segunda-feira, 12 de junho de 2017

MÁRIO PEDRA

Como pode a humanidade gerar alguém para além dos seus defeitos? 

(Seus, da humanidade. A língua portuguesa, que ele ensinava, tem estes pequenos tropeços.)


Nunca vi Mário Pedra sem um sorriso, sem  compassividade, sem ser solidário, não só com a ignorância, que ajudava a combater, mas também e até, com a própria estupidez que desculpava.


A sua sensibilidade levou-o a fixar a beleza das raparigas de Areosa que trabalhavam na veiga no tempo em que isso era verdade!


Desse tempo, hoje só e apenas a veiga destroçada e as moças, lindas como sempre, nas paradas d'Agonia. Mas que já não cegam a erva. Apenas os homens.



Desses tempos uma quadra com a qual ganhou um prémio! Ao Rio Lima que Viana não merece!


Se o Lima secasse um dia 
como fonte que morreu
outro rio correria 
dos olhos que Deus me deu

O Curioso é que quem me alertou para esta quadra foi o seu irmão,
Necas Pedra.

E num momento de mulheres ausentes, muito vinho e fraca inspiração, pretendi dar em Aleixo e alinhei, em glosa, as seguintes décimas:

Meu Amor para te ver                         
Eu subi o Rio Lima                             
Ao som desta concertina                     
até ao amanhecer                                
Eu ao Rio fui beber                             
aquilo que não sabia                            
e senti que ficaria                                 
mais vazio desde então                        
de luto o meu coração                          
se o Lima secasse um dia!       
            

Mas um dia de repente
desses em que o frio corta
Numa carícia já morta
Tu me deste um beijo ausente
E a terra confidente
Debaixo de mim tremeu
tu disseste o que eu
se pudera não ouvira
Que o teu amor acabara 
Como fonte que morreu


Perguntei então e eu                           
que vou fazer ao que eu sinto          
vou fechá-lo num recinto                 
à espera que tudo acabe?                     
que mais cedo ou que mais tarde        
disseste que assim seria                       
que eu também te esqueceria               
disseste na despedida                           
que ainda na minha vida                      
outro rio correria.  


 Mas o Rio é sempre igual
Nem sequer as pedras mudam
E sempre que as águas subam
Me há-de lembrar afinal
Pra meu bem ou pra meu mal
Tudo o que me aconteceu
enfim o lugar que é teu
para além dum pensamento
ficará no firmamento
dos olhos que Deus me deu

Não sei se, algum dia,  mostrei isto ao Mário Pedra!
Espero que São Pedro tenha fornecido a senha do uaifai aos utentes!

lopesdareosa

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