segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Há mar e AH! O MAR

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Meus Senhores

Na Revista Única deste último 23 de Outubro há dois títulos deveras complementares;
"O mar: uma prioridade nacional", pag. 22, de Anibal Cavaco Silva e.
" Que grande lata", Pag.58, de Alexandra Simões de Abreu

Ora foi Saramago que melhor sintetizou Cavaco. - O rei das banalidades!

E pergunto;
- Porque é que Cavaco não se lembrou disso, do mar, enquanto Primeiro Ministro?

Sobre este mesmo assunto ver um texto de Gonçalo Fagundes Meira publicado na A AURORA DO LIMA em 22 último.

Quote
"O ABANDONO DO MAR

Cavaco Silva, o nosso Presidente, anda preocupado com a forma como desprezamos o mar e demonstramos não saber explorar os seus recursos. É uma preocupação que se compreende e aplaude. O imenso mar de que dispomos - uma superfície de cerca de 1.683.000 km2 – desde que convenientemente explorado, no domínio dos transportes, recursos alimentares e energéticos e matérias-primas, podia proporcionar-nos vantagens económicas de vulto, tanto mais que somos um país profundamente carecido de riquezas naturais.

O Senhor Presidente da República afirmou recentemente, no congresso sobre portos e transportes marítimos, organizado pela Associação Comercial de Lisboa que, de acordo com estudos efectuados pela comissão europeia, os sectores marítimos tradicionais portugueses, isto é, os transportes, portos e construção naval geram um valor que é mais de três vezes inferior ao valor gerado pela Bélgica, um país que tem apenas 98km de costa. A Espanha, outro exemplo, no seu cluster marítimo gera sete vezes mais valor do que Portugal; e a Dinamarca, um país de população inferior à nossa, produz seis vezes mais valor e três vezes mais emprego nos sectores marítimos.
Nenhum cidadão minimamente informado desconhece que, irresponsavelmente, o mar, desde há muito tempo, deixou de ser prioridade para quem nos governa. O desvario começou nos anos 1970 e nunca mais parou. E Cavaco Silva também nos governou durante 10 longos anos (1985/1995). E no seu extenso período de governação a prioridade também não foi para o mar. Com ele como primeiro-ministro o país esteve submetido à política do betão. Era ver o seu ministro das obras públicas, o senhor Ferreira do Amaral, sempre azafamado, a pagar fortunas aos empreiteiros para concluir atempadamente, ou antecipar, auto-estradas, no sentido de promover folclóricas inaugurações, que alimentavam uma falsa modernidade do país, a denominada economia de sucesso. No tempo de Cavaco Silva o mar foi tão ou mais esquecido que na vigência de outros governos. No tempo de Cavaco Silva o que estava a dar era o novo-riquismo, com a promoção desenfreada do consumismo e da aposta na bolsa, a política do betão do Senhor Ferreira do Amaral e a política da eucaliptização do Senhor Mira Amaral, o governante que nos falava do eucalipto como sendo o nosso petróleo verde.
O que alguma gente pensa é que todos temos memória curta. Em 1993, já nos estertores do cavaquismo, os trabalhadores da indústria naval, a partir de um estudo do seu grupo técnico, no qual também estive inserido, denunciavam a política suicida de completo abandono do mar, por parte dos sucessivos governos, com grande destaque para o de Cavaco Silva. Afirmava-se então que, nos últimos quinze anos, Portugal tinha perdido mais de 50% da sua frota mercante. Àquela data, Portugal dispunha apenas de 62 navios, 45 deles com mais de 10 anos e 17 com mais de 20. Por outro lado, o país tinha dispendido em fretes e afretamentos, só no período 1981/1989, cerca de 700 milhões de contos (3.500 milhões de euros). Entretanto, no período 1979/1993, a indústria naval portuguesa já tinha perdido mais de 15.000 postos de trabalho, com os estaleiros a fecharem portas, especialmente na região de Setúbal, ou a reduzir efectivos, por falta de encomendas de navios.
Mas se as políticas adoptadas em relação ao transporte marítimo e à frota mercante foram desastradas, não o foram menos para outros sectores da actividade marítima. No domínio das pescas, assistiu-se a uma capitulação vergonhosa perante as exigências da Comunidade Económica Europeia, com o abate de barcos, muitos deles em excelente estado de operacionalidade, embarcações dotadas de condições para pescar no mar durante largos dias, a troco de algum dinheiro, que foi importante para alguns pescadores em idade avançada, mas que atirou com muitos outros para situações de grande precariedade, e reduziu brutalmente as quantidades de peixe pescado. Alguns números ilustram bem esta evidência. Na década 1990/2000, já com o slogan da economia de sucesso a esboroar-se, o nosso volume de pesca passou de 319.000 toneladas para 150.000, a frota pesqueira reduziu-se de 16.000 embarcações para 10.750 e o número de pescadores matriculados diminuiu, no mesmo período, de 41.000 para 25.000. Ainda durante esta década, a indústria conserveira viu a sua capacidade de produção reduzida em mais de 60%.
O ditado é velho: contra factos não há argumentos. Basta alguma informação, não muito exaustiva, para por a nu a política funesta que foi praticada em relação ao mar em Portugal, por toda esta gente que nos governou. Indiferentes aos protestos daqueles que apenas pretendiam trabalhar e defender a economia do país, eles foram-se encarregando de, em boa medida, anular áreas económicas (o mar, a agricultura, a industria, etc.) fundamentais para a nossa independência em relação ao exterior.
O Presidente da República não foi eleito com o meu voto, nem o receberá quando de novo se candidatar. Tenho, no entanto, o conveniente respeito pela função que vem desempenhando e pelo seu trabalho, que, salvo em algumas situações pontuais, se tem pautado pelo equilíbrio e pela sobriedade. Era bom, porém, que não escamoteasse responsabilidades em relação à situação de desastre e penúria com que o país se defronta e a opções que não foram feitas. Fica-lhe bem incentivar e alertar para os prejuízos que resultam do nosso abandono do mar, tal como aconteceu com outros segmentos da nossa economia, mas, ao mesmo tempo, não deve esquecer os crimes de governação que foram cometidos, em relação aos quais não está imune.



Caixas

Nenhum cidadão minimamente informado desconhece que, irresponsavelmente, o mar, desde há muito tempo, deixou de ser prioridade para quem nos governa. O desvario começou nos anos 1970 e nunca mais parou

No tempo de Cavaco Silva o mar foi tão ou mais esquecido que na vigência de outros governos

No período 1979/1993, a indústria naval portuguesa já tinha perdido mais de 15.000 postos de trabalho

Na década 1990/2000, já com o slogan da economia de sucesso a esboroar-se, o nosso volume de pesca passou de 319.000 toneladas para 150.000, a frota pesqueira reduziu-se de 16.000 embarcações para 10.750 e o número de pescadores matriculados diminuiu, no mesmo período, de 41.000 para 25.000
Unquote

Ou seja certas intervenções mesmo vindas do Nosso Presidente da República sabem a oco desde que proferidas por  Aníbal Cavaco Silva.

Cumprimentos

António Alves Barros Lopes
Afife

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