(Seus, da humanidade. A língua portuguesa, que ele ensinava, tem estes pequenos tropeços.)
Nunca vi Mário Pedra sem um sorriso, sem compassividade, sem ser solidário, não só com a ignorância, que ajudava a combater, mas também e até, com a própria estupidez que desculpava.
A sua sensibilidade levou-o a fixar a beleza das raparigas de Areosa que trabalhavam na veiga no tempo em que isso era verdade!
Desse tempo, hoje só e apenas a veiga destroçada e as moças, lindas como sempre, nas paradas d'Agonia. Mas que já não cegam a erva. Apenas os homens.
Se o Lima secasse um dia
como fonte que morreu
outro rio correria
dos olhos que Deus me deu
O Curioso é que quem me alertou para esta quadra foi o seu irmão,
Necas Pedra.
E num momento de mulheres ausentes, muito vinho e fraca inspiração, pretendi dar em Aleixo e alinhei, em glosa, as seguintes décimas:
Meu Amor para te ver
Eu subi o Rio Lima
Ao som desta concertina
até ao amanhecer
Eu ao Rio fui beber
aquilo que não sabia
e senti que ficaria
mais vazio desde então
de luto o meu coração
se o Lima secasse um dia!
Mas um dia de repente
desses em que o frio corta
Numa carícia já morta
Tu me deste um beijo ausente
E a terra confidente
Debaixo de mim tremeu
tu disseste o que eu
se pudera não ouvira
se pudera não ouvira
Que o teu amor acabara
Como fonte que morreu
Perguntei então e eu
que vou fazer ao que eu sinto
vou fechá-lo num recinto
à espera que tudo acabe?
que mais cedo ou que mais tarde
disseste que assim seria
que eu também te esqueceria
disseste na despedida
que ainda na minha vida
outro rio correria.
Mas o Rio é sempre igual
Nem sequer as pedras mudam
E sempre que as águas subam
Me há-de lembrar afinal
Pra meu bem ou pra meu mal
Tudo o que me aconteceu
enfim o lugar que é teu
para além dum pensamento
ficará no firmamento
dos olhos que Deus me deu
Não sei se, algum dia, mostrei isto ao Mário Pedra!
Espero que São Pedro tenha fornecido a senha do uaifai aos utentes!
lopesdareosa
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