quinta-feira, 28 de julho de 2011

O POETA ZINÃO

Nasceu em Carreço, dizem os biógrafos e o próprio o atesta:

FUI NASCIDO EM CARREÇO
NO DISTRITO DE VIANNA
FUI TRASTE DE GRANDE FAMA
MAS DE BEM PEQUENO PREÇO

certo é que da casa ainda existe o sítio. E na oralidade - era a Casa do Zinão. Viveu em Campos. Frequentou Valença.
Aí foi protagonista de uma situação que nem ao diabo lembraria.
Soldado na guarnição, cruzara-se com uma louceira que, num burro, transportava uma carga para a feira.
Disse à moça que tinha uma noticia  a dar ao burro. Aproximando-se da orelha deste atirou-lhe com uma purisca lá para dentro. O burro escouceou, aos saltos, estatelou-se e partiu a louça toda. A rapariga foi fazer
queixa do Zinão ao comandante. Este perguntou ao Zinão o que é que tinha acontecido.
- Meu comandante eu apenas lhe disse que, na terra, lhe tinha morrido o pai!
E que o burro se tinha desesperado!

Bem o melhor é seguir o relato do próprio Zinão.

HISTÓRIA  DA  LOUCEIRA  E  DA  BURRA

Algum dia fui soldado
Cheguei a cabo d'esquadra
Também fiz a minha guarda
Lá para onde era mandado:
Estava um dia assentado
Em Valença na C'roada
Para ver quando entrava
Alguma moça na Praça
E dizer-lhe alguma graça
Assim o tempo passava

Vi então que vinha entrando
Por aquelas portas dentro;
A çouceira e um jumento;
Puz-me a pé; fui-me chegando
Co'a moça conversando
Seriamente e sisudo,
Disse-lhe no fim de tudo,
"Que mais lhe havia de querer,
Se me deixasse dizer
Um segredo ao seu burro."

Respondeu logo a louceira
Junta com outra mulher
"Diga lá quantos quizer
Pode dizer quantos queira;"
Então cheguei-me à orelha
Do nosso amigo jumento
E fumando ao mesmo tempo
Segredo nunhum lhe disse
Mas sem que ela me visse
Deitei-lhe o cigarro dentro.

Deita-se o burro no chão
Com o cigarro na orelha
A moça fez-se vermelha
Gritando contra o Zinão;
Logo nessa ocasião
Chega alí ao mesmo tempo
O major do regimento
E vendo a Moça a gritar
Foi-lhe logo perguntar
" Quem lhe fez mal ao Jumento?"

A Moça lhe respondeu
promptamente alli assim
Apontando para mim
disse ao Majos que fui eu
Elle então bem conheceu
Que eram coisas do Zinão
Perguntou-me com razão
Que fiz ao burro da moça
Que o contasse por força
Ou marchasse p'ra prisão

E eu respondi sem medo
(Com respeito ao sup'rior)
Saberá Senhor major
Que lhe não puz mão nem dedo
Eu só lhe disse um segredo
E n'aquela ocasião
Deitou-se o burro no chão
Eu só lhe disse ao ouvido
"O pae que tinha morrido"
Talvez seria paixão...

O Major queria rir
Mas à minha beira não
Lá poz os olhos no chão
E apenas o vi sorrir
A louceira entra a pedir
Paga da louça quebrada
Eu disse " que a não pagava
Que nada tinha ali assim"
O Major pagou por mim
Que depois mo descontava.

Mandou-me pr'a companhia
Logo sem mais detenção
Poré não fui p'rá prisão
Isso era o que eu queria
Não me importava que um dia
Descontasse o que pagou
Pois se a Moça o levou
Devia ser descontado
Porém o Major honrado
Nunca tal me descontou.


Esta é apenas uma apresentação. A seguir virá uma mais actual

LOPESDAREOSA

quinta-feira, 21 de julho de 2011

ACORDO ORTOGRÁFICO

Já tinha falado do assunto em
http://lopesdareosa.blogspot.com/2010/09/origem-das-especies-ou-quem-chegou.html

Mas agora, ontem mais precisamente, RUI VALENTE no Público, voltou ao tema com uma síntese lapidar:

"Sem a protecção das consoantes mudas, as vogais que as antecedem ficam expostas à erosão da oralidade.
A prazo a perseguição da miragem fonética acabará por clamar novas vítimas"

Foi na primeira classe que aprendi a ler, a escrever e a contar. Pratiquei até à quarta. Daí para a frente não tive outro patrono que não os livros e jornais a não ser quando, aos catorze anos, me deparei com o Quintas Ramos - o Esganarelo - que diziam ser filho do Vírgulas. Mas esse pouco ou nada se preocupava com regras gramaticais. Abriu-me os olhos para a literatura e daí para o humanismo em geral.

Acontece agora que tropecei na citação. E, inevitàvelmente, tropeço no AO.
Ora o que está em causa é que reinvidicando ser um acordo ortográfico, este acabará por influenciar a fonética.

Argumenta-se que acabam as consoantes mudas. E onde fica a função "disciplinadora" das mesmas?
Que eu saiba e daquilo que me ensinaram, elas servem (serviam) para indicar a quem lê que a vogal anterior é aberta.
Ou seja funciona como um sinal de trânsito que encontramos nas estradas.

Das aberrações resultantes a mais espectacular é a história do "espetador"  que com o tal AO ninguém sabe o que significa nem como se pronuncia.

ah! Há sempre os entendidos que tudo explicam e que, logo em socorro do AO de Notre Dame, justificam que a fonia dependerá, então, do sentido da frase, do contexto,  da sintaxe.

Curiosa contradição. Dirigido a um universo, maioritàriamente analfabeto, na aprendizagem, não será prioritário nas capacidades de entendimento imediato, a facilidade desta explicação:

- Olha! sempre que vejas uma consoante, que aparentemente não serve para nada, no meio de uma palavra, ela serve para te avisar que a vogal que a precede é aberta!

Muito antes de esperar que o desgraçado do aprendiz entenda o que é isso do sentido, do contexto e da sintaxe?

Daí que, como Rui Valente muito bem explicou, o AO vai, mais tarde ou mais cedo, alterar a fonia.

- ah! Mas é que a língua é uma coisa em constante mutação! - dirão os tais espertos.

- Sim! Por ela própria!
Não é necessário forçar o processo por decreto!

Depois resta o inevitável argumento farmacêutico. Antes escrevia-se pharmácia com PH e agora é farmácia com "EFE".
Mas este exemplo é precisamente aquele que justificaria, como justificou,  um acordo quanto à sua ortografia. Passando de PH para eFe facilitou-se a escrita de farmácia sem alterar a fonia.
E não é com um bom exemplo que se justificam as aberrações!

NOTA À PARTE
Acho até de uma deliciosa utilidade o facto de terem substituído o PH pelo eFe.
Um grande salto civilizacional, senão:

- Como é que eu poderia escrever que
ESTOU PHODIDO COM O ACORDO ORTOGRÁFICO,
sem escandalizar ninguém???

LOPESDAREOSA

domingo, 17 de julho de 2011

ALVARINHO OU ALBARIÑO???

SE O MAR FORA RIBEIRO TODA A XENTE SERIA MARIÑEIRO

Mais ou menos assim dizem os Galegos num dos duplos sentidos mais bem apanhados que ouvi.

Isto porque todos sabemos o que significa um pescador dizer O MAR ESTÁ UM RIO!

Mas RIBEIRO significa outra coisa e daí a riqueza do trocadilho. Era, até há bem pouco tempo, o mais popular vinho Galego. Entrava-se em qualquer tasco na Galiza e eles tinham um tinto alí  dos lados de Ribadávia que ultrapassava o nosso verde no aveludado, na maciesa e na espessura. Hoje o que se engarrafa por Orense não é nada que se pareça.
Beber vinho Ribeiro na Galiza seria mais ou menos a mesma coisa que por cá beber vinho de Perre, salvaguardadas as devidas dimensões territoriais, dado que o vinho de Perre nunca transcendeu a aldeia na sua representatividade. O grande vinho do Alto Minho sempre foi o Alvarinho.
Quanto ao vinho Albariño, e vou à Galiza desde os meus quinze anos, nunca por lá ouvi falar em vinho Albariño até (que) há cerca de vinte anos...

Hoje na Galiza não se fala senão no Albariño. Mas nem sempre foi assim. Há cinquenta, quarenta anos
pouca gente falava de vinho Albariño na Galiza.
Alvarinho era um vinho de Monção com uma aura de preciosidade. Comercializava-se engarrafado por uma firma com o rótulo de CEPA VELHA. Ainda me recordo de ver garrafas dessas no Manel Natário em Viana. Nunca me saíram da memória pois tinham um selo feito de palha.
Depois veio a Adega Cooperativa de Monção e  a Brejoeira. Nome que lançou definitivamente o Alvarinho.
E há uma característica que o nosso Alvarinho nunca perdeu. É um vinho de encosta e interior. Não tem contacto directo com o mar. Por isso e muito bem, a sua região se limita a Monção e Melgaço. Desta forma se proteje a qualidade e do risco de se tornar um vinho vulgar.

Mas sucede que aqui ao lado temos a Galiza e os nossos irmãos Galegos, - galegos mas espertos - depois dos elogios de Cunqueiro, DEPOIS DO EXITO DO BREJOEIRA, lançaram-se no plantio intensivo da casta. E não só em microclimas semelhantes aos de Monção e Melgaço mas também e principalmente em áreas directamente influenciadas pela orla marítima como Cambados de onde dizem ser original.
E por isso até têm Albariños RIAS BAIXAS. Estes vinhos obtiveram quatro medalhas de ouro entre catorze em que as restantes foram ganhas por Alvarinhos de Monção/Melgaço no Alvarinho International Wine Challenge realizado em Melgaço no passado mês de Junho, onde também estiveram representados Alvarinhos do Alentejo e dos Estados Unidos.
Hoje, os Galegos, tomaram-nos a dianteira e o seu markting convence o mundo que o Albariño é Alvarinho.
Não sou especialista em vinhos mas não acredito que seja tão bom quanto o nosso. Que eu saiba a proximidade do mar nunca influenciou os vinhedos no sentido de melhor qualidade, Antes pelo contrário.
Pode ser que com as avançadas técnicas enólogas os provadores venham a convencer o pessoal que esse Albariño sabe a nécoras e pulpo com um leve travo final a maresia, deixando na boca, depois de bebido, um suave aroma a botelha. (não sei se estão a ver outro trocadilho!)
Ora dessa forma o que na Galiza fizeram foi vulgarizar esta casta e consequentemente vulgarizar o vinho. (Não querendo com isto dizer que não haja bons vinhos no meio disso tudo como ficou provado no tal certame de Melgaço!)

Daí que acho que do lado de cá não se deve ceder à tentação de fazer o mesmo.

Quanto aos entendidos do lado de cá ou aos ofendidos do lado de lá, que não concordem comigo, sempre lhes direi que tenham paciência.

NA GALIZA NUNCA HOUVE QUALQUER TRADIÇÃO ASSINALÁVEL DE VINHOS
ALVARINHOS.
E não foi por acaso que Afonso Castelao e o malogrado Alexandre Bóveda, dois vultos da diáspora e do nacionalismo galegos, em 1934 em A NOSA TERRA, lançaram o anátema:
"Quen en Galicia toma aperitivos alleos, auga pintada con nomes pomposos en vez do noso insuperable branco Ribeiro, é un inimigo da patria"
Ou seja para estes Galegos e em 1934, o branco Ribeiro era insuperável não aludindo evidentemente a qualquer albariño. É possivel até que, quem bebesse daquela água "pintada" com o nome de Alvarinho, fosse considerado, por estes ilustres, inimigo da Pátria Galega.

Vinho, era Ribeiro.

E se por aí houver, com a minha escrita,  alguns indignados, abespinhados, bufarinheiros  ou  outros ouriços cacheiros, não me venham chatear a pinha.
Não me vou ufanar de algum conhecimento especial, estou apenas a parafrasear;

Um outro insuspeito Galego que se chama Xavier Castro autor com outras obras sobre o vinho, editou no ano passado - Editorial Galáxia - um livro intitulado A ROSA DO VINHO. CULTURA DO VIÑO EN GALICIA. a quem lhe perguntaram a que se tinha devido a ascensão do albariño e a decadência do ribeiro como representação simbólica da Galiza.

Ora basta a pergunta para nos confirmar tudo o que eu disse anteriormente. No entanto atentem na resposta:

"Históricamente o viño mais representativo da Galiza era o do Ribeiro. Xá na Idade Média era o gran viño do país, o que se exportava a Inglaterra e outros países europeos. É o viño de que fala Cervantes em EL LICENCIADO VIDRIERA, o que bebiam os emigrantes quando sentiam morriña. Pero ai uns trinta anos começou a disputar-lhe este caracter identitário o albariño. Antes era un viño moi escasso, o dos señores dos pazos, os labregos ricos e os cregos. Pero comezou a elaborarse moi ben e a difundirse mais, e esta promoción e esa calidade promoveram a súa sona. No ribeiro tamén houbo mellora, non se me vaian enfadar, pero hai que rocoñocer que o albariño progressou mais e fixose moi popular en Galicia e fóra:
é o viño de que fala Juan Goytisolo, Vásquez Montalban..., o viño de prestixio do país."

E peço um favor aos meus amigos Galegos,

- Não venham  a dizer mal do seu conterrâneo só para me contrariarem!

Xavier Castro y Víctor Freixanes en la presentación de "La rosa del vino"












                                                         Xavier Castro à esquerda com seu livro na mão aquando da sua apresentação. Fotografia em
http://www.manuelgago.org/blog/index.php/2010/07/21/cursino-acelerado-de-cata-popular-con-xavier-castro-video/

LOPESDAREOSA

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A FOZ DO RIO MANCO

Existe mesmo. É de um afluente do Rio Minho, algures entre Valença e Monção!



Mas antes vou falar de um livro, o último ( mas não o último) livro de Adelaide Graça




























"Onde os pés escrevem as pegadas do encontro"

Este título  foi retirado do próprio texto.

Se um dia for feita a sua história se saberá que era para ser intitulado A FOZ DO RIO MANCO

Adelaide Graça aventurou-se a publicar os seus escritos. Poesia ainda por cima! Pior ainda, num lirismo arrasante onde todo o seu profundo sentido da vida é mostrado, tantas vezes, em detalhes que poucos autores  se atreveriam em desvendar:

Daí que; LIMITES DA RAZÃO em 1998, QUANDO TUDO PARECE PARAR, 2002, SEM CHAVES NEM SEGREDOS, 2004, NO VÃO DA AUSÊNCIA 2006.

Depois em 2007 DO TEMPO DE QUANDO já em prosa. No entanto  as imagens, as narrativas, os contos, o rio Minho, continuam impregnados do mesmo lirismo, matriz de que Adelaide Graça não se liberta nem pode.

E essa matriz continua agora onde os pés escrevem as pegadas do encontro, que afinal  são todos os lugares de uma viagem em que o encontro é sempre o mesmo.

O Fernão Capelo Gaivota não está ali por acaso. Tanto pode significar uma partida como uma chegada.

E de uma viagem se trata, talvez duas. Talvez mais. Talvez a primeira, talvez a derradeira.

Na apresentação deste livro, em Viana, alguém disse que se tratava de uma viagem que não tinha principio nem fim.

De facto! Tenho agora a lembrança daquele filme O SENHOR DOS ANÉIS. A história afinal não é um conto mas sim uma viagem que vai sempre em frente e só tem fim porque o filme tinha que acabar em algum lado.

Ora este livro da Adelaide Graça é uma viagem que não tem fim, mas num curto-circuito que não leva Maria a lado algum a não ser ao encontro com o seu próprio destino arrastando consigo os companheiros de peregrinação. Dessa viagem ficam as pegadas.

Depois de o ler entendi que de facto bem poderia chamar-se A FOZ DO RIO MANCO.

Todos os destinos são estuários de outras tantas peregrinações.
(Os rios fazem as suas)
E quantas mazelas nos pode causar a caminhada!

Lopesdareosa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

HÁDES

Ou o acordo ortográfico que fiz comigo próprio.
( ou há moralidade ou comem todos)

Esta e aquela dos, tênhamos, fáçamos, e etc. vão para o rol.

É que antes de ir para a escola primária já ouvira a minha avó dizer:

- Hádes ir ao Perrito e traz meio quartilho de azeite!

E, milagre dos milagres, a minha irmã ía mesmo!

LOPESDAREOSA

NELSON DE VILARINHO

OLHA O VILARINHO!!!


O Nelson de Covas nos tempos aúreos da Jóquina. A burra tinha direito a pantalones e outros adereços.
Da feira para casa e da casa para a romaria, Nelson e burra paravam em todos os tascos.
- É uma passagem, dizia o Nelson.
Mas a passagem levava horas, senão dias e a burra, habituada ás andanças do Nelson também o acompanhava na parranda. Se o Nelson tocava e dançava, a Jóquina dançava em frente a ele. Se o Nelson estava a cerveja a burra cerveja bebia! Se fosse vinho também servia.
A Jóquina sabia de cor todos os caminhos. O Nelson sabia de cor todas as Chulas. Nunca ouve notícia que a burra se preocupava com o Nelson nem este chateava a burra. Companheiros ideais, ambos davam, livremente, asas ao seu destino. Um avançava o outro tocava, com vantagem para o Nelson que nao tinha que dar ao pedal.
Se tal fosse necessário também acontecia. O Nelson descia de bicicleta, desde Sopo a Cerveira ou a Covas a tocar concertina. Disso não encontrei fotografia, mas acredito apesar de nunca ter visto. Tanto mo contou ele como o confirmaram os seus conterrâneos.
Este ano encontrei um neto do Nelson com um tasco no S. João das Cerejas. Ofereci-lhe uma fotografia do avô - a tal do fotógrafo do Porto, Teófilo Rego e disse-lhe:
- Olha bem para essa fotografia do teu avô! Muito hádes ouvir falar nele mesmo que, um dia, tenha morrido.

LOPESDAREOSA 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

VENHA A NÓS O VOSSO 13º MÊS COM A BENÇÃO DA SANTA MADRE IGREJA

Eu quando nasci chorei
eu disso me estou lembrado
e ouvir minha mãe dizendo
chora filho desgraçado!

Na altura e para além da choradeira, não entendi aquela do desgraçado!
Pouco depois fizeram de mim cristão num ritual evocando São João Baptista, um dos meus ídolos de sempre. Daí que nunca me queixei de ter sido submetido a tal banho sem ser tido nem achado!
Acho até transcendente o significado de tal acto.
Depois e desde os meus seis anos até aos doze, tentaram fazer de mim católico apostólico romano.
O problema foi quando aquela capacidade de raciocínio que, aquele Deus de que me falavam, me deu, começou a funcionar.
Por essa altura comecei a duvidar. Se o meu pensamento é uma dádiva de Deus, por que é que não ia lá muito com as pregações dos homens que falavam em seu nome?
Pensei! Pensei! Pensei!
E cheguei à conclusão que afinal era um problema de homens e não de Deus nem de Cristo.
E deixei de frequentar a missa que não o Templo que a todos pertence!
Ouvi muitos sermões como aquele do encontro na procissão do Senhor dos Passos em Vilar de Mouros que me fez chorar! - O que faz uma mãe por um filho para vê-lo assim!

Vem isto a propósito do que o nosso Cardeal Policarpo opinou nesta semana
ver http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/corte-de-subsidio-de-natal-e-uma-medida-equilibrada-diz-cardeal-patriarca_1501755

"O cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, considerou esta quarta-feira que o corte anunciado pelo Governo no subsídio de Natal é uma medida equilibrada porque não atinge os portugueses com menores rendimentos nem discrimina ninguém. “Esta proposta tem o cuidado de não atingir as pessoas com rendimento mínimo. Quem recebia muito paga muito e quem recebia pouco paga pouco, não há discriminações”, defendendo que os portugueses devem apoiar o novo Governo para que seja possível «recuperar» o país."

Espantoso!
Onde é que está a universalidade da doutrina da Igreja?
Não saberão os seus dignitários que cortes no 13º mês só atingem quem trabalha???
Onde está a solidariedade cristã quando, ficando de fora  quem vive do negócio, quem vive da renda, quem vive dos juros, quem vive dos interesses de capital, da finança em geral, se consegue afirmar que não há discriminações e que a medida é equilibrada? 
- Só porque  esta proposta tem o cuidado de não atingir as pessoas com rendimento mínimo?
- Onde se situará o esforço dos outros que ganhando muito mais ficam de fora apenas porque os seus rendimentos não vêm do trabalho? 
Se os políticos só sabem ir ao fardamento a quem vive de um salário o que é que  a doutrina social da igreja tem a ver com isso?
- Não será mais universal?
- Então porque é que os dignitários da igreja não se distanciam dessas práticas tão pouco cristãs?
- Que Cristo será esse de que falam que afinal veio a este mundo só para redimir meia dúzia?
- Será que Cristo não toca a todos?
- Onde está a matriz maioritàriamente cristã e católica da nossa identidade cultural e religiosa, que tão jeito dá invocar quando convém???

É por essas e por outras que não vou à Missa. Melhor dizendo, é por essas e por outras que não vou a essa missa.

E nem Deus nem Cristo têm  algo a ver com isso.

Finalmente percebo por que é que minha mãe me disse ao nascer CHORA FILHO DESGRAÇADO!

Ela, já conhecedora do mundo, sabia por isso o que é que eu teria que aturar na vida!

Também percebo porque é que o nosso Lúcio, em Afife conhecido PIRILAU, tantas vezes dizia:

- É tudo uma tristeza!
- Só tenho medo de não morrer!

De facto, com esta circunstância, a eternidade seria demasiado dolorosa.

Por isso se matou!

Lopesdareosa

CUIDADO MUITO CUIDADO

COM A CRISE!

Está tudo muito caro!

Não podemos gastar à balda!

CUIDADO!
TEMOS QUE TER MUITO CUIDADO!

Quem vos avisa tem tido, já há muito tempo, com a crise, muito cuidado!

Tone do Moleiro Novo

quarta-feira, 6 de julho de 2011

JULIA VAQUERO SOUSA


Mandatory Credit: Gray Mortimore/Allsport. Esta foto Correu mundo. Ainda está no mundo,
encontrei-a em http://www.life.com/image/1917073
5 Jul 1996: Julia Vaquero (á esquerda), Gabriela Szabo (centro) da  Roménia e Fernanda Ribeiro
 (á direita) durante a prova de 5000 metros no  IAAF Oslo Bislett Games Grand Prix, Oslo,
Noruega . Fernanda Ribeiro venceu a prova com o tempo de 14:41.07 minutos. Nessa altura
Fernanda Ribeiro era recordista mundial com 14:36.45 e Júlia Vaquero ficou em terceiro com o
tempo de 14:44.95 que ainda hoje é record de Espanha!

Mas não é isso que me traz aqui!
No FARO DE VIGO de ontem deparei com esta soberba fotografia de Ricardo Grobas.
Julia Vaquero, ayer en el monte Santa Tegra. // Ricardo Grobas
Júlia Vaquero é Gardesa e, aqui, no monte de Santa Trega olha na direcção do fotógrafo.
É como que olhasse o sul onde o seu olhar, ao prolongar-se, encontraria o Alto Minho.


Nas suas costas, ao fundo, A Guarda ribeirinha.

No Baixo Miño, evocar Júlia Vaquero é como, para nós, evocar Manuela Machado. Tão perto que estão uma da outra. No entanto tem a raça, dela, de uma Aurora Cunha, de Fernanda Ribeiro, de uma Rosa Mota ou de uma Marta Dominguez que, na Espanha, não conseguiu bater o seu recorde.

Mas a procura de mais, a superação, o esforço supremo, tem limites e no afã de ultrapassar os próprios ( vivem felizes os que não sentem necessidade de tal) atinge-se aquele ponto em que a vontade de continuar se confunde com a vontade de desistir. Ninguém é obrigado a nada. Essa necessidade vem de dentro. Que o diga a nossa Vanessa Fernandes. Como com Vanessa, uma depressão afastou Júlia Vaquero das pistas e entrou numa outra  corrida na qual não tem adversárias.

Olho agora esta fotografia tirada num local de onde se avista a nossa Serra d'Arga e comovo-me com a ideia deste sublime enquadramento.

Lá estarei no segundo domingo de Agosto, na Subida ao Monte das Festas do Vinho.
E se a Júlia Vaquero também lá for, encontrar-me-á na varanda do restaurante virado a Caminha.
Estarei lá, como em todos os anos, com a minha concertina. Cantarei, como em todos os anos, o abaixa-te ó serra darga e a gôta de Gondarém. Tocarei o alalá das Marinhas se os galegos permitirem.
E, então, manifestar-lhe-ei de viva voz as minhas homenagens.

Lopesdareosa

terça-feira, 5 de julho de 2011

MESQUINHEZ? - AMNÉSIA? - ESTRATÉGIA?

Terça-feira, 11 de Maio de 2010
"A possível tributação do subsídio de Natal a que o Fernando se refere aqui

( referia-se a uma noticia em http://www.publico.pt/Economia/governo-pode-garantir-mais-3000-milhoes-com-iva-e-subsidio-de-natal_1436538  Medidas estão a ser ponderadas para cortar o défice deste ano. Governo pode garantir mais 3000 milhões com IVA e subsídio de Natal  11.05.2010 - 07:19 Por João Ramos de Almeida, Sérgio Aníbal, Nuno Simas).

é confiscação pura e simples. Desde há vários anos que me convenci que a mais elementar boa-fé do Estado, e os próprios direitos constitucionais, voariam pela janela quando chegasse o dia da ruptura do financiamento das pensões de reforma (para quem se interessar, consegui encontrar isto). Enganei-me. Ao que parece a espoliação de uma geração às mãos de outra vai-se fazendo docemente com o consentimento de todos os envolvidos e sem grandes sobressaltos de consciência. Mas, entretanto, o Estado faliu mais rapidamente do que se esperava. E o ataque, dizem, está prestes a começar." Por Miguel Morgado então.

Hoje Miguel Morgado é assessor político de Passos Coelho, este, o tal que disse, às criancinhas, no passado 1 de Abril 
Quote
"Eu nunca ouvi falar nisso no PSD. Eu já ouvi o primeiro ministro dizer, infelizmente, que o PSD quer acabar com muitas coisas e também com o 13º mês, mas nós nunca falamos disso  e isso é um disparate" Unquote

Nos dias de hoje, vitória vitória, é apenas meio disparate!
OU MEIO JÁ-MÉ (digo eu!)

SEGUNDO ANDAMENTO

Paralelamente João Gonçalves no seu Blog "Portugal dos Pequeninos" chamou alforreca a Passos Coelho
in http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2010/09/alforreca.html

Escreveu que PC lhe provocava enxaqueca e que lhe cheirava a falso.
in http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2010/01/passos-aka-socrates.html

Comparou PC a um mediano treinador de futebol.
in http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2009/12/passos-coelho-e-virginia-woolf.html

De uma vacuidade absoluta.
in http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2008/03/no-abusem.html

Vulgar cacique da JSD.
http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2008/04/vai-longe.html

Candidato a futuro artista de circo.
http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2009/02/nao-aprenderam-nada.html

Abrótia
in http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2010/01/vico-revisto-por-lomba.html

Chamou pequeno Torquemada de Tomar ao Relvas.
in http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2009/10/o-mesmo.html

Isto também divulgado no EXPRESSO de 2 de Julho de 2011 que realça um pequeno pormenor sem importância. O tal de João Gonçalves, viu a sua frontalidade ser compensada. Foi nomeado adjunto político do Ministro dos assuntos parlamentares, Miguel Relvas, no Governo desse mesmo Passos Coelho!

TERCEIRO ANDAMENTO

em http://desmitos.blogspot.com/2008/05/o-populismo-demaggico.html
"Até se pode simpatizar com Passos Coelho e com a sua imagem fresca (apesar de Passos Coelho ter uma longa história partidária) e jovem na política portuguesa. No entanto, não é assim que se conquista a credibilidade necessária para a liderança do principal partido da oposição. Passos Coelho devia perceber que não é o populismo barato que nos vai levar a lado nenhum. Até o próprio Santana Lopes, populista por natureza, se insurgiu contra as promessas de Passos Coelho..."
Quem isto escreveu foi  Alvaro Santos Pereira em 26 de Maio de 2008.
Hoje Alvaro Santos Pereira é Ministro da Economia no governo de Passos Coelho (PC). E deve estar lá (também) para evitar que PC não diga nem leve á prática as bacoradas, ou outras, que então estavam a ser criticadas por aquele.


ESSA COISA DA ESFERA BLOGAL É UM ESPANTO!

Lopesdareosa
(É só para me rir. Prometo que não volto a descer tão baixo!)

O CATECISMO DO LABREGO

De um tal Fei Marcos da Portela que não era mais que Valentim Lamas Carvajal, um literato, poeta e jornalista Orensano exactamente, ou quase, mais velho que eu cem anos!

Não vou transcrever nem colar o texto basta clicar em http://galsatia.files.wordpress.com/2007/03/catecismo_do_labrego_galego__marcos_da_portela__1889.pdf
Que vão lá ter.

Depois é só atravessar para Sul o Rio Minho. Qualquer coincidência não se fica por uma semelhança qualquer!

Mas não resisto a esta!

P.- ¿Qué quere decir labrego? 
R.- Home acabadiño de traballos, caste de besta de carga na que tanguen a rabear os que gobernan, ser a quen fan pagar cédula como as persoas pra tratalo como aos cás, que leva faltriqueira no traxe por fantesía, boca na cara por bulra, que anda de arrastro como as cobras, que fura na terra como as toupeiras, que traballa moito e come pouco, que á somellanza dos burros de arrieiro que levan o viño e beben a auga, precuran o trigo pra comer o millo, que anda langraneando por unha peseta sin poder nunca xuntala, e que ven ser considerado polos seus somenllantes como un ninguén que a todo chamar chámanlle Xan Paisano."
  
Para enriquecer mais o texto transcrevo a descrição de Manuel Maria Teixeiro

O Labrego
Un labrego tan só é unha cousa
que case non repousa.

Da sementeira a seitura,
pasando pela cava,
a súa vida é moi dura
e moi escrava.

Sempre trafegando,
arando,
sachando,
malhando,
gadanhando,
percurando o gando.

Sempre a olhar pró ceo
com medo e com receo.
Sempre a sementar ilusión
ponhendo na semente o corazón
pra colheitar probeza e mais tristura.

Dilhe ao labrego da beleza
da campía,
da súa fermosura
e poesia.

Dírache que sí,
que a beleza pra tí.

Pró labrego é o trabalho
o andar tocado do caralho,
o pan mouro i o toucinho.

(Múdanse de calzado ou de traxe
cando van de viaxe,
de feira ou de romaxe
e xantan, eses días, pulpo e vinho);
os eidos ciscados, minifundiados
que quér decir atomizados);
o matarse sachar de sol a sol
pra lograr seis patacas
com furacas,
catro grãos de centeo i unha col;
o dobregarse sobor dos sucos
pra pagar gabelas e trabucos;
o vivir entre esterco i animales
en chouzas case inhabitabeles.

I aguantar, aguanta e aguantar,
Agardando morrer pra descansar



(Galiza minha Galiza, digo eu!)

Barros Lopes

( Isto da cultura tem que ser assumido de outra forma!)