quinta-feira, 19 de maio de 2011

RENDIMENTOS DO TRABALHO

O SÓCIO-ECONÓMICO

Eu sou do tempo em que velhos eram os outros. Pelos vistos aos velhos pertenço eu agora dado que já digo
- Eu sou do tempo em que...                ...qualquer coisa.

Isto vem tudo a propósito de uma moda que seria muito interessante datar o seu início.

Ou seja, cresci num ambiente em que os rendimentos não provinham do trabalho.
Perguntava-se.

- De que é que ele vive? Nunca o vi a trabalhar!

- Ah! esse não trabalha. Vive dos rendimentos.
Era a justificação.

Ou seja, o que eu sabia é que do trabalho haveria um soldo, um salário, um ordenado.

Rendimentos tinham aqueles que viviam da "renda" do lucro, das vacas a ganho, da agiotice, dos ganhos de capital e etc.

 Ficou célebre até aquela cena em que um juiz perguntou e agora não sei se a um réu ou a uma testemunha, qual era a profissão do indagado.

- Capitalista. Foi a resposta.

Ao que sei o patrono verberou a mesma salientando que ser capitalista não seria profissão.

Ou seja, mutatis mutandis (1), nem do trabalho se retira rendimento da mesma forma de que quem vive dos rendimentos  não exerce qualquer profissão.

Ora a coisa estava mais ou menos estabelecida até há bem pouco tempo. Quando entrei para os Estaleiros
havia uma Secção chamada ORDENADOS E SALÁRIOS. O chefe dessa secção era o saudoso e espectacular Carlos Alves. Nunca essa secção se chamou Secção dos RENDIMENTOS DE TRABALHO de suas excelências os trabalhadores dos ENVC.

E a coisa funcionava de tal ordem que o imposto que os ordenados e salários pagavam ao Estado se chamava IMPOSTO PROFISSIONAL.

Ora já depois da Abrilada resolveram inventar o IRS e foi mais ou menos a partir daí que comecei a ouvir falar de Rendimentos do Trabalho.

Ora Rendimentos de Trabalho é um eufemismo e ao mesmo tempo uma contradição. Ou se trabalha ou se vive de rendimentos.

A ideia foi-me magistralmente sintetizada por um galego de seu nome Manolo, que tendo encomendado a instalação de dois GMs na sua voadora, me viu, atarefado, a resolver problemas do trabalho lá na Mecânica.

Condoído, pesaroso e paternal me aconselhou:

- Hombre! no trabajes tanto. No tienes tiempo de gañar diñero!

A coisa sempre trouxe água no bico e isso dos rendimentos de trabalho é mais para fazer crer que não há outros rendimentos ou que esses outros não serão tanto ou mais importantes no global da  economia.

E o que eu gostaria de saber era qual o peso percentual dos impostos sobre os tais rendimentos do trabalho em sede de IRS e compará-lo com o peso desses mesmos rendimentos em sede de PIB relacionando-os aí com os rendimentos de capital. Espero que alguém me ajude.

É que já ouvi dizer para aí que quem trabalha é que paga imposto. Como se a remuneração do trabalho fosse a única fonte para amanhar a vidinha.

Vem tudo a propósito da crise e de todos os doutos e encartados economistas não saberem mais nenhuma ladainha que não seja que temos que cortar nos salários e pensões.
Pergunta-se:
-Só os que dependem de salários e pensões é que ganham dinheiro?
- E os outros?

Uma vez aqui,  lembro agora o que o Chefe Pereira da Sala de Projecto dos ENVC contava e já antes da abrilada!

Sempre ouvira os políticos e administradores públicos, nas suas arengas discursivas, falar do Sócio-Económico.

Ele era o Ambiente Sócio-económico
Ele era o Desenvolvimento Sócio-económico
Ele era o Impacto Sócio-económico
Ele era a Evolução Sócio-económica.
Elas eram as Mudanças Sócio-ecomómicas
Elas eram as Estruturas Sócio-económicas
Eles eram os Processos Sócio-económicos.
Eles eram os Sistemas Sócio-económicos.
Ele era o Nivel Sócio-económico
Ela era a Análise Sócio-económica.
Ela era a Natureza Sócio-económica.
Ele era o Contexto Sócio-económico.
Ela era a Conjuntura Sócio-económica.
Ele era o Impacto Sócio-económico.
Ele era o Ordenamento Sócio-económico.
Ele era o Domínio Sócio-económico.
Eles eram os Estudos Sócio-económicos.
Ele era o Meio Sócio-económico.
Ele era o Quadro Sócio-económico.
Ele era o Apoio Sócio-económico.
Ele era o Balanço Sócio-económico.
Ele era o Estatuto Sócio-económico.
Eles eram os Grupos Sócio-económicos.
Ele era o Perfil Sócio-económico.
Ele era o Retrato Sócio-económico.
Ele era o Contexto Sócio-económico.
Ele era o Enquadramento Sócio-económico.

( Agora a lenga-lenga é a mesma!)

E ele, que tanto matutara no que seria o tal Sócio-económico, chegara, por via dos impostos, à  conclusão
que os ECONÓMICOS éramos "nós". E os SÓCIOS eram "eles".

Até que um dia o PESSOAL  acorde (Isto digo eu)!

Nota (1)
Não faço ideia do que isto seja. Encontrei numa página sobre expressões  latinas e colei aqui.
Sempre dá um ar de intelectual ao texto!

TONE DO MOLEIRO NOVO

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