaquim do Penedo, e sua esposa Amabélia que por sua vez fizera as vozes de um segundo disco, dos de Gondarém, que Pedro Homem de Mello promoveu já nos anos 70 (salvo erro).

Pela visibilidade que Dr. Pedro deu ao Alto Minho, esta região muito deve àquele que era tido como uma figura patusca e cintilante com a “mania de exacerbar” com o seu vozeirão, a alma de  um povo que na tese de um certo  antropólogo, apenas existiu no delírio do Poeta. A minha é precisamente o contrário. Esse tal povo existiria sempre, quer Pedro chegasse cá, ou não.  Sorte  tivemos nós, em ter por cá Pedro Homem de Mello que, pela conjugação da vida com a compra de uma propriedade, conviveu com um povo que, e com quem, tanto cantou!

Bem, mas as coisas não são bem assim como as contei até aqui.

O historiador Antunes de Abreu nos seus Ensaios III para a História de Viana (Edição da Câmara Municipal de Viana do Castelo em 2007) e reportando-se a um escrito seu de 1994, informa na página 384:

“Mas Pedro Homem de Melo foi um apaixonado por Viana do Castelo, desde  que aí viu o sol brincando até ao momento em que se punha. Fixando-se em Cabanas, Afife, gastou o verão de 1939 a decorar poeticamente o convento abandonado que comprou e onde se fixou!”     (sublinhado meu)

- Então em que é que ficamos???

– Foi Pedro Homem de Melo que comprou a Quinta de Cabanas???

Mas os factos, muito bem relatados por Avelino Ramos Meira, são de tal maneira resplandecentes, que nem admitem qualquer especulação interpretativa. 

E por isso nem sequer é necessária o contributo, do badamerdas do Tone do Moleiro Novo, para esclarecer o assunto!!!

Lopesdareosa,  Setembro  de 2019

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NOTA DE RODAPÉ

Serve este texto  também de desagravo à memória do Augusto "de Cabanas", durante tantos anos feitor  da Quinta e também ás "da Pôça".  Com especial referência à Dinora, ainda viva e sua Irmã Ilda  a quem Pedro Homem de Mello, como epitáfio, dedicou o mais comovente texto que alguma vez li na Língua Portuguesa. 

Como os seus antecessores, de tanto que trabalharam naquela Quinta, não mereciam que alguém dissesse que estava abandonada quando chegou ás mãos do Dr. Pedro ou mesmo depois.

Setembro de 2019
Tone do Moleiro Novo

Já pelo São João, em 2021, acrescento agora esta imagem de um Postal do fim do Século XIX início do XX. 
A quinta não era, ainda, de António Homem de Melo mas sim de seu sogro.


Esta devo-a a Fernando Cerqueira Barros.
 Que também é guardador de memórias.































4 comentários:

  1. Excelente texto. Bem haja, Eng. Lopes (Amigo Tone do Moleiro Novo!)

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  2. Muito esclarecedor Engº Lopes na linguagem terra à terra que o carateriza e que aprecio.
    Um abraço,
    M. O. Martins

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  3. Vou parafrasear José Afonso!
    Roubam-me Deus e a verdade!
    - Quem cantarei???
    - Aldrabões??????

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  4. António,
estou-lhe imensamente agradecido pelas retificações.
Então quis dizer numa manhã fria de Inverno de 1984.

    Quanto ao convento desconhecia essa evidência que agora sei que é certa, o que lhe tenho que agradecer. 
A fonte na qual me informei aquele então levou-me a cometer esse erro.
Acabo de ler isto:

    "O Convento de São João de Cabanas era masculino, e pertencia à Ordem de São Bento.

Foi remodelado no século 17 e mantém até hoje o mesmo perfil arquitetónico.

Foi comprado em 1897 por Cunha Pimentel, antigo Governador Civil do Porto, avô de Pedro Homem de Mello.

Foi residência do poeta Pedro Homem de Mello.

O mosteiro foi adquirido em 2019 pela cantora suíça Nathalie d’Ornano que, após ali viver durante dois anos, decidiu reabilita-lo para alojamento turístico."

    Respeitosos cumprimentos.

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