AREOSA desapareceu do mapa II
E também desapareceu da minha memória quando publiquei a primeira. Mas essa memória foi recentemente avivada pelo texto publicado no passado 14 de Agosto aqui na A AURORA DO LIMA, pelo Areosense Carlos Baptista.
AREOSA, uma freguesia oficialmente ignorada.
Roubada, enganada, vilipendiada, enxovalhada…acrescentaria eu!
Roubada na água cuja história vem já do Espinheiro e do Fincão. Passou ao Real e Castanheira em S. Mamede. Depois à Chã das Cheiras. Depois ao Rio dos Ôlhos. Depois ao da Maganhão.
E mais recentemente na água que abastecia os fontanários. Roubada no seu território que com o testemunho da Câmara Municipal se podia (pode) desenhar ao metro, até onde o Campo d’Agonia batia no mar.
Roubada na forma tentada, no monte, aforado ( pela Câmara em 1825) até à (antiga) Capela de Santa Luzia, mas que, por volta de 1880, um Presidente dessa mesma Câmara, resolveu atirar com ele para uns quinhentos metros mais a Norte.
Enganada aquando da sua “integração” em Viana. Passaram os Areosenses de aldeões a “cidadões” sem dar por ela e sem que Areosa afinal deixasse de ser rural.
( “Como de repente deixei de ser labrego"! Publiquei então, 24 de Outubro de 1990, aqui na A AURORA DO LIMA).
Vilipendiada e enxovalhada num processo sobre os limites em que os seus testemunhos e documentos apresentados foram simplesmente desprezados em favor da “tese” do testemunho facilmente desmontável do “sempre foi assim desde tempos imemoriais!”
Enxovalhada por responsáveis autárquicos e outros colaboracionistas, que consideraram que o processo dos limites não tinha pés nem cabeça e que num fazia sentido!
Bem, AREOSA é de tal forma ignorada, também e até, porque desapareceu do mapa. Só se encontra identificada na Sede da Junta de Freguesia e no Apeadeiro. De resto já fui abordado por gente que vinda da França me perguntaram onde era Areosa, quando já se encontravam na EN13... em Areosa.
Mas há uma passagem imediatamente incompreensível a “…da maioria socialista em sintonia perfeita com o município…” até às “…divergências entre a junta e a câmara…”
Já que factualmente a coisa se deduz , basta observar como se estão a perfilar as listas para as eleições em Areosa, o que não se sabe é do miolo que a tal conduziu. Talvez se saiba um dia da sua extensão e da sua qualidade. Depende dos resultados das próximas eleições.
No entretanto sempre citarei António Martins da Costa Viana. “Já não há Areosenses. Há moradores em Areosa”.
Mas também retenho as palavras de Carlos Baptista:
“Ignorar para ver se desaparece." – Areosa, Claro. “Conseguiram manchar o bom nome de Areosa e beliscar a dignidade de quem cá vive” – “Areosa ficou congelada no tempo”- “Esta freguesia enorme e amputada” - “A freguesia eclipsou-se” – “Areosa…vai sendo empurrada para os arrebaldes” – “A inação …é uma traição à probidade do bom povo de Areosa”
O que quer dizer que ainda há Areosenses!!!
E como sou desse tempo!
Areosenses daqueles que cresceram alimentados pelo leite das vacas, quando havia vacas em Areosa.
( O Ernesto ainda as tem! Mas já não tem as crianças à porta dos do Artilheiro no dia da Ascensão)
Areosa, 17 de Agosto de 2025 –
António Alves Barros Lopes
Nota I
Este texto foi publicado na A AURORA DO LIMA de 18 de Agosto de 2025
Nota II
Já agora o texto de Carlos Baptista que deu origem ao meu comentário.
Areosa atravessa um dos capítulos mais
sombrios da sua história recente. Não estamos a falar de uma localidade
qualquer: terceira maior freguesia do concelho em população, extensa em
território e parte integrante da própria cidade de Viana do Castelo. Porém, há
anos que os poderes públicos decidiram, ao que parece, fingir-se de mortos: o
desinvestimento é absoluto, o desinteresse do executivo municipal é gritante e
o abandono roça o escândalo. A junta de freguesia limita-se a um estado de
paralisia embaraçosa – enredada em dívidas, sem rumo, sem dinamismo e, pior
ainda, ostentando uma atitude de puro descaso perante um município que prefere
fechar os olhos. Talvez seja uma nova estratégia de governação: ignorar para
ver se desaparece. As desventuras do mandato atual, de maioria socialista em
sintonia perfeita com o município – afinal, família não se critica –
conseguiram manchar o bom nome de Areosa e beliscar a dignidade de quem cá
vive. Tivemos de assistir à queda do presidente eleito, arrastado por
investigações judiciais e constituído arguido, enquanto se descobriam gastos
indevidos dos dinheiros públicos e uma dívida insolúvel e escandalosa: meio
milhão de euros! Com uma nova presidência, esperava-se mudança, mas caiu-nos o
manto do silêncio e da inação: divergências entre a junta e a câmara
transformaram Areosa num planeta isolado do Universo municipal.
Areosa ficou congelada no tempo, em estado de
letargia: entrou de férias indefinidas e vive de glórias passadas, quando
ousava ser moderna e progressiva. O dinamismo autárquico é inexistente.
Investimento em infraestruturas ou renovação de equipamentos? Absolutamente
nulo. Estradas para rasgar, caminhos por alargar, largos abandonados por
arranjar, um rio sistematicamente desprezado, património esquecido a precisar
de mão de tinta, centro escolar por erguer, floresta por tratar, limpezas por
realizar, projetos e ordenamento urbano sequer vislumbrados. Nada mexe em
Areosa, tudo por fazer, progresso eternamente adiado.
Planos para Areosa? Não consta. Esta freguesia,
enorme e amputada pelas infraestruturas que a atravessam, continua a lidar com
acessos impróprios, rede viária desconexa e caótica e um atraso que ofusca
tantas outras freguesias bem menos relevantes para a cidade. Areosa,
assumidamente cidade desde 1991, mas eternamente tratada como periclitante
subúrbio, vai sendo empurrada para os arrabaldes. O campo de jogos aguarda
relocalização, o relvado verde é miragem, outros equipamentos desportivos não
passam de devaneio, creches insuficientes, centro cívico uma ficção,
alternativa à EN13 é lenda e novos eixos viários servem apenas para adiar
promessas.
A freguesia eclipsou-se e nem esperança resta de
ver, ao menos, uns remendos nos arruamentos ou algum asseio nos passeios e nos
tão degradados espaços públicos. Este desprezo institucional não encontra
qualquer justificação, sobretudo quando o orçamento municipal, esse, parece
servir para tudo menos para o essencial: cumprir a obrigatoriedade legal de zelar,
promover e desenvolver equitativamente todas as partes do concelho. É que, para
quem já leu a Lei das Autarquias Locais – obrigação que se recomenda a quem
ocupa cargos –, estas têm o dever incontornável de garantir o desenvolvimento
harmonioso, solidário e sustentável das comunidades. Areosa faz parte do
“todo”, por mais que alguns prefiram, ironicamente, fechar-lhe a porta. A
responsabilidade deste desleixo é integralmente da Câmara Municipal: não se
pode empurrar para os outros aquilo que só a quem decide compete resolver. Mas
sabemos: em política, a responsabilidade só é bonita no papel. Em Areosa, não
se vislumbrou um único sopro, por mais ténue que fosse, de qualquer ação zelosa
por parte da câmara em prol da tão apregoada coesão territorial do concelho.
A inação não é um detalhe – é uma traição à
probidade do bom povo de Areosa!
Carlos Baptista