PROCLAMAÇÃO
De meu apenas a verificação de que somos cada vez mais pequenos à medida que o nosso conhecimento aumenta. Ao mesmo tempo que o universo incha e no sentido inverso, numa velocidade superior à do nosso apoucamento. Fazendo com que o afastamento entre uma coisa e outra, seja cada vez maior.
Depois qualquer dito a que possamos recorrer já outros o descobriram.
Desta vez marquei encontro na Cancela de Areosa com um italiano chamado Giordano Bruno, do tempo do Nosso Camões,
E passo a transcrever o preambulo da sua obra, em titulo, deste escrito, dedicada ao Senhor Michel de Castelnau.
" Se eu, ilustríssimo Cavaleiro, manejasse o arado, apascentasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse um fato, ninguém faria caso de mim, raros me observariam, poucos me censurariam, e facilmente poderia agradar a todos. Mas por eu ser delineador do campo da natureza, atento ao alimento da alma, ansioso da cultura de espirito, e estudioso da actividade do intelecto, eis que me ameaça quem se sente visado, me assalta quem se vê observado, me morde quem é atingido , me devora quem se sente descoberto. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos. Se quiserdes saber porque isso acontece, digo-vos que a razão é que tudo me desagrada, que detesto o vulgo, a multidão não me contenta, e só uma coisa me fascina: aquela, em virtude da qual me sinto livre em sujeição, contente em pena, rico na indigência e vivo na morte; em virtude da qual não invejo aqueles que são servos na liberdade,. que sentem pena no prazer, são pobres na riqueza e mortos em vida, pois têm no próprio corpo a cadeia que os acorrenta, no espítito o inferno que os oprime, na alma o error que os adoenta, na mente o letargo que os mata nãso havendo magnanimidade que os redima. nem longanimidade que os eleve,. nem esplendor que os abrilhante, nem ciência que os avive. Daí, sucede que não arredo pé do árduo caminho, por cansado; nem retiro as mãos da obra que se me apresenta, por indolente; nem qual desesperado, viro costas ao inimigo que se me opõe, nem como deslumbrado, desvio os olhos do divino objecto: no entanto, sinto-me geralmente reputado um sofista, que mais procura parecer subtil do que ser verídico; um ambicioso que mais se esforça por suscitar nova e falsa seita do que por consolidar a antiga e verdadeira; um trapaceiro que procura o resplendor da glória impingindo a treva dos erros; um espirito inquieto que subverte os edifícios da boa disciplina, tornando-se maquinador de perversidade. Oxalá, Senhor que os santos numes afastem de mim todos aqueles que injustamente me odeiam; oxalá que me seja sempre propício o meu Deus; Oxalá que me sejam favoráveis todos os governantes do nosso mundo; oxalá que os astros me tratem tal como à semente em relação ao campo , e ao campo em relação à semente, de maneira a que apareça nu mundo algum fruto útil e glorioso do meu labor, acordando o espírito e abrindo o sentimento àqueles que não têm luz de intelecto; pois, em verdade, eu não me entrego a fantasias, e se erro, julgo não errar intencionalmente; falando e escrevendo, não disputo por amor à vitória em sui mesma ( pois que todas as reputações e vitórias considero inimigas de Deus, abjectas e sem sombra da honra, se não assentarem na verdade), mas por amor da verdadeira sapiência e fervor da verdadeira especulação me afadigo, me apoquento, me atormento. É isso que irão comprovar os argumentos da demonstração, baseados em raciocínios válidos que procedam de um juízo recto, informado por imagens não falsas, que, como verdadeiras embaixadoras, se desprendem das coisas da natureza e se tornam presentes àqueles que as procuram, patentes àqueles que as miram, claras para todo aquele que as aprende, certas para todo aquele que as compreende."
Texto transcrito duma edição da Fundação Calouste Gulbenkian da obra em causa.
Nota importante:
O Autor morreu queimado, numa fogueira da inquisição
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