sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Francisco Seixas da Costa. Outra vez


Nestes dias encontrei, no JN, um texto curioso pela sua honestidade. Da autoria de

28 Novembro 2018 às 00:22
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Enganei-me
"Há três anos, para surpresa de alguns, coloquei reticências à fórmula encontrada por António Costa para envolver forças políticas mais à esquerda no apoio a uma solução minoritária de governo do PS.
Havia três razões para os meus receios. Por um lado, o efeito externo que essa solução poderia vir a desencadear nos mercados económicos e financeiros, com impacto na recuperação da débil situação portuguesa. (Há quem se esteja "nas tintas" para os mercados, mas essas pessoas fazem parte de quantos sabem que nunca terão a responsabilidade de garantir a subsistência financeira do país). A segunda razão tinha a ver com a fiabilidade dessas mesmas forças políticas, no suporte a um executivo que se previa fosse defrontar, como defrontou, a acrimónia de quem se sentia desapossado do poder. (Também sei que algum tropismo ideológico considerava isto uma irrelevância, porque a "maioria de esquerda" era o seu sonho eterno, "e depois logo se veria"). Acrescia, finalmente, a imprevisibilidade de um novo presidente da República, cuja base natural assentava em quantos então regressavam à oposição.
As coisas correram bastante bem. Surfando uma conjuntura europeia e internacional favorável, António Costa cumpriu a promessa de respeitar os compromissos financeiros que Portugal tinha subscrito na Europa. (Claro que há quem ache que o país deve "romper" com aquilo que assinou, porque a irresponsabilidade é um produto barato, mas o barato quase sempre sai caro). Os parceiros foram, no essencial, fiéis àquilo que tinham garantido, da mesma forma que o governo, pagando algum preço político (no caso das reversões das privatizações, por exemplo), mostrou cumprir com a palavra. O presidente foi uma agradável surpresa: demonstrou sentido de Estado e elevado espírito de cooperação.
O Parlamento estava assim certo quando escolheu este modelo. Pelas sondagens, concluir-se-á que o país, maioritariamente, está satisfeito. Eu estava errado.
Há dias, passou o 25 de novembro, data que, estranhamente, alguns teimam em erigir em trincheira com que pretendem fazer uma leitura "autêntica" do 25 de Abril. É uma atitude típica de vencidos inconsoláveis, de saudosos de algo que afinal, os reais vencedores daquela data não deixaram que acontecesse: a ilegalização do PCP. Na realidade, ver hoje as forças políticas que um dia foram tentadas por uma via revolucionária integradas numa solução democrática e constitucional de governo é talvez a verdadeira vitória do 25 de novembro."
*EMBAIXADOR

Ao fim de três anos depois de ter manifestado os seus receios pelo sucesso da geringonça do Costa, reconhece Seixas da Costa que se tinha enganado. Muito bem, pensei!

Mas lembrei-me de um outro texto de uma outra "sentença" de Seixas da Costa, esta em 26 de Maio de 2017 no mesmo JN.

Realismo e juízo

26 Maio 2017 às 00:00

"Haverá alguém, no seu perfeito juízo, que acredite que o qualificativo dado por Wolfgang Schäuble a Mário Centeno - "o Ronaldo do Eurogrupo" - é algo mais do que uma arrogante "boutade"? Só alguma saloiice lusitana é que acha que a "teoria económica" da "geringonça" é vista com admiração nos círculos preponderantes no Eurogrupo. É claro que eles podem achar curiosos os resultados obtidos, mas ninguém os convence minimamente de que tudo não decorre de um acaso pontual. Para eles, trata-se apenas de um "desenrascanço" conjuntural, fruto de alguma acalmia dos mercados, do efeito das políticas temporalmente limitadas do BCE, do salto das exportações (que entendem nada ter a ver com a ação do Governo), do surto do turismo (por azares alheios e sorte nossa, como o "milagre do sol"), bem como do "pânico" da Oposição em poder ver Passos & Cia de volta, desta forma "engolindo sapos" e permitindo ao PS surpreender Bruxelas com o seu seguidismo dos ditames dos tratados. Ah! Eles também constatam que a política de estímulo do consumo acabou por não ser o "driver" anunciado do crescimento. E que tudo o que foi feito está muito longe das imensas reformas que eles consideram indispensável, nomeadamente no regime laboral e nas políticas públicas mais onerosas para o OGE (Saúde, Educação, Segurança Social, Fiscalidade), por forma a promover uma redução, significativa e sustentada, da dívida. É assim uma grande e indesculpável ingenuidade estar a dar importância à "boca" do cavalheiro alemão!
Também só a crendice paroquial concede um mínimo de plausibilidade à ideia de Mário Centeno vir a chefiar o Eurogrupo. Conhecidos os desequilíbrios doutrinários no seu seio, passa pela cabeça de alguém (pelos vistos passa!) que venha a ser escolhida uma pessoa que tem titulado uma linha em aberto contraponto com o sentido do "mainstream" que domina aquele fórum? Mesmo que houvesse interesse em ter um socialista para no lugar (dado o excesso de gente do PPE, hoje um pouco por todo lado), esse "socialista" teria sempre de ser (ou ficar) do tipo de Dijsselbloem, isto é, uma voz ventríloqua de Schäuble. E, se acaso isso fosse possível, que interesse podia ter para nós? Colocar Centeno a ter de desdizer-se face ao passado recente, vocalizando, contra o seu sucessor, aquilo com que não concorda? E com que "cara" ficaria António Costa, depois de ter publicamente assegurado que apoiaria o espanhol Luis de Guindos? Conheço-o suficientemente para ter a certeza de que se não prestaria à trampolinice de Durão Barroso, quando se locupletou com a presidência da Comissão Europeia, depois de tanto "entusiasmo" revelado com a candidatura de António Vitorino.
Paremos assim para pensar e, entretanto, tenhamos juízo."
* EMBAIXADOR

Com o destaque em letras gordas de que:

"Só a crendice paroquial concede um mínimo de plausibilidade à ideia de Mário Centeno vir a chefiar o Eurogrupo."

Acontece que não me apercebi de que Seixas da Costa tenha já dado a mão à palmatória por tanto desdém a Centeno e sua circunstãncia. No entanto como a ciclo de retratação é de três anos pode ser que ainda apareça se é que não apareceu ( o desfazer dos enganos)! 

Mas já em Dezembro de 2017 Seixas da Costa suaviza o seu discurso sem aludir ao que tinha afirmado antes. Ver


Destacando
“O prestígio de Mário Centeno no Eurogrupo foi conseguido numa lógica de medidas que não eram óbvias”, afirma Francisco Seixas da Costa, secretário de Estado dos Assuntos Europeus nos governos de António Guterres, entre 1995 e 2001. “Centeno cumpriu o que disse, o que forçou ao seu reconhecimento pela Alemanha e o ministro Wolfgang Schäuble”, prossegue o diplomata recordando o epíteto de “Ronaldo das Finanças” ao ministro português do seu homólogo germânico. No entanto, Seixas da Costa é prudente. “Não acredito numa mudança  europeia em relação à ortodoxia económica, Mário Centeno ganhou espaço, mas não acredito que a Europa admita que havia uma alternativa, mas sim que era possível uma terapia menos dolorosa nesta segunda fase do tratamento”, adverte. Dito de outro modo: “eles [UE] não consideram que a primeira terapia foi errada, mas que é possível um amortecimento das políticas.” E termina com ironia: “afinal Centeno não servia para chefe de gabinete de estudos do Banco de Portugal e serve para presidente do Eurogrupo.” Uma referência à oposição do governador Carlos Costa a que o actual ministro das Finanças assumisse aquela responsabilidade no banco central. Contudo, Francisco Seixas da Costa antevê na eleição de Mário Centeno um passo numa reconciliação da Europa com os países do Sul. “Não pondo em causa o trajecto, mas demonstrando que se pode ir por outro caminho numa austeridade soft”, explica. Neste processo, os dois anos de contactos políticos de António Costa, para além do limitado campo da família socialista europeia, foram decisivos."

Evitando assim o incómodo da sua primeira posição se o mais que improvável fosse para a frente.

Coisa que não aconteceu com o desgraçado (sem graça) do Marques Mendes que meteu os pés pelas mãos para justificar os seus disparates. Ver a partir do dia das mentiras em Abril de 2017.


Ver também 


Acontece que não acho que Seixas da Costa seja da mesma laia de Marques Mendes! Espero!

tone do moleiro novo - o chato!


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