sexta-feira, 3 de julho de 2020

São Mamede in festa ( Santa Maria de Vinha de Areosa)


São Mamede in festa! ( Santa Maria de Vinha de Areosa)

Salamede vos alevede, São João vos coza o pão e Santa Maria de Vinha de Areosa  vos dê a extrema unção, que da minha parte, por uns tenho muita consideração, por outros condescendência quando são imprecisos, (se essa imprecisão não cheirar a má fé ou a desonestidade intelectual). 

E, pelos que restam, - NÃO. 

Falo dos investigadores, por quem tenho um grande carinho dado que são fonte onde vou beber muito (ou pelo menos algum) do meu conhecimento.

Tudo isto porque o meu amigo António Martins da Costa Viana, que sempre identificarei como o filho daquele que me ensinou a ler, a escrever e a contar, o Professor Mário Viana, nos deu - a todos nós -  um livro intitulado A FALAR DE SÃO MAMEDE
Estive na apresentação do mesmo ali na sede do Etnográfico e nem me dei ao trabalho de o ler exaustivamente. Tendo-o à mão, era para o ir lendo!

Mas neste meio tempo o Zé Viana, nosso comparte na luta pela conservação do nosso Baldio na esfera comunitária, chamou-me a atenção para um pormenor que passo a relatar.

António Viana refere-se ao que por sua  vez  José Marques tinha escrito em  “O CENSUAL DO CABIDO DE TUI PARA O ARCEDIAGADO DA TERRA DE VINHA 1321” (Braga 1980). Obra de interesse definitivo para se entender o que eram as TERRAS DE VINHA cuja divulgação se deve precisamente a José Marques insigne Historiador de Braga e professor, então, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Aí escreveu José Marques que “ A capela actual (de São Mamede) é do Século XVII como se prova por esta inscrição que se encontra no arco cruzeiro – “Este arco fez o Mestre Pedro António de Castro por sua devoção. Era de 1671” E que mais para o monte ainda se poderiam ver as ruínas da capela anterior. (De notar que ainda hoje o sítio dessa Capela é conhecido pelo sítio da Capela Velha.)

Acontece e como muito bem António Viana explica, que a actual Capela não é 1671 mas sim de 1875 conforme actas da Junta de Freguesia de Areosa. Actas que relatam a localização da nova capela no Calvário de uma Via Sacra que existiu desde a Capela Velha, conforme se pode confirmar pelas marcas ainda existentes e por outras que foram soterradas pelas obras e pelo entulho com que o piso do Adro foi elevado. 
E o tal arco deveria então ter sido reutilizado vindo da capela anterior, essa sim, então do século XVII -  no desconhecimento de qualquer outra! Outra imprecisão de José Marques foi decerto ter lido Mestre Pedro… Quando deveria ter lido Mestre Pedreiro. Pormenor esclarecido, desde logo, por António Viana que mais tarde viria a ser confirmado por França Amaral. No entanto José Marques remete essas informações para o Sr. P.e A. J. Baptista – pároco que foi na Facha - que segundo me consta reside, hoje, para os lados de Barcelos.

Mas já a mesma informação tinha sido repisada numa publicação coordenada por Alberto Antunes Abreu, tendo como colaborador José da Cruz Lopes, entre outros, - publicação 1987-1988 DOIS ANOS DE PESQUISA EM ARQUEOLOGIA MEDIEVAL E MODERNA(Cadernos Vianenses - 1990) quando, repetindo o que José Marques tinha publicado, dão a Capela actual como sendo “apenas” de 1671 indicando a existência de uma outra velha capela arruinada ao longe e num local remoto e abandonado!

Ora o nosso Mestre Pedreiro António de Castro nunca poderia ser o autor da nova Capela pela simples razão de, provavelmente, ter morrido dois séculos antes desta ser construída.                  ( Perguntem  ao França e ao Puga).
                                                                                                                                                                                                       

A única especulação que pode ser feita é supor que, antes da Capela do nosso Mestre Pedreiro, tenha existido uma outra mais primitiva. Daí que a parte “A capela abandonada evidencia ter tido duas fases de construção” que se encontra no texto atrás citado é a única fala aproveitável de tão sapiente pesquisa.

Estando o erro inicial justificado, desculpado até, já a sua repetição posterior seria de evitar (o “copipeiste” já tem uns anos) pois os elementos justificativos sempre estiveram no sítio onde hoje estão. Bastava consultar a Junta de Freguesia de Areosa, sem ser necessário subir a tão alto; nem a José Marques, nem  a São Mamede.

Voltando ao primeiro parágrafo deste meu texto, do foguetório da festa sobram as minhas assumidas sentimentais canas. 

E os investigadores por quem, repito, nutro muito carinho, que apanhem as que muito bem entenderem apanhar!


lopesdareosa

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