sábado, 3 de outubro de 2020

Já agora também vou falar do Prédio do Coutinho.

 

Já agora também vou falar do Prédio do Coutinho.

Desde que foi construído sempre houve uma quase unanimidade em considerá-lo um mamarracho. Um aborto urbanístico que veio chocar dramaticamente com a marginal ribeirinha de Viana  construída e consolidada em séculos de desenvolvimento urbano. Na época a coisa foi classificada com aberração por muitos especialistas como o Arquitecto Nuno Portas recentemente  citado por José Carlos Vasconcelos. VISÃO 1373 de 27/06/2019  Pg. 67. E mais recentemente, 2 de Julho de 2019, o Presidente da Ordem dos Arquitectos José Manuel Pedreirinho manifestou à TSF a sua concordância  com a demolição do Prédio Coutinho de Viana do Castelo. Disse que a decisão que tinha  sido sucessivamente adiada só pecava por tardia e por se arrastar há quatro décadas. Mais disse que  seja visto "do Sul ou do Norte, do Santuário de Santa Luzia ou de outro lado qualquer..." o Prédio Coutinho é sempre uma "aberração".                                                                                

Também “o povo anónimo” se pronunciava nesse sentido. P.E  na A AURORA DO LIMA   em Março de 84 um tal JAC referia-se ao      Edificio Jardim como sendo… “aquele enorme e contestado prédio de 13 andares”. No FALCÃO DO MINHO em Abril de 1989 Rui de Abreu, por sua vez, falava em agressões ao património e …daquela agressão poluente que substituiu o antigo mercado municipal.” reclamando a sua demolição.

Realçando aqui que um dos primeiros que se pronunciou publicamente sobre o prédio foi precisamente António Matos Reis que por volta dos primeiros anos setenta numa nota de poucas linhas no Notícias de Viana se referiu a um outro prédio a construir do lado nascente ao do Coutinho cuja volumetria  o levou a escrever que manifestava a esperança de “ que não se transformasse num outro vianossauro como a obra que se erguera ao lado”.

E é ainda Matos Reis que manifesta hoje que Embora considere que o edifício, com a volumetria que o caracteriza, não devia ter existido, não me solidarizo com o processo (ou melhor, com o modo como tem sido conduzido o processo) em que ultimamente tem sido envolvido, com a pretensão de o demolir”

Em Dezembro de 1986 assisti e participei, num Colóquio - Como Cresce a Cidade -  onde um dos oradores disse que resolvia o caso do Prédio do Coutinho destruindo apenas um andar

-  O PRIMEIRO.

Dizia-se, em tom jocoso, que o melhor sítio para contemplar a cidade era em cima do topo do Prédio do Coutinho. Pois era o único sítio onde não se via o Prédio do Coutinho!

Em 1990 um economista que sabia mais de contabilidade do que Cavaco Silva, dá a ideia,  numa entrevista, de o reduzir a seis andares. O problema é que cortar sete andares ao prédio seria mais caro que atirá-lo completamente abaixo. Após o 25 de Abril já tinha sido alvitrado atirar com aquilo abaixo. Mas não havia dinheiro para tal. Mas um dia, um tal José Sócrates, ainda não primeiro  ministro, propõe-se atirar com aquilo abaixo (irra que é demais!) e promove um programa para polixar a coisa.

As opiniões começaram a dividir-se.  Já que estava feito, estava feito e havia o problema dos moradores. Em 2001 alguém, muito inteligentemente, fez notar que o pessoal quando nasce o mais certo é morrer. Pelo que se podia concluir que bastava esperar que eles (moradores já c’os pés pr’á cova) morressem e o prédio ficaria devoluto. No entretanto a Câmara compraria andar a andar. O Tempo faria o resto.

( Mas a coisa não fora bem assim. A culpa tinha sido do contexto. A tirada tratava-se dum substracto do abstracto, meramente filosófico e não se referia aos moradores do Coutinho em concreto. Apenas lucubrações de encéfalos pornograficamente distorcidos que tinham interpretado de tal forma)

Em 2007 o Jornal Tal e Qual  fez, durante dois meses,  um inquérito sobre as aberrações urbanísticas e outros mamarrachos em Portugal . Na generalidade foi a Quarteira que ficou em primeiro lugar.

Em segundo o …Prédio do Coutinho.

O Sócrates chegou a Primeiro Ministro e por essa altura, o comboio da demolição entrou em velocidade de cruzeiro. Travada e reduzida é certo por uma nova guerra ao contrário.

-  Que escândalo pretender agora atirar com o prédio do Coutinho abaixo!!! ( Outra vez???)

E essa guerra; desde as compras, as  indeminizações, advogados,  tribunais e outras artes marciais,  já vai nos 34 milhões de Euros. Isto relacionado à data em que a TVI fez as contas.

E no fim disto tudo o que se pretende fazer no buraco tão penosamente conseguido à custa do Pédio do Coutinho?   

- Um novo mercado!  

E das imagens disponibilizadas passamos do pânico ao terror.

Aqui volto a repetir as palavras de Severino Costa no COMÉRCIO DO PORTO em 16 de Novembro de 1965.!) 

" Centro irradiante de cultura, afinal poderia sê-lo se nos longos meses em que costumamos hibernar acendessem uma lâmpada e acordassem a gente que nasceu e quer viver nas sombras desse burgo a que José Caldas chamou de «fogo morto» como que - feito velho do Restelo - tivesse deixado com essa fatídica legenda uma maldição sobre a terra onde nasceu"

- Eis  Viana dos Castelos - digo eu…

Mais acrescento:

- Viana é amor! Quem gosta vem, quem ama fica.

- E QUEM CONHECE FOGE!

…e estas maiúsculas são da minha lavra a que o Nosso Saudoso Amigo António Viana achava  muita graça. É que além do mais, Viana não sabe o que quer!

- Num me digam que depois de tudo, depois de 34 milhões, quando tudo voltar à estaca  zero, vão construir aquela tristeza???

- Peguem nas fotografias do antigo mercado. Acrescentem um piso. A cércea circundante aguenta muito bem e a coisa não fica estilo acaçapada!. Ampliem-nas até à escala real. Vão aos de São Mamede e encomendem umas paredes em tijolo. Depois reboquem-nas. Os de São Mamede também fazem. Exibam as fotografias para que o Banksy as veja. Pode ser que um dia passe por cá e pinte uns murais de acordo. Ou então ampliem as fotografias à escala real e colem-nas. O espaço interior servirá (provisoriamente) na mesma para mercado dado que no que temos ( e sempre tivemos) as mercadorias são simplesmente espalhadas em bancas improvisadas ou mesmo directamente no chão.   

Aqui vai o frontispício.


E os turistas ao chegarem ficarão maravilhados.

- Que linda que é Viana! 

- É mesmo… mesmo como nos postais!!!

Montem uma banca para recolher pareceres dos autóctones e dos peregrinos

 E esperem um tempo para levedar as ideias.

Pode ser que se decidam daqui a umas dúzias de anos!

Areosa, 3 de Outubro de 2020

António Alves Barros Lopes

Lopesdareosa

Tone do Moleiro Novo

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