Isto porque já tinha publicado - MORREU A MINHA NAI!
Ontem despedi-me d'Ela.
Mas num sei se foi assim
Se é que me despedi d'Ela
Ou se foi Ela de mim!
(Maldita tendência para o rimanço. Mas rimou e foi verdade!)
E ontem fiquei, na vigília, a sós com ela.
A minha Mãe é eterna...pensei ao olhar para aquela mulher.
Aliás, como todas as Mães o são!
Chegou à minha ideia uma quadra mexicana.
Despedidas no las doy
porque no las traigo aquí,
...
...
Como poderia eu despedir-me de minha Mãe se, sendo eterna, (como todas a Mães) por aí a irei encontrando? Apenas num sei onde nem sei quando.
(outra vez o rimanço).
í
tinha a minha Biblia a meu lado para nos fazer companhia!
Os dois volumes da compilação da obra de Pedro Homem de Mello recentemente publicada pela Assírio e Alvim e capitaneada por Luis Manuel Gaspar.
Logo à entrada e no seu primeiro livro PHM lança a sua CARAVELA AO MAR
E logo à entrada o seu primeiro soneto com o mesmo nome!
Que passei a ler em voz alta para que minha Mãe ouvisse! O sino de Vinha tangia oito vergastadas.
Mar alto. A brisa leva docemente A minha caravela. Há nevoeiro... Falo às ondas, noviço marinheiro, Num canto adormecido que lhes mente.
Atrás só vejo mar e vejo em frente O grande mar também; vogo ligeiro... Tomo das águas movimento e cheiro Sou vaga entre as mais vagas da corrente
E logo acima encontro o céu distante O firmamento une-se ao mar gigante - Espelho onde se mira a eternidade...
Sinto-me só, minúsculo momento; Tenho por mim não sei que sentimento; misto de amor, respeito e piedade...
(Ó Doutor Pedro! Nem de propósito)
Afinal estava tudo alí!
O mar era o do Porto de Vinha.
A minha nau poderia ter sido talhada com as tábuas do caixão da minha Nai!
O céu afinal era perto.
A minha Nai, que para lá já fora, ainda ali me fazia companhia.
E essa, aliviava-me da solidão do momento.
E o turbilhão de sentimentos desaguaram na piedade.
Num foi piedade!
Foi pena!
Uma imensa pena. Uma imensa e triste pena daquela mulher.
Tanto fez por mim!
Tanto se sacrificou por mim.
- O meu filho há-de ser Padre ou Doutor!
Dizia na ansia de nos libertar da dureza da lavoura.
Num dei Padre nem Doutor
Apenas lavrador falhado e mecânico assim-assim!
Ali lhe pedi perdão por num ter correspondido à altura das suas aspirações.
E continuei a ler PHM que logo a seguir me descobriu na TREVA.
Amor de irmã, amor de noiva, amor de pais, já tive a dar-me enlevo, a dar-me encanto; Mãos de mulher a enxugar meu pranto, Lábios piedosos a abafar meus ais,Abriu-me a lira os mágicos portais, Vestiu-me a fantasia com seu manto, E foi minha alma a Deus, solta no canto, Ao sopro de asas leves ideais.
Quando porém lhe falam de ventura Dói-se o meu coração - logo procura O estranho bem as longes alegrias...
Dedos febris, a fronte húmida e triste, Fui sempre o cego, pálido que insiste Em ver os seus anéis de pedrarias
De facto!
Fui sempre o cego que nunca reparou nas suas mãos vazias!
- Como é que PHM o adivinhou???
Mas PHM não foi apenas bruxo. Também espalhou conselhos. E nessa CARAVELA AO MAR e também em Afife, deixou um.
Não choreis nunca os mortos esquecidos. Na funda escuridão das sepulturas. Deixai crescer, à solta, as ervas duras. Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E quando á tarde, o Sol, entre brasidos, Agonizar ... guardai, longe, as doçuras Das vossas orações calmas e puras Para os que vivem mudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos, Da multidão sem fim dos que são vivos dos tristes que não podem esquecer.
E ao meditar, então, na paz da Morte Vereis talvez como é suave a sorte Daqueles que deixaram de sofrer.
( - A Minha Nai?
Decerto
Muito me custaria se continuasse a sofrer por minha causa)
E assim passaram os lentos minutos lavando a negra alma com o sabão da poesia de Pedro Homem de Mello.
Poeta menor como toda a gente sabe.
Imaginem agora como seria se frequentasse o olimpo dos maiores!
NOTA
A minha Bíblia
Antigo Testamento
Novo testamento
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